O calor era sufocante, numa noite a
ameaçar chuva.
Ao longe os raios coloriam o espaço,
prometendo aproximar-se como as horas a afastar-se.
Sexta-feira de Agosto, carregada de
nostalgia. Eu, tão longe de um consolo e bem perto de recentes momentos.
Quando caminho, transporto pensamentos
que se esfumaçam com o matraquear de vozes ao redor de meia dúzia de línguas.
Que me entravam no querer em dizer algo que sei ninguém entender.
Ainda bem, porque assim deixam-me a
gozar o momento, numa noite que por fim liberta a chuva há muito tempo
prometida.
A chuva expulsa o pó pousado na
calçada rodeada de lojas de roupa feita onde o sol nasce e debaixo de toldos
encarnados, saboreio uma duna atulhada de legumes curtindo os alemães fartos de
piercings e tatuagens que cobrem corpos enormes, onde um braço apertava-me num
sufoco sem hipótese de resistência.
Aproveito uma trégua da chuva e em pé
apressado regresso a casa, cansado do nada encontrar, porque todos os sorrisos
são forçados. Numa noite igual a tantas outras, onde tentar fugir ao consumismo
é um esforço inglório, já que todos trabalham em prol dos euros dourados.
Vou às compras para ter o prazer de
preparar um almoço como o recente.
É este o prazer de momento. Para não
me refugiar na dureza que aparento, mas de uma fragilidade por vezes evidente.
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