Já lá vão muitas luas, encontrei uma flor tão
linda como o sol.
Aquele sol, que rasga as nuvens negras
teimosas em fazer prevalecer a sua vontade, trazendo a Primavera tão aguardada,
depois de um interminável Inverno.
Contei-lhe as pétalas, dez como os dedos das mãos.
Arranquei logo a primeira para a colar aos lábios.
Era o aroma de um sorriso tão natural que abriu
de par em par, as minhas entranhas encerradas dias a fio, já não acreditando em
saborear maravilhoso sorriso.
De seguida saquei a segunda, um olhar meiguinho
como se tratasse de um bebé tão querido.
Assim permaneci, embebido nesse encantador
aroma libertado pelas primeiras pétalas de uma flor que encantou o meu pobre
jardim.
Dias depois libertei a terceira!
Descobri a ansiedade em oferecer amor. Que beleza
de toque. Que doçura em partilhar as emoções. Que entrega em repartir o prazer,
por vezes infinito.
O tempo passou e nós embrulhados na terceira,
que se colou aos nossos corpos, deixávamos correr os dias como se nada mais
tivesse valor
A quarta, soltou-se com as vicissitudes da
vida.
Partilhamos as ansiedades, as preocupações e
os projectos de um futuro que era tão só, logo ao raiar da alvorada.
A quinta. Foi a dolorosa. Continuou-nos a
afastar, um cá dentro, outro bem fora. E a viver intensamente cada regresso tão
ansiado.
A sexta trouxe as suspeitas que dia-a-dia
aumentava na mente de quem esperava, por ter as certezas bem certas, não se
importando em cometer piáculo, para aliviar a vingança.
Mas a terceira permanecia no trono onde
habita o coração e daí soltava-se uma imensidão de paixão.
A sétima. Quebrou-se com o tempo e ao
encurtarmos o tempo de afastamento, aliviamos as malditas interrogações em permanecermos
tão juntos como a casa e o botão.
Os longos meses bem unidos trouxeram a oitava
que se soltou como uma lança, enfiando-se bem no fundo da alma.
Estávamos tão unidos em corpo que eles se
encarregavam de falar por nós e guiar-nos nas catacumbas da intensidade do
nosso amor.
A nona. Veio salpicada de nódoas negras.
Eram fantasmas ao virar da esquina. Eram pinóquias
de nariz tão comprido que invadiam a mente já insegura para fazer jus, ao que
essa mesma mente produzia.
A décima ainda tilinta no assombro do que era
uma flor tão bela como o sol.
Ainda guardo cada pétala em papel vegetal
para perdurar no tempo, como um sinal de maravilhosos momentos.