sábado, 30 de abril de 2011

Que Mundo é Este



Que nos rouba uma vida de alicerces fortes como o betão. Onde a alegria é sinónimo de união. E num abrir e fechar de olhos desmorona-se num autêntico turbilhão.

Que mundo é este!
Que rouba como um ladrão sem escrúpulos os sorrisos apaixonados, os sorrisos carinhosos. Fazendo emergir os olhares duros e distantes, com o dedo apontado em riste, como lança que trespassa o coração e nos empurra para o alcatrão.

Que mundo é este!
Que rouba os simples miminhos dos petizes, já encaminhados para outra realidade, em muitos casos comprados com guloseimas de encher o olho. Entrelaçados no lado materno não deixando duvidas na escolha que preferem.

Que mundo é este!
Que nos perfura até ao interior da alma, a solidão ainda dentro do nosso lar.
A angústia de olhar o futuro sem esperança de um novo rumo.

Que mundo é este!
Mergulhado na corrupção e compadrio. Que compra a honra a quem antes jurava dar a vida por ela. Inundando ainda mais a sociedade de pobreza, invadindo cada vez mais as nossas sarjetas.

Que mundo é este!
Que leva a uma morte lenta, a cada dia que passa, os apanhados nas malhas da desgraça.

Que mundo é este!
Liderado por um Deus, transformado em dezenas de fariseus. Que nos roubam o simples pão para saciar a fome e alimentar o amor, de lares abençoados por esse mesmo Deus.

Que mundo é este!
Traidor. Há maldito mundo!
Que cavas um buraco sem fundo, centímetro a centímetro. Ao mesmo tempo que lanças corpos inanimados ainda com vida, que sucumbem ao peso da escuridão sufocante.
Mas dessas catacumbas, irão emergir os heróis que com a força de vencer. Acordarão dum coma profundo e do zero edificarão um novo destino.

sábado, 23 de abril de 2011

Distancia-se de Mim o Cantinho






Deparo-me com a viela da vida.
Cada vez mais exígua,
forçando-me a tolher a alegria.

Semeio ventos e colho tempestades,
num frenesim desigual que está tão perto a cada dia que desperto.

Não quero ser um estranho,
por entre quem me diz muito, num ambiente fustigado pelo silêncio,
só esperando o gesto final de um desamparo infernal.

Sinto as mãos húmidas e tremulas,
no agarrar da corda que já minga de tal ordem,
deixando um fosso assinalável
que a queda vai deixar mazelas
pelos anos que me darão ainda vida.

Distancia-se de mim o cantinho,
que me agasalhava nas noites frias,
enrolado nos braços que agora se afastam, indiferentes e prepotentes.

Distancia-se de mim o cantinho,
que me dava frescura nas noites longas de verão.
Onde o amor se multiplicava por dez
e nesta hora se funde num corpo sem chama,
procurando o escuro para lá da porta dos fundos.

Distancia-se de mim o cantinho,
onde com mil abraços diários, aumentava os miminhos,
das pérolas que brilham, tamanha a beleza pura
que brota daquelas formosuras

Comemora-se Ano a Ano.........


A Páscoa enche as ruas de flores coloridas e junta as pessoas numa fé tão procurada, nestes momentos de aflita incerteza.
Comemora-se ano a ano. Século a século. E por aí fora, num fim de linha sem fim à vista. Cristo a sofrer atrozes golpes que lhe trespassavam o corpo, oferecendo a sua vida envolvida em amor, ao mesmo tempo que libertava o espírito, que povoa e protege dois mil anos depois, a face da terra.
Todos nós buscamos esse espírito e nesta quadra muito marcante, rezamos e inspiramos o espírito do senhor para nos aliviar as dores físicas e psicológicas que nos invadem diariamente.
Cristo carregou a cruz num caminhar doloroso e impedido ferozmente de um braço amigo, para aliviar o sofrimento.
Nós carregamos a nossa cruz pela vida fora, seja dura como pedra. Seja viscosa como merda.
Temos a cruz que merecemos. Muitos de nós é que escolhemos a madeira em que nos vamos pregar!
Vemos cruzes por todo lado, onde nos encontramos.
Somos impelidos ao sofrimento em situações, onde nada fazemos para o evitar e caminhamos com a cruz às costas, até acordarmos a força interior que derrubará todo esse peso exterior!
Gozemos a Páscoa, no meio dos doces de romaria e abrindo as portas à ressurreição do senhor.
Gozemos a Páscoa, e libertemos a cruz que Cristo carregou.
Aumentando ainda mais a nossa fé, num acreditar que o amor que Jesus tão salpicado de dor nos doou. Seja a força para nos ajudar a suportar a crise que infelizmente os homens, aí homens de pouca fé; transformaram numa cruz bem por baixo dos nossos pés.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Onde iremos Carpir as Lágrimas


