domingo, 29 de agosto de 2010

As Estrelas que estão por cima das nossas Cabeças




A noite estava agradável numa esplanada turística de bairro com meia dúzia de imigrantes a queimar os últimos cartuchos, de uma pólvora já seca porque o dinheiro deixou de pesar no saco, vindo cheio no inicio onde tudo se comprava, para impressionar quem estava por perto.
Olho o céu estrelado anunciando outro dia de calor, para quem vai dar os últimos mergulhos e os finais churrascos, antes de voltar ao trabalhinho que está à porta, logo que o fim-de-semana finde.
As estrelas são infinitas, como os grãos de areia.
Umas perto, que dá para apontar a sua luz tão intensa. Outras bem longe em pontos pequeninos que parecem sinais minúsculos que estão agarrados ao nosso corpo.
Concentro-me numa área de estrelas de vários tamanhos. E tento descortinar figuras possíveis ao ligar algumas delas.
Descubro rostos enormes com olhos em estrelas sobrepostas. Possuem nariz batatudo desenhado por mais de uma dezena de estrelas. E depois de bem apreciado alegro-me do seu ar divertido.
Outras formas são postas a descoberto. Umas incompreensíveis, basta eu dar-lhe um significado, que tanto pode ser um objecto, como um animal mesmo de três patas. Outras nem tanto: são sombras brilhantes que quanto mais olho mais elas me dão a sensação de se deslocar e lá se vai a concentração em descobrir o que ali mora.
E empurro-as para as formas que os pintores exprimem aos seus quadros, onde só os entendidos descrevem o significado. Fugindo esse dom ao comuns dos mortais.
Alto lá que esta é familiar!
Arregalo os olhos! Sim é familiar. É a nave do caminho das estrelas.
Ela ali está no meio do fim para que foi criada. Desenhada por estrelas, desbravando o caminho por entre milhões de estrelas, umas quase as apanho com as mãos. Outras tão longe, mas tão longe, que levava a minha vida inteira a lá chegar.
Leva dentro aqueles heróis que nos pregavam ao ecrã, numa juventude de fazer inveja aos jovens de hoje.
E lá caminha na sua façanha para descobrir outros mundos e novas estrelas, que de tão longe, escapam-nos á vista e à infelicidade de as admirarmos.
Cada estrela tem um significado. Dentro de cada uma existe um sonho para ser tornado real.
São tantos e tantos sonhos para se abrirem como um ovo kinder, e depois de libertados serão de quem os escolheu para os envolver num imenso mar de luz que brilhará continuamente e iluminará os caminhos entretanto por eles escolhidos.
Os sonhos são fáceis de serem apanhados. Mas as estrelas, embora milhões e milhões delas parecendo à mão de semear, são impossíveis de serem abertas e como tal deixem-me sonhar, porque sonhar faz bem ao ego.

sábado, 28 de agosto de 2010

A Luta pela Sobrevivência que está tão Longe



O dia de trabalho era a rotina normal bem no fundo da terra e tão longe do céu!
Nisto o fundo negro e feio como o diabo, fecha-se ainda mais e soterra vivos trinta e três homens num abrir e fechar de olhos.
Os dias passam e ninguém sabe nada deles!
Todos os dão como perdidos, já que não existem meios de os ir buscar. E sinal deles nem um simples gemido.
As famílias rezam a todos os santos e como a esperança é sempre a ultima a morrer, os homens continuam vivos para todos eles.
Os dias passam e dos homens nada!
Até que o milagre acontece. O milagre não! O primeiro milagre!
O primeiro milagre foi descobrir que afinal para alegria de um país e para o mundo logo a seguir, os homens estão vivos! Bem no fundo da imaginação de todos nós, presos a quatro paredes de rochas.
O mundo fica estupefacto, com a bravura destes homens habituados à dureza da vida e da terra que agora os quer engolir para sempre.
Mas o primeiro milagre não é sinónimo de alegria suprema, irá ser preciso um segundo milagre mais valioso do que o primeiro.
Será o milagre da ressurreição de quem está enterrado vivo!
Sinto que tudo se irá fazer para trazer cá para o conforto das famílias estes homens que estão enterrados vivos!
E mais cedo que agora se anuncia.
Como o ser humano é capaz resistir às profundezas da terra, também o mesmo ser humano conseguirá soluções para os içar para a visão real do azul do céu.
Logo que isso aconteça muitas histórias impressionantes irão ser libertadas daquelas bocas que espantarão o mundo na luta pela sobrevivência.
Eles são fantásticos! Deram a conhecer ao mundo como vivem neste lar que era de pausa por umas horas enquanto não regressavam à superfície e de uma rajada virou ninho negro como o carvão.
Estão preparados para a longa espera, rezo para que esse espírito se mantenha até que a luz cá de cima entre naquele buraco e os abrace docemente trazendo-os aconchegados, numa emoção sem limites para continuarem a viver junto das suas famílias.
Nós milhões e milhões que cá estamos, admirando a vida que neste momento lá bem em baixo é um negro de ansiedade, enviamos sem cessar energias que derrubam a rocha enorme de setecentos metros e continuamente iremos alimentar as mentes daqueles bravos homens para os engordar, dando forças para eles tudo aguentarem.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Bem bom está a Terminar



