domingo, 31 de março de 2019

Dois Anos


Dois anos!!
Aterrei num paraíso florestal. Ainda com vestígios da neve tão perto do meu caminho e ao abrir a porta do meu abrigo, senti a chegada da Primavera para me guiar neste novo país!
Dois anos!
De trabalho árduo.
Primeiro, enjaulado nas trincheiras do cofrado, para dar vida a vigas de resguardo, que modernizaram as inúmeras cidades.
Depois, dobrado em dois como Buda em oração. Para fabricar as pedras que vão suportar os alicerces dos escritórios e apartamentos, onde muitos destinos se decidem.
Dois anos!
A contar os dias, quando abriam-se brechas nas horas calmas das jornadas, para que a hora da partida chegasse e,  fosse abraçar a saudade.
Dois anos!
De tantos fins de semana, que me infiltrava no arvoredo inclinado, que revestiam as enormes montanhas. Que nem mais dois anos chegam, para alcançar o cimo, destes monstros sagrados.
Dois Anos!
Dormindo e sonhando. Falando só, porque na maioria desses dois anos, era só meu, este quarto.
Rodeado de cortinas às flores e edredões com corações.
Neste quadrado de paredes brancas, conquistei o que sempre lutei e hoje, espero pelo dia, para chegar bem perto e saber que tudo fiz. Para agora sentir, o verdadeiro amor.
A loucura da paixão pura e a enorme vontade de viver junto!
E juntando a tudo isto, ver a felicidade exposta nos olhos dos nossos filhos, que nos aceitaram como os amigos que sempre desejaram.
Dois anos!
Quantos mais aguentarei?
Quando cá cheguei, encontrei a Paz que merecia. O reconhecimento que de mim nascia.
Hoje, estou partido entre o conforto de excelente qualidade de vida e longe do que está bem dentro de mim!
Dois anos............

domingo, 24 de março de 2019

Grito



A Primavera entrou de braços bem abertos e já fez nascer as primeiras flores. Que vão cobrir os caminhos,  subindo as enormes montanhas e oferecendo os maiores jardins que quase atingem o azul do céu.
Esse azul,  que desce para passar a mão no sopé desses monstros inacessíveis, oferecendo-lhe os mimos que os aliviam de algum dia, se abrirem em derrocadas terríveis.
O sol está por todo o lado e caminhar pela mata sentido o estalar dos pequeníssimos restos de madeira. Dá uma sensação de caminheiro!
Não faltam riachos quase a pique do degelo.
Uns bons cinquenta metros de água a correr montanha abaixo. Num burburinho que quebra o silêncio deste paraíso!
E vou caminhando, desviando os ramos dos caminhos amassados. Mais dos corsos, que dos humanos que por aqui preferem as ciclovias de perder de vista.
E como estou completamente entregue ao silêncio do espaço que me rodeia, grito!
Grito na mata, para espantar os maus espíritos.
Grito aos peixes.
Grito para quem passa na auto-estrada.
Grito para quem viaja no comboio.
Grito para os vigilantes da pequena barragem.
Grito para os poucos que se cruzam comigo.
Grito para os minúsculos aviões que avisto tão alto quase os perdendo de vista. Para me levarem de volta a casa. Nem que seja para fazer amor de rajada.
Termino de gritar para não assustar os vizinhos, já que estou com um pé na entrada da casa, que fica amparada pelas maravilhosas 
montanhas.

domingo, 17 de março de 2019

Dou


Adoro a minha vida!
Um aeromilhoes de adrenalina, que por vezes me obriga a excessos escusados. Que atenuo com a procura do alívio nas entranhas da floresta que esconde imensos mistérios.
Dou valor ao mais ínfimo pormenor de vida.
Dou a emoção bem empregue, numa beleza que arrepia o meu corpo, quando se cruza enquanto atenuo o esforço.
Sorrio para o brotar de vida, mesmo nas frinchas do betão introduzido, admirando a força necessária, que um simples rebento arranjou num minúsculo espaço, o esvoaçar do seu crescimento.
Olho através da janela de traves em madeira, a oferta em quantidades impensáveis que a Natureza me oferece, sem entraves que a abrace!
E Inspiro toda esta Paz!
Agora que o Inverno se aproxima do fim, ainda as aves não terminaram a migração.
Os insectos ainda não iclodiram dos favos.
E as pessoas teimam em não enfrentarem o que ainda esfria.
Sou o primeiro a ter a primazia, de me sentir a mim próprio!
Grito para que o meu eco se faça ouvir, do outro lado da margem.
Projecto a minha sombra na água límpida do lago, para que os peixes se apercebam que serei brevemente, um corpo bem próximo deles, no seu habitat.
Estilhaço os ramos secos das árvores com os meus passos. Que a neve pesada fez tombar, enquanto caminho no encruzilhado de raízes, que se soltam pela terra que desce a encosta, em direcção à estrada que me vai levar a casa.

sábado, 16 de março de 2019

Hoje ainda é Sábado


O sol rompeu com toda a força e foi um esfregar de mãos, para os donos das esplanadas, já recheadas de turistas de óculos de sol e decotes de consolar as vistinhas.
A neve transformou-se em lençóis de água, que enchem os trilhos de encontro ao grande rio, numa força que faz brilho!
E caminhar com este sol maravilhoso, é como fazer amor com a mulher amada.
Ela está longe, mas sinto-a bem perto, ao meu lado.
Uma hora pela Natureza, farta de árvores caídas pelo peso da neve e, riachos a transbordar pelos lençóis de água em que a neve se transformou.
Outra hora, sentado na esplanada do italiano, bem no centro da grande cidade. Olhando o rio bem perto e saboreando uma cerveja, com os olhos semicerrados, pelo sol que cegava.
E hoje ainda é sábado!

domingo, 10 de março de 2019

Voltei a caminhar


Escolhi hoje o meu caminho!
Num domingo soalheiro, com leves chuviscos pelo meio. Caminhei pelos meus caminhos do sossego e da paz.
Desde o início do ano que o não fazia.
Os nevões desse início do ano, obstruiram terrivelmente a passagem para deitar um pé de fora. E hoje estiquei a perna e fui por ali fora.
A Natureza despida perde a sua beleza!
Mas rapidamente vai recuperar o esplendor de nunca nada perder, e tudo voltar a ser!
A neve teima em esconder os rebentos impacientes de se expandir, criando o verde maravilhoso,  que envolve a Natureza. Mas o tempo dela está a terminar e o sol rapidamente a vai fazer desaparecer.
Caminhava ouvindo música e dançava tirando fotos!
Os que me viam, alguns que também caminhavam.
Outros, pelas janelas do comboio, que bem perto passa.
E os que um metro acima rolam nos seus carros pela auto estrada.
De certeza me acharam louco!
Que me importa isso, só quero expandir o meu estado de espírito!
Por momentos estaquei!
E olhei aquele fio de água que corria tão perfeito pela berma da estrada, ligeiramente descaído, para bem dentro do campo elameado.
É esse o meu caminho, perfeito!
Para disfarçar as ligeiras lombas que se atravessam nele. E que me levam seguindo a longa estrada da vida.
Juntando-se ao rio que já se perde de vista. Levando a minha felicidade e o meu sorriso, boiando nas suas águas puras e límpidas.
Para lá longe, bem longe. Junto às montanhas que lhe escurecem a água com a sua enorme sombra. Deixando-se levar na correnteza brava, pelas fronteiras desbravadas de encontro ao oceano, que me irá levar a matar as saudades, no dorso das suas sucessivas ondas, que amolecem as pisaduras dos tombos.