Vivo bem longe da família e de quem gosto.
Tudo devido às incertezas de um país virado
para fechar as portas a quem paulatinamente subiu os degraus de uma muralha
amorosa, com alicerces tingidos em agradável qualidade de vida e uma âncora irresistível
aos furacões surgindo pelas costas. Pensava eu nos longos anos, familiarizado
com as boas graças.
Com o tempo, acostumei-me ao vai e vem das
malas camufladas atrás das grades de aviões e carrinhas apinhadas. Para
regressar ao lar e voltar, bem no coração da Europa.
Hoje preparo-me para mais uma debanda de mala
às costas para outro país, depois de uns dias em Portugal, onde vou recuperar
forças para mais uma etapa, nesta vida de nómada por países da Europa.
Mas custa abandonar um trabalho resguardado
das intempéries.
Onde todos fomos heróis em aprender rapidamente um ofício
desconhecido e hoje contemplar uma obra que nos enche de orgulho, por
observarmos que tudo demos pela excelência da qualidade que nos era exigido.
Custa deixar uma casa repartida por colegas
onde dia a dia partilhamos brincadeiras, choradeiras, gritarias e segredos. Durante
dezassete meses.
Custa deixar lugares onde já fazíamos parte
da casa. Onde éramos tratados como família e onde também deixamos muito
sustento, que nos apaziguou as saudades tão longe, mas bem perto de um choro de
almofada.
Custa deixar colegas de muitos países, onde a
língua deixou cedo de ser obstáculo, para com um gesto de simples amizade,
criarmos laços de ajuda quando era necessária.
Daqui a uns dias, na acostumada correria, voltarei
a novos colegas. Alguns já conhecidos (o chefe deixou de ser um até já), por
terras onde a música anda de braço dado com o ar que vou respirar. E por entre
terra lavrada para erguer torres de betão, irei dar uma valente mão ao reforço
da construção!
É a adrenalina que me acompanha desde que
deixei forçosamente as mantas do abrigo, nunca antes como destino traçado.
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