O mês de Agosto entra na recta final de uns voltarem das férias longamente aguardadas e outros preparam-se para partir rumo à sua vida fora do país, onde materializam o sonho de ganharem para amealhar o futuro.
É por estas e outras mais situações, que o mês de Agosto simboliza a união de um país.
Junta as famílias de gerações já distantes, onde os bisnetos simbolizam a emigração iniciada nos longínquos anos sessenta, que levaram milhares e milhares de portugueses para o coração da Europa, na busca do futuro, que passou para os filhos e continua na descendência sem fim.
Junta a alegria e enche de vida as aldeias paradas no tempo, durante longos onze meses, povoadas por meia dúzia de avós e avôs. Que esperam ansiosamente pelos filhos a viverem bem longe, chegarem em Agosto, com as belas viaturas, a abarrotar de saudades por entre netos e já bisnetos que seguem os progenitores, numas férias cíclicas que dão colorido ao interior deste país.
As janelas abrem-se de par em par das belas habitações e ganham de novo vida com a agitação dos agora regressados. Renovam a beleza dos jardins numa visão de mil cores e fazem das festas e romarias o ponto alto do sentir as raízes, porque é lá que encontram a infância e a adolescência, nos abraços e nas conversas dos amigos há muito tempo não vistos.
Junta o país num frenesim ambulante.
Aumenta o parque automóvel de um dia para o outro que dá a sensação não existir espaço nas nossas estradas para todos os veículos. E com isso crescem os acidentes e choram-se as mazelas muitas das quais para toda a vida.
Aumenta a população num mês com as cidades a palrear outras línguas através de imigrantes que vêem para cá matar as saudades, mas trazem o dialecto confuso do falar a língua do país que os acolhe, sendo já motivo de risota devido aos avec’s assumidos.
Temos também os turistas que infelizmente fogem devido aos incêndios, que devastam o paraíso de quem quer admirar a natureza pura.
Junta o futebol caseiro e o internacional, em momentos de adrenalina saltitante com surpresas para alegria de uns levando-os aos pícaros do sonho. E tristeza de outros que apostavam na continuidade dos êxitos, mas a realidade é o amargo de boca já com direito a desacreditar.
Agosto o tal mês das férias, do sol, do calor. Da paixão sobre a brisa do mar e do relaxar devido aos horários se esfumar.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Roberto esse Herói da pequenada e não Só!



Roberto chegou de um salto, da vizinha Espanha para ser o complemento máximo de uma equipa, saída de vencer um título e como tal orgulhosa das insígnias que passou a ostentar.
Roberto custou os olhos da cara aos benfiquistas que mensalmente pagam as suas cotas e deixou todo o país de boca aberta, pelo valor do seu passe.
Oito milhões e meio de euros, por um guarda-redes, que estava emprestado a um clube de Espanha, lutando para não cair na divisão inferior, era muito esquisito para os apaixonados pelo mundo da bola entender.
É esperar para ver, pensei eu e todos os portugueses que já ansiavam por ver a bola a rolar nos jogos de preparação que não tardavam.
Roberto entrou logo de estaca na equipa encarnada e o seu equipamento amarelo, parecia indicar que algo não batia certo.
E logo se percebeu o que não batia mesmo certo! A cor amarela era a cor dos frangos e no primeiro jogo Roberto deu vida a esse personagem que no churrasco dá fome só pelo cheirinho.
Alto todos dissemos!
Deixem o Roberto adaptar-se ao novo clube e logo, logo. Roberto será Roberto e o cheiro a franguinho será uma utopia.
Os jogos de preparação, deram lugar aos jogos a doer e aí é que se iria avaliar as capacidades de Roberto que já o estavam a apelidar de Roberta Balizeira.
Mais uma vez a fatiota amarela deixava mau prenuncio!
Roberto vira frangueiro ainda pior que os do churrasquinho.
Ele entra em campo bem limpinho e perfumado e sai de lá com penas e tudo.
Bate as asas para voar e chega antes de a bola lá chegar e só tem olhos para a ver afundar nas redes que o vão assar vivo.
Mas Roberto tem valor e hoje está a justificar os oito milhões e meio de euros.
Como dizem todos vocês?
Só o meu filhote tem a caixa do correio saturada de mensagens do Roberto nas mais variadas posições que a ave franganita se posiciona.
É empoleirado na trave onde deixou a bola bater depois do encandeamento vindo das luzes da torre do estádio (só pode existir esta explicação, porque o homem é apóstolo de Jesus).
É num salto para apanhar o milho vindo de um cruzamento da direita adversária, tão aterrorizado que lá se vai o milho pela linha final, salvando-se o golo e o calvário do Roberto bem mais cedo.
É mais um cruzamento e deixa-se galar por um careca vindo não sabe de onde, que o fode e lhe enfia o primeiro golo.
Na outra baliza o colega não de amarelo mas de preto, entra com tudo e afasta o milho para o galinheiro Robertino que momentos depois dava lugar a mais um franguinho.
E pronto milho sobrevoando a grande – área, alguém o oferece ao Roberto para o lançar borda fora já que tem o papo cheio de tantos lançamentos milhais, mas Roberta Balizeira resolve brindar quem lhe tanto encheu o papo e pumba alegria fora do galinheiro e desespero bem dentro do mesmo.
Zero pontos e um enorme frangueiro, já denominado Roberta Balizeira, atiram a confusão para o balneário autêntico charco de rezas. Onde Jesus profeta, rei e senhor da bicharada está sujeito a chocar a ninhada Roberta Balizeira, sabendo todos nós que vem a caminho pintos da costa.

