segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Saudade do Beijo



Deixei de beijar!
A distância roubou-me o intenso sabor de sentir o beijo.
O beijo que acompanhava as idas e vindas, do pão nosso de cada dia.
Aquele beijo carnudo que me arrepia a alma e abre-me o corpo em mil chagas, soltando fluidos intensos de um amor que não conhece barreiras.
Aquele beijo que descia pela garganta desprotegida, indo ao encontro dos teus seios, para os beijar mil vezes. Guiados, pelos teus incontidos gemidos.
Aquele beijo de língua, que emergia a excitação sem amarras e guiava-me para dentro de ti.
Aqueles beijos que já não eram beijos. Eram lábios colados e língua afiada, na pureza do teu baú, que guarda as recordações de uma vida. Fazendo despertar orgasmos intensos, quando por uma frincha se destapa o prazer divino.
Aquele beijo de agradecimento, pelo amor que brotou bem de dentro, satisfazendo os corações com o mesmo batimento, já que estão ligados umbilicalmente.





sábado, 27 de outubro de 2012

O Céu soltou o lençol Branco



Ontem o céu cobriu-se de aves, que partiam em direcção a climas mais quentes, deixando um rasto de sons, que me obrigavam a olhar ainda mais acima de onde estava e apreciar longos bandos de gansos, de patos bravos, rumo ao destino por eles escolhido.
 Voavam em vê, como a dizer: deseja-me boa viagem. Mas aqueles sons que em uníssono lançavam, afinal eram um aviso que eu só no dia seguinte, bem pela manhã entendi.
E ainda a noite agasalhava a maioria dos habitantes cá do burgo, já eu rumava na direcção que me trouxe cá.
Quilómetros rolados e a noite toma um colorido que me faz despertar de um salto.
Ela ali estava!
Branca, branquinha. Enfeitando o arvoredo e dando um pouco de luz à noite, ainda dorminhoca.
Caía certinha, desenhando formas que cada um de nós lhe dava a imagem pretendida enquanto a escova malvada mas necessária, a varria carrinha fora.
Finalmente chegados e com o dia a nascer, é que presenciamos verdadeiramente o manto branco, que a noite tratou silenciosamente de estender.
Neste momento é que compreendi a mensagem das aves que na véspera voavam sobre mim. Mas já não fui muito a tempo de me agasalhar convenientemente para enfrentar algumas horas de árdua tarefa, que diariamente agarro com as duas mãos e varias partes do corpo.
Um grau negativo, era o indicativo para ter a certeza que a neve iria-me acompanhar, até que o responsável máximo nos mandasse de volta a casa, para o quentinho do apartamento, onde me encontro, como se estivesse numa esplanada.
Uma hora passou e ela caía pelos ombros abaixo, depois de esbarrar no capacete e deslizar, por onde entendesse, sem eu ligar grande importância.
Duas horas, já deixavam marcas e o frio era rei e senhor, deste corpo sem grandes defesas, depois de uma semana bem durinha.
Um café quentinho, numa pausa saborosa deu outro animo para recomeçar o que já estava a dar pouco gozo e como sem trabalho não à pão, toca a dar ao pé e levar com a neve onde ela entendesse que devia entrar.
Quatro horas bastaram para que todos entendessem que era hora de regressar para o quentinho.
Os pés estavam frios e se não fosse o constante movimento que exercia sobre eles para não encostar os dedos uns aos outros e parecerem umas patas, já que as botas estavam húmidas demais para os agasalhar.
As mãos coitadas, com as luvas húmidas, mais valiam estar a céu aberto e assim foi uma boa parte destas horas, que me incharam os dedos e nem consegui tirar o dinheiro para pagar o kebab, que ao sábado já faz parte da ementa.
Que estranha experiência!
Só conhecia a neve de prazer. Onde as brincadeiras com os putos eram a alegria de umas horas alegremente passadas.
Agora, nevar e trabalhar no duro, é o começo do que me espera.
E como já contam os mais velhos, hoje fartaram-se de contar histórias. Quando chegarem os cinco, seis, dez, doze…. graus negativos. Lá se vão os dedos tão preciosos, do que me dá força para trabalhar e para caminhar atrás deste objectivo.
A neve que cubra o meu caminho de um branco imaculado. Que eu prometo que a salpico com as marcas dos meus passos, rumo ao calor de muitos abraços, que já esteve muito mais longe.    