Será que temos a noção do que nos aguarda nestes próximos tempos!
As notícias são as piores possíveis agora que a bomba rebentou nas mãos dos portugueses.
Os fragmentos vão deixar sequelas incuráveis em muitos e o remédio para as atenuar é um deambular rotineiro sem rumo, num futuro de subir e descer, a encosta de uma degradação física e psicológica lenta.
A crise social vai arrastar problemas gravíssimos e assistiremos a macabros acontecimentos. Que hoje serão notícia, mas no dia seguinte será o habituar, porque irão suceder uns atrás dos outros.
O desemprego irá acentuar-se.
Os bens essenciais irão aumentar, abrindo mais a boca de espanto e fechando-a numa dolorosa resignação.
O dinheiro que nos vão emprestar pela ajuda de mão estendida, única solução depois de se esconder a realidade num assombro de crueldade. Será uma grossa fatia, exclusivamente canalizado para tapar os buracos das empresas públicas, com milhões acumulados já não havendo cheta para pagar os ordenados a curtíssimo prazo.
Tenta-se deste modo salvar algo que foi construído sem pensar nos anos que agora batem à porta violentamente e logo por pessoas que todos pensávamos capazes em fazer andar sob carris, ou sob asfalto sem lombas, o desenvolvimento do país.
Pessoas irresponsáveis, agarradas ao monopólio dos bolsos cheios. Onde o mais difícil era encontrar um que continha a nota de mais baixo valor e lá vai as malas a abarrotar de bónus para os magníficos gestores, todos escolhidos a dedo, das mãos estendidas de amigos de longa data. Que enchiam a pança de guloseimas açucaradas e azedavam perigosamente as empresas estatais ao ponto de não haver já pecúlio, para abrir as portas a curto prazo.
Mas como não se chama à razão os responsáveis por esta catástrofe chamuscada de corrupção. Eles continuam a dirigir os nossos destinos dentro dos seus partidos, de sorriso de orelha a orelha, com os mesmos a ocupar os primeiros lugares das listas a deputados. Porque sabem que os portugueses sabem, que não à volta a dar e lá estarão: uns a dar a cara, com os outros a guardar-lhes as costas e como se nada fossem com eles, apregoam até perderem a voz. Que são a única esperança de um povo resignado a ser passadeira de passagem a políticos sem engrenagem.

domingo, 10 de abril de 2011

As Cegonhas ainda não Voltaram.



Mas a imperial chaminé, onde as heras já a abraçam, num serpenteado, sem obstáculos de encontro ao cimo. Quando dias antes, o belo par de cegonhas num pouso requintado, vistoriavam as condições para lá construírem o ninho. Continua imponente esperando pacientemente, como até aqui, que as aves regressem e de uma vez por todas, se resolvam a lá deixar descendentes, para se tornar ainda mais majestosa.
Entretanto com a chegada da primavera e com este sol bem quente por sinal. O local que rodeia a velha fábrica transforma-se num verde magnífico.
Os campos em redor agora sem sombra do rasgar a terra com parelhas de bois e arados de pau. Tal o tempo que já lá vai e assim a terra liberta odores por à muito não respirar. Torna-se um canteiro de flores amarelas, que brotam como ervas daninhas por qualquer nesga que encontram.
Até as silvas que ocupam as paredes iniciais da velha estrutura, estão com um verde belo e as heras sobem pelas paredes, criando desenhos caricatos num sobe, sobe em ziguezague minúsculo, saídos da mão da mãe natureza.
No meio das árvores que crescem nas margens do ribeiro, vejo uma senhora que dá liberdade ao cachorro, para umas correrias desenfreadas, enquanto aproveita para espreitar para o que resta da velha fábrica, imaginando o que todos fazemos quando estamos bem perto, pertíssimo, o que seria a laboração desta fábrica, juntinha ao ribeiro, com uma ponte, que muitos anos antes tinha uma comporta onde armazenava a água, tão útil para fazer girar as roldanas da moagem.
Imagino aqueles Invernos intensos, com chuva a cair dias e dias, enchendo o ribeiro que galgava as margens e acredito, inundava tudo em redor escondendo os fundos da velha fabrica e cobrindo a ponte e os campos em redor.
A fábrica existe há mais de dois séculos e ninguém nas redondezas se lembra de ela laborar, portanto não há histórias para contar, o que adensa o mistério, enquanto se mantiver hirta e firme, num postal ilustrado para quem, passa bem ao lado.
O interior já ruiu com as rajadas do tempo. Mas o mesmo tempo, não é capaz de estilhaçar o que resta de um edifício, que guarda o suor de homens que viveram numa época já tão longínqua, que não deixaram descendentes perto do grande quadrado sem tecto (a velha fábrica), para contar as histórias e assim permanecem incrustadas para sempre nas frinchas já bem visíveis que dão abrigo às lagartixas, sempre prontas a saltar cá para fora, nuns banhos de sol que é a fonte da sua sobrevivência.