domingo, 22 de agosto de 2010

A Zaragata de violentos Socos



Caminhava eu para casa ainda mal tinha digerido o almoço, depois do café víciante, quando me apercebo de uma agitação uns metros à frente.
Dois jovens, abraçados um ao outro!
Não num gesto de amizade. Mas num gesto de pura de violência!
Uns arbustos, era a arena onde eles descarregavam toda a raiva.
Prontamente lá cheguei e conhecendo um deles, tentei que terminassem com aquela cena de pugilato, que já empurrava muita gente para as varandas e passeios numa de assistir ao espectáculo e ver como ia terminar.
Um dizia que o outro bateu no irmão mais pequeno e em gestos de desafio, apertando as calças que ficaram sem o botão de as segurar, na refrega que ainda ia a meio roncava: só bates nos putos, bate-me a mim. A mimmmm, que não tenho medo de ti!
Então o outro que esgatanhado no rosto, talvez devido aos arbustos onde o outro o lançou bem agarrado a ele, rosnava: ele é que quase me batia com a bicicleta seu filho da putaaaaa e dá a correr pé no ar e lança-se ao outro.
Meia dúzia de segundos de mais uns murros e toca a separá-los.
Parem com isso! Gritamos dois ou três que tentávamos dispersar os rapazes, perante dezenas que se refastelavam a assistir.
Como era em frente de um café com uma esplanada, cheia de gente a gozar as férias, o pessoal era aos magotes, mais os que das varandas assistiam.
Em poucos minutos havia mais gente a assistir a dois jovens que se esmurravam arduamente, do que a alguns concertos cá na cidade.
Mais uma troca de piropos, mais uma corrida do que mais levava ao encontro daquele que o esperava de punhos bem cerrados.
Era uma cena de pugilato como já à muito não via e confesso que me meti no meio pronto a levar também com um murraço que falhasse o alvo de um deles.
Só que desta vez os que estavam bem perto já não estavam para separar os pobres coitados e já assistiam pávidos e serenos.
No fundo só eu é que estava ali no meio preocupado para que os putos se deixassem daquilo e parassem com o espectáculo feio. Muito feio, horroroso, que envolvia dois miúdos. Porque hoje dois jovens na casa dos vinte anos não passam de miúdos.
Mas que se esmurravam violentamente, lá isso eu assistia!
Por fim o mais franzino e o que mais agilmente enfiava dois murros, enquanto o outro mais feroz mas menos lento, só tinha tempo de enfiar um, no meio dos dois que lhe acertavam bem no rosto. Seguiram os seus caminhos.
Um com o irmão atrás, de bicicleta, lá se afastou agarrado às calças para tentar arranjar uma solução para as segurar, visto que o botão voou como uma bala, na batalha dos arbustos.
Fungava e repetia vezes sem fim: - Eu não tenho medo dele! Eu não tenho medo dele. Eu não tenho medo deleeeeeee.
O outro com três amigos à volta pedindo para ele esperar uma oportunidade de o apanhar e aí trincá-lo todo (expressão usava pela miudagem já na vadiagem), tremia de raiva quase sem controlo. Camisola toda rasgada, mais parecendo um sem abrigo miserável gritava para que todo o mundo sentisse que ele era o maior: - Eu mato o gajo! Eu mato o filho da puta. Eu mato-o, mato-oooooo.
No dia seguinte bem cedo, quando me dirigia para ir comprar o pão da manhã, lá estava a camisola toda esganiçada, como o único vestígio de uma batalha de dois jovens, que se gladiaram, porque o outro ofereceu porrada ao irmão mais pequeno, que descia a rua de bicicleta sem mãos e segundo um deles quase ia contra ele.