  

domingo, 21 de outubro de 2012

O Sol Acompanha-me



A tarde está cheia de sol num país que já se revestia de mantas quentes para receber o inverno.
O sol é o esplendor da vida!
Depois de uma semana dura mais psicológica do que física, nada melhor que espalmar este corpo no relvado verdejante do lago enorme a abarrotar de famílias inteiras, admiradas com este sol, que aquece o mais frio dos corações.
O tempo passa nestas andanças por cá e como a rotina já balança na minha mente, o importante agora é assimilar os conhecimentos para não se cometer os erros que já não são tao tolerantes.
As notícias, vindas do país que me viu nascer e me fez fugir dele, dado que virou as costas à maioria da população. Não são nada abonatórias, bem pelo contrário o que me revolta imenso e me deixa com um rancor aos políticos desprezíveis que governam (e governaram) o nosso belo país cheio de sol, praias maravilhosas e montanhas tao alegremente escaladas.
Enquanto isso vou andando pelo meio dos calmeirões e calmeironas alemãs. Que nos vêm como os desgraçados que trabalham para eles, mas que no fundo, até são boas pessoas.
Ontem por causa desta língua ingrata, difícil como o raio, ia metendo o pé na poça e lá se ia um punhado de euros, tao difíceis de ganhar.
Divertia-me depois da semana e também para afugentar as saudades.
O bar estava cheio!
Mulheres para todos os gostos sem complexos e até um pouco espampanantes para uma mentalidade ainda a adaptar-se a novos costumes.
 Uma estava de calções de couro e um top de couro. Alta, como são a maioria das alemãs, Cabelo loiro pintado curtíssimo e branca dos pés á cabeça. Dentro daquelas miseres tangas de couro.
Divorciadas e agarradas umas às outras deixando suspeitas, que ao longo da noite se confirmaram.
Outras, deixam o marido em casa amparados por grades de cervejas e vão curtir a noite ao bar próximo que encontram.
Outras mais, com os namorados e na pista a roçar o corpo em quem lhes agrada e não se passa nada.
Mentalidades, mentalidades!
 A dada altura o DJ, estava a leiloar uma bandeja de taças de champagne e eu não sabia porque nada entendia e via gente a levantar o braço e pensava que era para dar mais emoção na pista (estamos fora do nosso meio e seja o que Deus quiser).
Então levantei o braço ao mesmo tempo que pedia ao meu colega que traduzisse ele sabe bem alemão, foi a minha sorte!
Nisto o DJ, aponta para mim e logo o meu colega diz: pára pá, atenção que estás a leiloar o champagne e já vai nos 30 euros!
Eu logo fiz sinal ao DJ, que não e ele compreendeu (foi a minha sorte) e alguém rematou aquilo, quem tinha licitado antes de mim.
São histórias que se vão acumulando enquanto eu sinto a arte a entrar no corpo. E a distância em estar com quem mais quero, a diminuir a cada semana que se risca no calendário cá do sítio. Cheio de anotações, que mais se assemelha a uns enormes sarrabiscos feitos pelas crianças das nossas creches.


domingo, 14 de outubro de 2012

Saudades.....



A manhã nasce fresca como uma alface e como sabe bem repousar para recuperar do esforço despendido numa semana sem tréguas.
Sinto saudades!
Saudades de assistir aos jogos do pequenote e vê-lo, leve levezinho. Correndo para o cesto e zás. A bola rolando no aro e escorregando pela rede e dois, quatro….. dez! Lindo aquele menino, fazendo cestos como se nada fosse e eu, pai todo babado, saltando alegre nas bancadas, emocionado como uma criança.
Saudades de o abraçar e de lhe morder o nariz carinhosamente, um tique que marcava as nossas brincadeiras acabando por rolarmos no chão felizes e cansados de: ele esconder o nariz e eu a todo custo apanhá-lo e pumba, mordidela pela certa!
Saudades da filhota já uma mulher.
Bela e elegante quanto baste. Numa idade ainda pura, mas já deixando a criança para trás.
Necessitando de amar e de ser amada. Mas relutante na escolha do príncipe encantado.
Esforçada nos estudos e muito despachada nas respostas, quase adivinhando o que lhe perguntam, já que a resposta está sempre na ponta da língua.
Ultimamente um pouco fugida do meu carinho, talvez sentindo a pressão da minha instabilidade profissional.
Saudades do mais velho!
Homem feito de barba rija. Um pouco metido consigo próprio, escolhendo o seu canto e com ele criando o seu mundo à sua medida e feitio.
Muito parecido comigo quando tinha a sua idade por isso entendo muito bem o que ele procura. Tanto no aspecto profissional, como claro está, no sentimental.
Não dá problemas. Afasta-os para não virem direito a nós pais e é sempre de realçar neste mundo carregado de perigos ao virar de qualquer esquina.
Atingiu o ponto do rebuçado, ou seja o final do seu curso superior e agora doutor, só espero que deite os corninhos de fora e faça-se à vida, pondo em prática a sabedoria angariada ao longo destes anos.
Tenho saudades de quem amo!
Ainda era um jovem, quando a vi e disse para mim próprio, que iria ser a mulher da minha vida.
Corri para a apanhar e apertá-la contra o meu peito, com os meus braços fazendo de escudo para não mais sair do meu pé.
Hoje caminhamos juntos ao longo de anos que fizeram nascer um jardim sem fim. Com rosas perfeitas, salpicadas de finíssimos fios de ouro. Que queimavam as ervas daninhas que teimavam brotar nos cantos de difícil acesso.
Agora estamos longe um do outro. Mas como a distancia só afugenta os desprovidos de amor. O meu coração de tanto bater ao recordar os maravilhosos momentos que já passamos, de um salto está junto ao dela e entrelaçados bombeiam a paixão que ainda brota do nosso jardim.