sábado, 27 de agosto de 2016

O primeiro dia de Praia




Cheguei à praia ainda todos dormitavam e sentei-me numa cadeira de encosto enterrada na areia, enrolado na toalha porque o frio obrigava ao agasalho.
As gaivotas quebravam o silêncio numa barulheira frenética em volta do saco com restos do lanche do dia anterior. E como não o podiam levar para o resguardo das rochas bem perto, retalhavam-no em bocados com os bicos, autênticas tenazes.
Era um frenesim sem regras!
A família paga a barraca. A área é concessionada e a limpeza tardava.
Enquanto isso, as gaivotas espalhavam comida e restos do plástico pela areia molhada, pela noite chuvosa acompanhada pela trovoada.
Os nadadores salvadores acabados de chegar com as bóias e as pranchas de salvação. Logo acorreram a limpar o local, equipados de luvas brancas afugentando as famintas e barulhentas aves.
 No mar ouvia-se o roncar dos motores anunciando a chegada dos barcos no fim da faina e, a manhã decorreu desagradável e fria, para o meu primeiro dia de praia.
Estava branco como a neve, pintado no corpo que já não fazia praia desde o tempo em que abandonei estas paragens.
Por isso pensei que sem sol e com uma aragem de me esconder dentro dos quatro paus, não iria apanhar qualquer escaldão.
A tarde aqueceu a esperança de um mergulho e numa caminhada para que o tempo passasse, entrei de mansinho com gritos abafados pela água gelada. Mergulhei de encontro à onda que me fendeu o couro cabeludo e deixou-me uns segundos com a sensação de que o ar me escapava.
Voltei aos quatro paus, já com o sector a abarrotar de veraneantes a pedir licença a uma perna para arrastar a outra.
E no meio de histórias tão velhas como o sargaço, que vai e vem, consoante a maré. Caiu a tarde e regressei vermelho como um tomate.
Com o mal feito, untei-me de creme para aliviar o desconforto e passei uma noite a rogar pragas, porque me deixei levar pelo tempo frio e sombrio da praia.

domingo, 21 de agosto de 2016

Numa Semana....




Numa semana deixei de ver o céu e estou a ser empurrado para o inferno!
Domingo. Recebi a notícia que tenho de pagar perto de mil e duzentos euros de IRS (vou matar aquela gente!).
Segunda-feira. As férias que deveriam iniciar-se na quinta-feira, foram esticadas para sexta-feira. Mais um dia, ninguém morreria!
Terça-feira. As férias deveriam ser de três semanas, encurtaram para quinze dias. Que se há-de fazer, o cliente é que manda!
Quarta-feira. Cortaram a luz do apartamento! Um erro de palmatória. Ainda deu para levar para a paródia e deitar cedo, que já não havia memória.
Quinta-feira. Sem luz e, água fria para refrescar a ansiedade das férias que pensamos estarem bem próximas. Passou-se assim a última noite a sonhar de sorriso feito!
Sexta-feira. Ainda sem luz, tudo para o contentor. Mas a certeza de finalmente partir, superava as contrariedades vividas.
Vinte e uma horas, entravamos na França sem medo de terroristas, mas sem contar, que a viatura que nos levou durante quase cinco meses, para o trabalho numa ida e volta de trezentos e noventa quilómetros. Não resistiu e parou num canto da via rápida, já a noite escurecia o céu e a chuva ensopava a pele.
Sábado. Passamos a noite no hotel esperando pelo regresso rapidinho. Por isso fomos ali e logo voltamos. Ainda cientes, que não tardava. Colocar as rodas no asfalto.
Sábado. Podíamos tirar algumas sonecas que só iríamos retomar a marcha pelas três da manhã.
Deu para ainda mandar umas balelas uns aos outros e tentar ir para a cama cedo, porque cedo iríamos partir.
Ainda o domingo não tinha entrado neste recanto francês, lá chegou a notícia de que só pelas nove horas é que desta vez, iríamos deixar este hotel que já aborrecia.
Domingo. Bem cedo nos levantamos para o pequeno- almoço encher o estômago
para uma viagem de dezasseis horas.
O semblante já era de desgaste e poucas palavras eram trocadas.
Mal sabíamos o que nos esperava!
Desta vez a avaria foi em quem nos vinha buscar!
Serão só duas horas e logo arrancamos! Dizem os mais conformados com a adversidade que nos acompanha.
Filhos da puta, chulos, maricas, cornudos…. Berram os desesperados, já não aguentando o telemóvel, sempre a tocar a cada hora, da família ansiosa e por vezes irritante.
Vou colocar o por do sol que me acompanhou por momentos no inicio do dia de sexta-feira, pensando eu, que me oferecia a beleza da certeza de chegar quando eu sabia!
Que mais irá acontecer!!