sábado, 21 de agosto de 2010

A Selecção com ou sem Queirós


Neste momento assistimos à novela Carlos Queirós/FPF, no auge das decisões prontamente anunciadas por uns e rectificadas por outros.
Claro que tudo isto só se dá porque Portugal ficou-se pela pálida imagem no mundial que o trouxe bem cedo para casa, de uma forma nua e crua perante a escassez de argumentos para ir bem mais além.
E logo que a comitiva aterrou na portela há que desenterrar conflitos que estavam em banho maria e dar-lhes vida para arrumar de vez com o homem dos comandos da Selecção que muitos dizem de “todos nós”!
Queirós juntou à sua volta um rol de personalidades de fazer inveja.
São os presidentes dos maiores clubes portugueses.
Amigos de longa data, que o acompanham desde que se tornou top star, depois de levar os putos a campeões mundiais.
E se não bastasse teve a presença de Alex Ferguson, o homem que lhe tem dado abrigo, numa aventura de passagens infelizes por clubes e selecções onde tentou a sorte em ser treinador principal.
Talvez por esta onda de apoio de fazer inveja, Queirós decide partir a louça numa de costas forradas e, toca a desancar no pobre coitado do vice-presidente, que lhe disse o que todos pensamos. E como não gostou toca a fazer do pobre senhor já com idade de se reformar e ir tratar do jardim lá de casa. A besta negra que ensombra a sua permanência na Selecção.
E foi mais longe; até subiu os degraus da indignação e atirou-se ao ministério que tutela o desporto, acusando-o de intromissão política para o afastar do convívio hoje tão apetecível devido aos enormes honorários, que o Madail resolve brindar quem comanda o nosso futebol.
Agora que o castigo já é oficial e de uma forma branda para não atiçar mais lume para a fogueira, surge logo mais um processo, desta vez de todas as pessoas ligadas à estrutura da FPF, incluindo o seu presidente relativo às declarações acima descritas.
Perante isto, Queirós não tem escapatória a não ser sair pela porta pequena e logo por justa causa. Uma mancha enorme que nunca poderá limpar do seu currículo.
Mas afinal o que se passa com o homem!
Ainda não vai há muito tempo, teve um desaguisado com um jornalista a chegar a vias de facto.
Veio o Deco a insinuar tácticas que o deixaram a não render o que pode e deve para o bem de quem lhe deu a oportunidade do estrelato.
Logo de seguida o nosso menino de oiro, a atirar com a toalha para os costados do mister, num momento em directo tão triste que mostrou a todo o país o líder que é Queirós.
Depois é isto de bradar aos céus, num acumular recente de episódios que levam um fazedor de miúdos campeões, a um desastre a treinar adultos cheios de tiques vips.
Se olharmos ao que ele disse que só morto abandonava a selecção, temos um braço de ferro, que nem infelizmente, as enormes temperaturas dos incêndios é capaz de derreter.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Cabana levou-a o Vento


Gosto de escrever o que me vai bem dentro deste corpo que só tem amor mas já não existe espaço para a cabana.

A cabana levou-a o vento para os montes tão difíceis de escalar, mas que o fogo recente deu uma varridela e pronto: cabana se foi, mas as recordações lá tatuadas evaporaram-se antes da tormenta a reduzir a cinzas e soltaram-se no espaço como almas que abandonam os corpos depois do último suspiro.

Espero que elas encontrem um caminho com sentido e não se deixem embalar pelo sabor da eternidade.

Irão vaguear como pirilampos mágicos por mundos desconhecidos onde se escondem milhões de seres vivos, prontos a serem os alvos da chegada dos pirilampos e pum cratapum: aí vai uma dose de salpicos de fascinação silvestre libertada de tão longe, num canto perto do mar, que envia as ondas refrescantes para dar beleza à magia.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Chove, ou não Chove!



Uma chuvinha vinha mesmo a tempo de refrescar a combustão que a vida carrega.
Saio para a rua e confronto-me com um dia sombrio.
O céu está negro, pairando a ideia que finalmente irá cair uma chuva bendita.
Era o culminar de rezas para que a chuva limpasse a alma das florestas tão massacradas pelo fogo assassino, que ganhou corpo de monstro logo que uns psicopatas pela noite dentro, resguardados pela escuridão da mata lhe deram luz e a satisfação a estes doentes mentais.
Era o merecido descanso por algumas horas aos bombeiros martirizados pelo cansaço intenso na corrida para as florestas, tentando cortar-lhes o avanço ao encontro das habitações dos infelizes que de uma hora para a outra dão de caras com o monstro vermelho que engole as árvores ao mesmo tempo que trepa por elas para alcançar as próximas vítimas que encontram no seu caminho.
Era o lavar do ar carregado de poeiras invisíveis que nos entopem as narinas e nos deixam aflitos para respirar o que nos mantém vivos.
Lavando as estradas poiso de detritos microscópicos que amontoados dão lugar a visíveis lombas de pó já constantemente calcadas pelos rodados andantes que dão lugar a crostas impregnadas.
E regando, sim regando; as culturas dos campos semeados de milho tão secos como as toalhas expostas ao sol nas areias das praias. Descansando os agricultores também eles envolvidos em rezas para que Deus abra de uma vez por todas as nuvens que agora sim, pairam ameaçadoras no céu que dá a sensação de estar logo ali em cima dos terraços dos prédios mais altos.
Entretanto uma parte do céu assume um tom ainda mais negro. Até assusta a imensidão da sua área.
O sol tenta furar as paredes dessas nuvens que ameaçam. Numa de senhor absoluto que veio para aquecer o que visiona bem abaixo, o que tem acontecido nestes já longos dias, numa estufa que milhões de nós não somos capazes de nos desembaraçar.
Olho para o lado sul e enfrento uma espécie de nevoeiro esquisito. Não sabendo se irá dar lugar a presenciar um céu azul como já bem sendo habito. Ou a este cenário turvo que se mantém já a manhã vai alta.
Olho para o lado norte. Este sim carregado, com ganas de ameaçador pronto a descarregar, aquele enorme peito inchado que presumo de chuva que dará para limpar, regar, refrescar qualquer cantinho que está ansioso pelo banhinho.
Mas a chuva não vem e a vida lá corre em pleno Agosto mês de férias e descanso.
De emigrantes que estão por todo lado num corre, corre como moscas que não deixam de aparecer em tudo que cheire a alimento.
Houve-se diálogos em francês num dialecto quase imperceptível, para quem se cruza com aqueles aglomerados de famílias.
Franceses imigrantes já de duas ou três gerações são aos molhos neste país que se enche neste mês de aveques de ombros expostos, chinelos chineses e penteados japoneses.
Bons carros para mostrar boa vida lá fora, quando todos sabemos que não é bem assim.
Passam cá uns dias a matar saudades e a encher as localidades.
Só peço que antes de se irem embora que a chuva também os presenteie e se possível já hoje, embora neste momento me resigne a falso alarme.
Levanto-me, vou à varanda e vejo o mesmo cenário, com que acordei.
Talvez chova….talvez?

