quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Hora do Almoço


O elevador leva-me ao AC, entrando fico sem vontade de nada fazer.
O almoço está meio preparado, são bifinhos de peru criado na quinta, é só grelhar e fazer uma salada. A sopa é só aquecer feita na véspera com legumes até dizer chega, tudo raladinho num consomê, que garante uma boa alimentação.
Mas porra, estou sem vontade de ir para a cozinha, estou sem pachorra para fogões e aventais que evitam as pingas de gordura.
Estou só, os putos ficaram pela cantina escolar, no meio dos amigos e como tal vou almoçar aqui nas redondezas junto com a jovem e assim evito de sujar a cozinha e de aturar os nossos políticos na lengalenga diária do voltar atrás nas medidas extraordinárias, que foram anunciadas no inicio do ano, numa campanha de charme patético já que agora foram secamente retiradas do consciente dos portugueses, apesar de nem terem sido implementadas.
Como as medidas de austeridade parecem não ter fim à vista, com os políticos um, a cada dia, apresentarem-se num arreguilar de olhos com mais uma medida que vai encurtar a vida, a quem já a leva presa por um fio. Deixei de assistir às notícias para não me estragarem o almoço e não alongarem-me a tarde já de si difícil de ultrapassar.
E por isso fujo para bem longe procurando a reconversão que me dê o passaporte da emancipação num aglomerar de dias que irão ser custosos mas com a certeza de no final o esforço ser recompensado.
Enquanto pensava em fazer isto para o resto do meu dia, dei de caras com o almoço pronto, numa mesa para dois com a ementa pré programada concretizada.
Lá estavam os bifinhos de peru panados. A alface fresca da horta do pai do vizinho. O vinho tinto maduro do Cartaxo e a sopinha a encher meio prato, para tentar comer tudo porque, a vida está cara e é pecado deitar comidinha fora com tanta gente a passar fome.
A chave soa num abrir a porta habitual e depois de um beijo a salivar ternura, toca a dar ao dente, por entre conversa banal rápida, porque o tempo é escasso e o dia ainda está a meio.
Café no fininho é a saga diária. Sempre quente, porque é assim que me satisfaz e um para cada lado depois de mais um beijo a salivar ternura lá vamos á nossa vidinha.

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