sábado, 20 de agosto de 2016

Que mais irá Acontecer



Por fim tinha chegado a hora da partida!
O fim da tarde, anunciava o regresso a casa tão ansiado nestes quase cinco meses sem ver o que nos arrasta, para bem longe das nossas casas.
Quatrocentos quilómetros percorridos e lá se foram os sorrisos. Ainda Paris era uma miragem, apesar de estarmos já em França.
A carrinha não aguentou e parou na berma da via rápida.
O pronto-socorro foi mesmo pronto e num agradável convite, ocupamos a instalações da empresa, enquanto esperávamos que o seguro em viagem fizesse a sua parte.
Nada de alarme porque tínhamos todo o tempo do mundo para chegar bem perto do nosso mundo!
Accionados todos os meios necessários. Fomos hospedados num hotel agradável, esperando que a nossa hora chegasse para retomar a marcha triunfante.
O nosso colega Luís incansável, nem parece alentejano, procurou todos os meios para resolver a nossa rápida partida e o avião seria o mais rápido instrumento, para recuperarmos o tempo já perdido.
De novo o impasse e por minha culpa (Cartão de cidadão caducado), ficou sem efeito maravilhosa esperança.
Todos juntos, todos unidos. Acordamos com o pensamento no rápido regresso e enquanto não chegassem boas noticias. Demos uma volta pela zona envolvente do hotel, parando num barzito agradável e no meio de uns bons euros que as raspadinhas ofereceram. Bebemos para apaziguar a ansiedade que em alguns, já era penosamente demonstrada.
Finalmente, vamos partir e a madrugada será aguardada com tanta alegria que já festejamos, ainda a noite não apareceu para nos guiar pelas estradas que parecem não ter o fim que tanto desejamos.

Parabéns Mana





Foste para bem longe de nós, numa partida extremamente dolorosa.
Deixando uma parte de mim, ferida para toda a vida.
Os anos passam e as recordações perpetuam-se na minha lembrança. Hoje, amanhã e até, que todos te apareçam de corpo e alma no paraíso onde habitas. Com vizinhos vestidos de branco imaculado, com quem falas pelos cotovelos. Pedindo-lhes que desçam em direcção a nós, para nos ofereceres a protecção que todos necessitamos.
Hoje é o teu aniversário e sinto bem perto do meu coração, que estás feliz. Principalmente, com as felicitações de quem amas, que te enviam com elevado carinho.
E é maravilhoso ver-te de sorriso estampado, apagando as velas do bolo com as cores do céu.
Parabéns Mana!

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Selim Almofadado





Rumávamos a casa pensando no imenso trânsito que tínhamos mais uma vez que aguentar e, fartos de nos aparecer gajos (ou gajas), com as orelhas furadas e nelas caber um vedante de um tubo de WC.
Com anilhas de vários tamanhos pelas pálpebras e nariz. Não esquecendo os lábios descobertos e encobertos.
Tatuagens a tapar as côdeas incrustadas como mexilhões colados às rochas.
Crânios rapados dos lados, sobressaindo as orelhas enormes e o que restava do cabelo, mesclado com as cores patriotas.
Nisto mesmo em nossa frente, surgiu esta imagem que logo parou o trânsito.
Não era um TIR, que nos bloqueava a passagem.
Nem um bus, parado. Para receber e deixar viajantes.
Era um selim almofadado, com um rabo de esboroar os olhos.
E a vista originou, que pela primeira vez, não ultrapassássemos os trinta!
Deu para animar a malta!