domingo, 15 de agosto de 2010

Começou o que o Povinho Adora


Começou o futebol para encher os pulmões dos fanáticos e libertar cá para fora as desilusões da vida, misturadas com as peripécias futebolísticas.
Não podemos viver sem a bola rolar pelos estádios Portugueses de lés a lés. E vivemos imensos anos a distribuir os títulos pelos três grandes, que originou um fanatismo que nesta fase se resume ao Benfica e Porto, já que o Sporting se deixa ficar para trás, sem meios financeiros para ressuscitar grandes planteis.
Serão meses e meses de chuto na bola, começando às sextas e só terminando na segunda.
Vivo o Benfica de uma forma contida, mas alargada ao debate e às bocas brincalhonas, quando me junto com a malta fanática no café das traseiras para recordar tempo já idos, de emoções a transbordar. Mas ando com o peito cheio devido ao recente campeonato conquistado, com honra e futebol de excelente quilate.
Sou desde pequenito benfiquista, mas como cedo iniciei a minha paixão pelo futebol nos pelados da minha região, abracei a paixão pelos clubezitos que vestia a camisola.
Será semana após semana de debates cruzados a descobrir brechas na arbitragem para justificar os desaires. E uma vez uns e semana após outros, teremos música de apito para todo o campeonato.
Os homens agora sem negro, reluzindo com cores garridas às correrias para verem o que muitas das vezes não podem ver, serão os holofotes da ribalta, para o bem e para o mal, beneficiando os grandes e claro está afundando os pequenos.
Depois nos confrontos entre grandes, quem ganha rejubila alegria dos pés à cabeça e quem perde atira-se aos árbitros como expoente máximo da derrota averbada.
Este ano acredito no SLB! Manteve a espinha da equipa e vendeu quem forçosamente teria que ir e cá esperamos o prémio para esta enorme família, ou seja a renovação do título.
Os primeiros chutos já se deram numa pré época para tirar ilações. O Benfica parte como campeão e é com esse estatuto que irá até ao fim. Venha quem vier, terá o mesmo fim; a derrota no findar do campeonato.
Como ele chegou, este futebol, que se joga cá entre portas. Que venha e que traga mais lisura e mais Fair Play. Visto com os olhos especados na televisão e a mão de encontro aos pistachos e tremoços, numas minis que se bebem de uma golada.
Que junte famílias, para encher bancadas e apreciar o espectáculo.
Que desvie as claques para os túneis desses mesmos estádios, onde no seio deles se misturam bandalhos perigosos e catraios embriagados e drogados.
O futebol tem de tudo e sem ele não poderíamos viver. Por que não é a mesma coisa, já que sabemos que temos que viver com ele.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A Frescura da Manhã