sábado, 9 de abril de 2011

Com Tempo para Nada



Nascemos com o destino traçado logo que piscamos um olho, dentro da intimidade de uma mãe, que carrega nove meses o peso de um ser que irá enfrentar uma vida já traçada pelo destino.
Esse fio condutor (destino), guia-nos passo a passo, lançando a energia já programada com a intensidade das nossas investidas.
Será que o destino tem em mente as vicissitudes da vida?
Ou tudo sabe de antemão e já lançou desde o nascimento, os genes para suplantar, ou não, os altos e baixos de um caminho tão longo quando é ferido de labirintos sem saída, deixando-nos a caminhar tempos infinitos em vários sentidos mas, com o mesmo fim: a falta de uma porta de saída.
Ou por outro lado acessível, quando temos pela frente desafios ultrapassáveis, já que enchemos o ego de conhecimentos para tal. E acompanhados pelo suporte materno que pode ser extensível ao longo da vida. Enchemos uma mão cheia de oportunidades e outra de as agarrar.
De facto esta vida é feita de agarrar as oportunidades!
O destino, destina, um sem número delas!
Claro que para uns não faltam oportunidades, para alcançar determinados objectivos. Se uma não for a verdadeira vocação de um sonho já em embrião, quando nascemos, para respirar o ar que nos dá vida. Logo surge outra, atrás de outras e por fim o almejado conforto, elevando-nos na rotina diária de uma vida confortável.
Para outros, sujeitam-se a acertar na primeira que surge, ainda sem estudo prévio e toca a agarrá-la para dar o pão-nosso de cada dia, a bocas que necessitam de alimento, mas que teria de ser dado por quem de direito.
Assim se constrói o futuro de alguém, agarrado desde garoto ao que lhes foi destinado e num longo par de anos, tudo se resumiu a uma vida agradável, com tempo: para amar quem foi escolhida para construir o ninho da multiplicação.
Com tempo para acreditar que vivendo para dentro da intimidade familiar, alicerçada numa segurança profissional que ostentava indícios de dar luz até ao descanso merecido.
Com tempo para respirar a normalidade do dia nascer. Fazendo chuva ou calor para bronzear. Sendo correcto nas acções e sincero nas decisões.
Com tempo para nada!
O destino tão encoberto no deixa andar, que logo, despontou num brotar rudemente, abrindo o leque não para refrescar. Mas abanando, num assinalar o sem grandes opções, porque elas já estavam tomadas ainda o primeiro choro, não dava sinais de nascer.
E hoje o caminho é o recomeçar do zero. Porque tudo se vai no esgoto da cínica ambição dos poderosos, que nos governam a seu belo prazer.
Fecha-se uma porta, abre-se uma janela e a aragem entra sempre com alívio para as nossas mentes.

domingo, 3 de abril de 2011

Dar um tempo já nao Basta



Os anos correram como a água dos rios, onde no inicio o pecúlio era frágil, com uma mão repleta de sonhos e outra a transbordar de desafios, já que a herança era zero e o olhar em frente, transformava cada dia num manancial de conquistas.
Somos acusados de não prepararmos atempadamente este ciclo. Já que o tempo das vacas gordas é demasiado curto, para ficar na história, recheada de pastos secos e vacas magras.
E quando assim é, o muro do resguardo é derrubado como se de Berlim se tratasse e abrem-se os rombos para numa espécie de convite envenenado, regressarmos às origens, num começo do zero, já com a barba esbranquiçada e as rugas tatuadas.
Estamos num tempo para os mais capazes!
Como, pouco interessa!
Porque a selva é densa e os perigos são constantes.
Derruba-se uns, dizima-se outros. E lá estão dúzia e meia de conquistadores, de troféu na mão vangloriando-se dos feitos granjeados, pouco importando os métodos, já que em plena selva as armas nunca são limpas.
Para os restantes, a desesperada procura de soluções ainda pouco claras no que anseiam, mordem os calcanhares repetidamente, dadas as poucas saídas que se deslumbram. Depois de levarem um valente murro no estômago que os obrigou a deitar cá para fora o eco da dor, quando devia ser a despensa do alimento diário, armazenado para as bocas daqueles que ainda se encontram desprotegidos.