O vento do Outono despiu as árvores da berma
da via rápida.
Deixou às claras, os ninhos das aves que
escondiam as crias invisíveis aos predadores famintos.
Agora prestes a chegar o Inverno gelado, que
acumula neve por todos os lados, assisto a troncos depenados com pontos negros de
vários tamanhos.
Serão imensos dias frios e sombrios sem aves
à vista, até que a Primavera sorria e force a volta das aves, para embelezar a
berma da via rápida.
Cruzarão as viaturas em voos rasantes na
procura de restos lançados das janelas pelos putos desleixados e logo batem as
asas para abafar as bocas abertas, das crias famintas.
São ninhos tão negros como o Inverno que se
aproxima. Conto os primeiros enquanto a fila intensa me deixa observar que
árvore sim, árvore não. Possui um ninho perfeito como uma mansão.
Desfeita a fila com o roncar dos carros
nervosos de tanta espera. Lá se vai a contagem e só me apercebo de pontos
negros, que parecem desenhar um gráfico com altos e baixos no vidro da minha
janela.
São belos e maravilhosamente arquitectados nos
troncos mais altos das árvores escolhidas pelas aves atrevidas.
Em forma de vê, deixam um pouco de cortina, nas
árvores nuas e feias como o tempo que se aproxima.
Por fim chego à cidade. E as árvores, dão
lugar a troncos volumosos de betão, abafando o negro da noite com as luzes que
iluminam os ninhos dos humanos, resguardados do intenso frio.