A manhã está fresca com uma brisa agradável, fazendo esquecer um pouco o calor que se tem sentido.
Aproxima-se o fim-de-semana, embora num mês tradicionalmente de férias e como tal sente-se ainda muita gente aconchegada num sono fresco, depois de uma noite quente como as últimas a reinar o pesadelo.
Mas aos primeiros carros que rolam na estrada bem perto do nosso sono e aos primeiros raios de luz que invadem as ranhuras da janela de um começo do dia ainda a pedir uns minutos de cama. Obriga a esticar as pernas e levantar o corpo fechado num esgar de vontade para ficar deitado.
Tocamo-nos levemente num desejo que aquece, mas a vontade em permanecer de olhos fechados depois de uma noite mal dormida, como as anteriores onde o calor deixa marcas de sucessivas voltas na cama, não permite e o levantar é premente porque, embora um esteja nas sete quintas de uma moleza já constante a jovem necessita de seguir em frente porque a responsabilidade é a obrigação do sustento diário.
O banho acorda de uma vez por todas e os nossos corpos bem frescos e já relaxantes impele a aproximação.
O encosto é mais forte para mim do que a pressa e uns longos segundos de ardor ardente, com toques suaves e revestidos de desejo, aguça a ansiedade e troco um olhar de cumplicidade.
Limpo os últimos pingos do banho que teimosamente desenham sinais transparentes nas tuas costas. Faço-o com os lábios para beber o que resta e para chupar o teu aroma.
O amor está sempre presente, mas a hora de corrermos para os compromissos não dá tréguas e fico por aqui, ofegante e resignado.
Batemos a porta suavemente porque os miúdos ainda estão num sono profundo. São os nossos bebés ainda puros para o mundo e dormem numa paz que se quer duradoura.
Os saltos das socas marcam o ritmo dos poucos degraus do primeiro andar. Tenho a certeza que os vizinhos sabem que és tu, num som diário que não irrita mas já faz parte da vida do prédio.
E já na calçada carcomida pelo desgaste diário da confusão ritual de anos seguidos. Sentimos a frescura do começo da manhã que não tarda nada irá aquecer como brasas em combustão.
Olhamo-nos felizes embora cientes de um dia a dia que obriga a ginástica seguida, para conseguir o pecúlio necessário para obter a satisfação real.
Alcanço a tua mão e percorro o caminho em direcção ao teu destino com um olhar ternurento porque os anos passam mas os sentimentos perduram.
Tomamos o café no sítio do costume e de mão colada falamos do nosso dia que irá ser o melhor possível para no final, a certeza de mais um dia ter corrido como queríamos.
Tens que me deixar porque a menina chega na hora marcada.
Queria ter-te mais uns minutos. Aproveito os últimos segundos trincando o pão fresco com o café bem quente como gosto e olhando uma vez mais para o teu rosto que me encanta, descubro sensações sempre presentes. Embora em anos que se acumulam de uma vida a dois já chapinhada de momentos, que vão encher o baú das memórias.
Deixo-te à porta da loja que palmo a palmo revestiste-a de prazer em trabalhar.
E vou à minha vida por entre caminhos já batidos e tão conhecidos que me levam para outros pensamentos, sabendo que deixo para trás por umas horas a jovem que me dá tudo.
Uns dias abrindo o céu tão límpido como a pureza divina.
Mas outros, carregados de nuvens negras ameaçando trovoada a qualquer momento, porque as exigências nem sempre são como; o amor e uma cabana.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os Politicos de Férias e os Bombeiros a Olhar por Nós



Os políticos estão de férias e não sei quantos estão cá dentro a ir a banhos refrescantes para relaxar as custosas iniciativas que muitos deles tiveram que dizer sim, para que Portugal não caía na lama da desgraça.
Ainda bem que a politica entrou num período de ondas mas de praia, assim evitaremos por algum tempo, o diz que disse e lá vai mais um inquérito.
O não ter tempo para chamar o chefe de fila e lá vai outro inquérito.
As contínuas fugas de informação por baixo do joelho e lá vai mais um inquérito.
Os poderes reais ou só para inglês ver, do Procurador que ameaça mais um inquérito e possível ondulação forte. Autenticas marés vivas depois de umas férias de ondas em banho-maria.
As privatizações para ganhar uns milhões de euros que pouco engordam, só dão para meia dúzia de arrotos. Mais a venda do banco por meia costela, depois de se dar o boi todo para alimentar quem fugiu com a manada. Dará mais um folhetim até ao Natal servindo de alimento aos órgãos de comunicação ávidos por trocas e baldrocas que vendem e aguentam alguns empregos na corda bamba.
Tudo isto iremos nos livrar uns dias, para gozar as férias possíveis numa de ir a banhos para fora cá dentro e esperar por melhores ondas.
Mas nem todos estão de férias!
O ministro da administração interna, estafa-se para acorrer a todos os pontos de situação que o país atravessa em relação aos fogos florestais.
Ele elogia o esforço abnegado dos bombeiros e pede civismo aos portugueses. Mas os incêndios não dão tréguas e limpam o verde do norte e centro do país enquanto o diabo esfrega um olho.
Dá a cara em todas as situações, só lhe falta fazer como Putin (primeiro ministro russo), que ajudou a apagar os fogos como co-piloto carregando água e lançando-a sob as chamas que devastam aquele país tão forte em poderio militar, mas tão frágil em abafar os fogos que pintam o céu russo de um cinza a cheirar a morte.
Por cá infelizmente a morte bateu à porta dos nossos fantásticos bombeiros da paz!
Eles não dormem há vários dias para que o fogo não avance e reduza a cinzas as habitações e os bens das populações.
Eles deixam tudo para entrar floresta a dentro e enfrentar o inimigo vermelho endiabrado, que galga encosta acima e dizima tudo em estilhaços tão secos que amedronta a quilómetros de distância.
Eles fatalmente são apanhados pelo fogo que traiçoeiramente ajudado pelo vento que resolve mudar de direcção, os carboniza nuns segundos que não dão hipóteses de salvamento e enchem de dor uma corporação que voluntariamente acorre abnegadamente ao som estridente da sirene que anuncia mais um fogo, quase sempre nascido pelas mãos assassinas de humanos psicopatas.
Eles fazem-me rolar umas lagrimazitas enquanto os vejo a carregar o colega gravemente ferido. E pior que tudo a colega carbonizada e não vacilam em continuar a desafiar o perigo e raivosamente enfrentam o fogo só parando, quando ele estiver a sucumbir finalmente às mãos deles próprios que chorando a morte da colega; agora sim, resignam-se à dor longe dos olhares mas tão perto do causador da desgraça.
Estes são os homens que devemos honrar!
Sem medalhas, mas com elevação.
Sem discursos inflamados, mas dando-lhes condições materiais para a função.
Sem choradeiras em tempo de óbitos, mas apoiando as famílias muito para além do luto.
Sem elogios em alturas de fogos intensos. Mas elogios constantes a quem nada recebe e dá a vida por nós.
Ser bombeiro voluntário está no sangue, dizem todos eles. Mas como no meu não está, só queria ser como eles!

