quarta-feira, 20 de maio de 2020

Juntamo-nos



Juntamo-nos numa mesa de madeira com vinte metros de rostos conhecidos.
Juntos batalhamos todos os dias e no fim de cada um deles. Levamos para casa a certeza de terminar o que no início, nos foi destinado.
Juntamo-nos, numa mesa de vinte metros com louça descartável e carne bem assada.
Mas a fome era demasiada que numa corrida chegaram dez quilos de porca austríaca já chafurdada, com o molho que dá sede e falar demasiado.
Juntamo-nos numa mesa de vinte metros. Jovens e menos jovens, uriundos de vários países.
A maioria fala o alemão e os restantes o austríaco calão. Nós rimo-nos quando não entendemos e gesticulamos para nos entenderem. Mas somos os melhores, na grande máquina, que mais parece um comboio.
Juntamo-nos numa mesa de vinte metros. Recordam-se momentos dos três anos que já cá estamos.
Chegamos com uma mão à frente e outra atrás e hoje batem-nos palmas pela qualidade das vigas e dos pilares.
Juntamo-nos numa mesa de vinte metros.
Já não é a primeira vez que acontece!
São momentos que ajudam a criar espírito de grupo. E é agradável sentir o relaxe, fora da competibilide produtiva!
Para o ano continuaremos a sentar-nos numa mesa de madeira de mais de vinte metros!




domingo, 17 de maio de 2020

Abriram as Portas



Por fim, tudo praticamente abriu as portas de par em par!
As esplanadas ganharam humanos que não tardaram em pintar as mesas de cores luxuriantes, com o brilho das suas roupas e o tinto dos seus cabelos.
Fui cortar o cabelo.
Mais de três meses que cresceu num ambiente de inquietação viral.
Pente quatro para renovar a esperança e como não sou abonado de gorduras e músculos. Pareço um trinca espinhas ( como me desafiavam de miúdo). Mas pronto para derrubar a ansiedade de ainda tanto tempo faltar, para regressar ao lar!
Foi fantástico ver a cidade surgir engalanada, depois de se fecharem dias a fio num terror, que levou muitas vidas a terminarem a sua alegria.
Voltou de novo o fôlego para vencer todos os desafios.
Voltou de novo, a certeza  que vencemos a pandemia.
Voltou de novo a esperança de regressar a casa num espaço curto.
Voltou, porque sempre voltou. O pão nosso de cada dia. Daqui a umas horas não tarda nada!
Mas a semana é curta, só até quarta! Será brindada com um churrasco nas portas da fábrica.
Estes austríacos são frios! Pouco habituados ao despir da camisola dos portugueses. Mas de vez em quando, arreguilam os dentes e toca a estender a carne no assador!
Estão contentes conosco e nós sabemos que temos o futuro pela frente!

sábado, 9 de maio de 2020

A porta da Cabana


A noite espelha a saudade que sempre fica para trás, quando parto desvairado, para as montanhas sagradas.
Como se não bastasse, o mundo resolveu tossir em uníssono e parte dele engoliu o vírus. Deixando rastos de morte, em corpos escondidos em valas comuns, ou em funerais à porta fechada. Aferrolhando mais ainda, a esperança de poder ver e sentir o espelho da minha alma. Que se iam juntar, na minha cabana.
As montanhas iam presenciar o amor que ia cá repousar uns dias.
E iriam se abrir de par em par. Numa cratera infinita para no fim se fechar e almofadar o amor, que não podia pairar no ar.
Iriam dias depois, embelezar os canteiros calcorreados pelos humanos nas caminhadas relaxadas. De divinais flores, que soltariam o exilir do nosso amor, como o perfume para tonificar o resto das suas vidas.
Iria ser uma romaria de milhares de corações famintos, na procura das divinais flores. Para que os seus corações passassem a exigir um amor que lhes oferecessem a batida maravilhosa para toda a vida.
Do sonho à realidade foi um raio de ansiedade e num dia como já tantos passados aqui. Ele apareceu, batendo na porta da cabana!









Manhã perfeita


A manhã acordou o meu sono profundo, mas a preguiça manteve-se já que o fim de semana batia na porta.
Levantei-me com o dia perfeito.
Uma aragem enviada pelas montanhas, mantinha a manhã tão fresca e até as aves se silenciaram por momentos, para elas mesmas, sentirem o ícone da primavera.
Almoçei na varanda.
A minha varanda. O meu canto dos sonhos proféticos!
Por momentos senti a perfeição percorrer o meu corpo.
A minha visão alcansava a consolação!
Tudo estava como Deus criou.
Tudo estava como a Natureza moldou.
Tudo estava como se encontrava o meu espírito.


domingo, 3 de maio de 2020

Vá para fora bem dentro


O isolamento na fuga ao espírito maligno, obriga-me a procurar o conforto dentro do espaço que é meu!
Reservei a minha varanda, sítio ideal para sentir a paz e o sossego, que isola qualquer interferência maléfica.
Em frente tem a árvore já florida, onde os melros, se juntam e criam a melrada barulhenta, que chilrreiam todo o dia.
Já tenho salsa plantada.
Um ameiro, que arranquei junto ao riacho que procuro a frescura no verão e, incrível, uma varita de oitenta centímetros, já tem rebentos de fazer brilhar os olhos.
O meu retiro.
O meu poiso dos sonhos.
 O meu resguardo, vivendo os momentos e sentindo que os dias passam e o que desejo a vista não tarda, alcansa.
São três anos neste local!
Já dei nomes às montanhas que me rodeiam.
Já me embraio, pela mata e encontro os afluentes que tanto serpenteiam para o rio grande, como os que desaguam na estrada secundária, que me leva a casa.
Os vizinhos acenam na cordialidade habitual.
Tirando isso, o silêncio e o sossego, só é quebrado pela barafunda das aves, na azáfama para alimentar as crias!