domingo, 30 de abril de 2017

Da porta Envidraçada




Da porta envidraçada da minha cozinha, vejo a montanha coberta pelo sol e as árvores irradiando a sua cor. Numa linha serpenteada, até que a estrada deixe de a namorar, pela última curava, perdendo-a de vista.
As do sopé, verdes da cor da relva que se estende até ao início da estrada. Onde se concentra os poucos vizinhos com as máquinas agrícolas estacionadas e as vacarias até de noite iluminadas. Mais parecendo discotecas coloridas, para que o gado se alimente de noite e de dia. Crescendo num fechar de olhos e não tarda prontos. Para serem carne para os canhões, do nosso estômago.
Uns vinte metros mais acima, o verde fica desmaiado, sofrendo do clima agreste, onde a neve e o vento iniciam, a sua brusca rebeldia.
Outros bons metros mais acima, num acicate acentuado. Já não existe verde, nem vestígios dele.
As poucas árvores que lutam contra a dureza da Natureza são acastanhadas. Perdendo grande parte da beleza das suas manas, que vivem a roçar as suas raízes, mais abaixo.
Ainda mais acima, onde só é possível olhar de cabeça bem erguida. É só rocha embutida!
Longe a longe, observa-se umas árvores tenazmente fazendo pela vida, num cenário rochoso e tenebroso. Nem verdes, nem castanhas. Escuras como o carvão, dado que durante grande parte do ano, são cobertas pela neve e a humidade constante.
No cimo, onde nenhum ser humano ousa pousar os pés para virarem heróis por momentos. Só se vislumbra os picos aguçados da montanha, autênticos projéteis virados para o céu.
E por breves instantes, imagino-me a escalar esta majestosa montanha, pelos minúsculos caminhos, que o degelo ao longo de milhares de anos abriu em direção à base onde milhares de pessoas assomem a imprescindível rotina diária.

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