domingo, 8 de agosto de 2010

Os Incêndios que Viram pragas Infernais



Os incêndios infelizmente o prato do dia neste verão quente como as castanhas que nos aquecem as mãos no inverno que não nos deixa sair de casa. Devastam o que cresce para lá das estradas que nos levam para o nosso destino. E o que pensamos nós, está para lá das casas onde vivemos sossegados até, que o mar vermelho autêntica onda gigante, aproxima-se ferozmente para queimar o sonho de uma vida e o resguardo dos últimos anos.
Então os pobres coitados acordados da nostalgia diária, arreguilam aqueles olhos que pensam já tudo verem e encontram aquele mar de fogo ainda longe mas já tão perto da aflição.
Correm de encontro a tudo que leve água e o desespero leva a que nas duas mãos carreguem simples baldes que embora cheios não passam de uma gota para apagar tamanho inferno.
Choram enquanto correm para tentar travar a tempo o fogo que já ameaça a simples estrada que guia aquele lugar.
Choram enquanto rezam a todos os santos e a Deus omnipresente, que o fogo não chegue à casinha tão custosa em erguer, que até deu para passar necessidades só para pagar o trabalho de pedreiro.
Choram enquanto os vizinhos mais livres do perigo acodem a tão grave drama na ajuda que é sempre pouca para que as chamas não cheguem e uns, com baldes de todos os tamanhos e feitios. E outros com mangueiras de regar os jardins, lá tentam desesperadamente pela noite dentro, molhar o que pode arder até à casinha.
Desesperam por socorro dos soldados da paz, que são poucos para tantos pedidos desesperados e tardam a chegar.
Choram aqueles que o fogo já calcinou as hortitas da subsistência, que vergaram o corpo enquanto anos e anos a fio, cavavam para enterrar as sementes do crescimento.
Choram aqueles que já não puderam salvar os animais presos nas cortes pegadas à mata e que o fogo logo tostou tamanha a violência que varria tudo o que lhe aparecia pela frente.
E choramos todos nós pela perda da floresta que o fogo devasta. Pelo desespero de quem tudo perde enquanto o fogo engole num abrir gigante de uma boca gritante.
E choramos por ver que todos os anos, florestas ao abandono são o abrir das portas ao rastilho do começo de um incêndio, que sobe encosta acima e desce à procura de outro concelho e novas vítimas. De pouco valendo aviões Canaderes de rabo bem aberto para lançar a água, que só depois de muitas horas é que amansa a fera cansada de morder floresta atrás de floresta.

sábado, 7 de agosto de 2010

Quero Férias embora já as Tenha!



Mas quero as férias que me alegram e desanuviam e que me lembre da juventude onde as férias eram a criatividade, o desenrasque e a procura de alguns escudos para beber umas cervejitas e agradar às miúdas.
Eram momentos que perduram acomodados numa tenda rodeado de outras mais que conferiam ao pinhal uma aldeia veraneante com dezenas de famílias empacotadas em tendas coladas como o musgo para que nada fugisse ao controle dos progenitores.
Éramos três numa palhota de lona só para dormir. Vivíamos da praia, dos restaurantes da zona e dos poucos chuveiros que davam banho a toda aquela gente.
A praia era o local ideal para exercitarmos as nossas potencialidades e por entre jogos rijamente disputados, tentávamos a gradar à mulherada que, diga-se de verdade eram a beleza em bruto. Numa época em que ainda as miúdas não se mostravam como as de hoje, mas que um simples olhar equivalia a um momento de badalar o coração.
Essas garotas normalmente de Braga traziam a vontade de tudo ultrapassar!
O seu encanto, a sua beleza, os seus gestos; tudo levavam a superar e o dormir no chão só com a lona da barraca tipo índio, era airosamente ultrapassado porque o sentir que meia dúzia de tendas mais à frente, alguém suspirava por nós trazia o sono de tamanha excitação vivida. E ficava a promessa de no dia seguinte irmos ao seu encontro e de uma vez por todos conhecermos aquelas brasas que nos estavam a torrar os miolos.
Claro que os tempos eram outros e as barreiras por vezes não eram assim tão fáceis de saltar. Porque o armar em conquistadores longe das garotas, tornava-se um bico-de-obra bem perto delas.
Mas a crença em conhecer aquelas flores dava-nos a ânsia de tratar do jardim com todo o empenho!
A nossa amizade cimentava-se naquele mês de umas férias onde tudo era virgem e tínhamos que nos virar para colher o alimento que nos mantinha ali pregados.
Juntávamos os trocos e íamos comer com o que tínhamos.
O pequeno-almoço era na pastelaria onde toda a gente lá passava e a ida ao WC, ajudava a lavar o rosto e a compor-nos o melhor possível, para não fazermos má figura perante os veraneantes que acorriam a esta pequena vila como abelhas à colmeia.
E uma vez mais, com mais uma ida à praia, conseguimos entabular conversa com aquelas flores que nos estavam a obrigar a ser abelhas para ir descobrir o seu pólen.
Éramos os rapazes mais felizes do mundo. Um mundo ainda verde, sem muitas responsabilidades que nos colocou ao nosso lado as flores para a nossa jarra.
Claro que andamos tempo demasiado para as conhecer e quando assim aconteceu, as férias estavam no seu fim.
Juntamo-nos num bar, numa tarde que não ganha teias de aranha e confessamos todas as peripécias vividas nestes dias, onde o querer conhecer era mútuo e ansioso.
Agora bem perto delas é que nos apercebemos da sua beleza e da sua pureza, em jovens de dezassete anos tão confinadas ainda às saias das mães que tinham dificuldades em desapertar os nós por elas bem cozidos, naqueles corpos tão belos e inacessíveis, porque o tempo estava a esgotar-se numas férias onde tudo começou por faltar, mas que no final abrimos as mãos a agradecer a…. cada um de nós!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A Realidade De Momentos


Tu chegaste e eu senti-te.
Preparaste-te para o momento e ele chegou, como tem chegado muitos. Mas este foi diferente, trazia a adrenalina pendente, mas tão fervilhante que ameaçava jorrar a qualquer momento.
Seguistes a minha opinião e entraste por momentos na reflexão do que nos trazia este dia.
Começou por nos oferecer um local ideal para deitar cá para fora os nós que tinham que ser desatados e por dentadas de entradas gostosas, partilhamos os primeiros momentos de abertura para o que cá nos trazia.
Então o toque foi dado e iniciou-se o partilhar deste momento que vai ficar retido no nosso pensamento enquanto os nossos rostos permanecerem iluminados no caminho cruzado.
As entradas aguçaram o apetite e trocamos o que mais gostávamos.
Tu foste presenteada com as duas fatias de queijo que desde pequena é a tua perdição. Eu deliciei-me com o melão, que escorregava lentamente pela minha garganta fazendo cócegas a cada encosto.
Fiquei com a fatia do presunto maior, como presente por te ter levado a este cantinho, onde o comboio passa bem pertinho.
Trocamos os rabos deliciosos do polvo como pulseiras indígenas, onde eu desta vez servia-te com prazer, tomando o teu lugar das vezes anteriores mas sem a beleza e cumplicidade tão perto como este momento penetrante.
Servi-te os legumes que acompanhavam as duas boas pernas do molusco, que tu adoras e tentei desenhar-te um círculo com as azeitonas no teu prato para que guardasses aí os segredos que escondes, porque são teus e só a ti pertencem.
Reparti as batatinhas assadas do tamanho de bolas matraquilhadas e ainda me lembro que foram meia dúzia para cada um, que entrava na nossa boca, como um bombom gostoso salientando a beleza dos teus lábios e o prazer do momento.
Pelo meio parávamos para salientarmos o que é só nosso e procurando sentir que tudo o que dizíamos era a verdade pura, tão límpida como o céu.
Dizíamos palavras tão vincadas como raios que se soltam do céu e rebentam ao contacto com a terra, mas num clima a raiar a descontracção, que ninguém que partilhava os espaços seguintes se apercebia do que dizíamos.
A sobremesa chegou, embora tarde porque a cada sugestão nós esquecíamos a anterior. Por isso a solução era juntar todas e fomos presenteados com um enfeite criado no momento de deixar água na boca.
E foi a água e a vontade de levar os doces à boca que criou mais um momento para recordar.
Tornei-a a servir. Estava tão bem que fiz de cavalheiro até ao fim.
Um pouco de mousse, outro pouco, de pudim. O mesmo de bolo caseiro com o nome de quem criou aquele espaço. Mais um pouquinho de tarte e por fim outro bolo com um nome francês que já me esqueci, porque as sensações foram bastantes para me recordar.
Repartimos o chocolate que acompanha o café num gesto pausado e com um brilho nos olhos. Onde me apeteceu morder-lhe o dedo devido ao desespero divertido de me por de boca aberta durante uns longos segundos.
Fugimos a sete pés, claro pagamos, porque a hora da reentrada era uma dura realidade.
Os olhos disseram aquilo que tinham que forçosamente dizer. As palavras foram sinceras e de uma clareza de louvar, que nos uniram num pacto de sangue saído da nossa espectacular sinceridade.