domingo, 30 de agosto de 2015

Três Anos longe do meu País




Parti há três anos, com uma mala farta de tralha e de alma vazia.
Um coração cansado de se oferecer para acolher, o carinho de abraços que ultimamente nunca se aproximavam.
Um semblante distante, preso ao oco de meses isolado, mergulhado na solidão profunda de uma casa onde passei a ser um obstáculo.
Pousei pela madrugada numa terra farta de trabalho, onde a fartura contrastava com a míngua do meu país.
Passei a ganhar o que já não levava para o lar e abre-te sésamo: o homem sempre voltou a ter habilidade para trazer dinheiro para casa!
E três anos volvidos, voltei a sentir a liberdade partindo do nada!

Foram logo Gémeos


Domingo quente que abafava os pensamentos.
Insuportável perante os acontecimentos, nada agradáveis para quem busca a tranquilidade neste recanto alemão.
As férias estão como a incerteza na alegria em regressar, que ainda não foi hoje e nem será amanhã.
Possivelmente terão que acontecer lá para a semana, ou na pior das hipóteses, no final da outra.
Aguardar essa alegria é como voltar a ser miúdo, esperando ansioso que ver o mar e molhar o corpito na sua água, era a certeza de longos dias de beleza.
Agora bem crescido mas, com a mesma ansiedade em ver o mar bem acompanhado, espero mais dia, menos dia mergulhar no calor do seu amor que me alivia as dores.
Entretanto para desviar um pouco essa ansiedade, reparto as horas em festejos de nascimentos, que soam como badalo de emergência para quem antes de regressar das últimas férias, deixou a descendência aumentada.
E não foi um filhote que se vai desenvolvendo, enquanto o pai vai fazendo pela vida por esta terra.
Foram logo gémeos! Que trouxe alegria, mas também espanto pelo avolumar da família.
O homem chorou! O homem ria-se dos nossos comentários, ao mesmo tempo que já pensava como é criar dois de uma assentada.
E como gémeos vale uma comemoração em dobro, o champanhe foi de encher mais que uma taça.
É o assunto constante entre nós nestas quatro paredes. Enquanto o calor nos obriga a andar quase despidos esperando pela noite, que traga o fresco do novo dia.
E o novo dia, é o iniciar mais uma semana. Esperando ansiosamente que seja no seu final brindado com a notícia mais desejada.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Apanho o Bus 628 e 615




Pelas seis e oito da manhã, apanho o autocarro 628 com destino ao centro da cidade.
Nunca andei de autocarro para ir trabalhar, mas a experiência tem sido agradável.
Dez minutos depois, olhando às paragens e semáforos que regulam o trânsito. Saio no coração de Wuppertal.
Uma corrida a pé, pelo meio peço um café, que vou tomando enquanto não chego ao autocarro que me vai levar ao local onde trabalho.
 Claro ainda é Verão e o tempo ajuda a caminhar levezinho. Sem muitas roupas que me irão proteger do frio, quando o Inverno surgir a rugir a sua ferocidade dolosa. Mas Deus queira que nessa altura o autocarro seja uma utopia.
Sento-me na paragem e vejo no placard, que dentro de três minutos chega o 615, que me levará subindo a periferia da cidade, à universidade onde exerço a minha actividade.
Uma jovem senta-se ao meu lado, de fones nos ouvidos espera que o bus a leve ao mesmo destino.
Hoje está cansada. Mal se senta, fecha os olhos tentando recuperar um pouco do sono que a abrigou interromper.
O dia desenrola-se na rotina do costume e pelas cinco e vinte, volto a retomar a dança do bus.
Só que nesta viagem de volta, já não corro para apanhar o autocarro que me levará a casa.
Deixo-me ficar pelo centro da cidade depois de deixar o 615, enquanto o tempo permite. E saboreio uma cerveja geladinha, mais um kebab, com bela vista para quem passa.
Meia hora de descanso, mirando o povo que se acotovela na praça.
Uma cidade a abarrotar de raças e entrelaçada em culturas.
Não faltando, viciados em drogas e álcool que se amontoam na entrada da estação e deambulando pelas ruas, repletas em hora de ponta.
Mães carregadas de filhos, berrando por uma guloseima bem exposta na vitrina, ao pé da entrada do centro comercial.
Isto só é possível, já que neste país os benefícios sociais são elevados e para famílias numerosas é um maná de euros, para olhar pela pequenada.
Dezoito e dezanove, volto a apanhar o 628, que me leva para casa esperando que a noite chegue e o sono me embale. E pelas seis e oito da manhã, apanho o autocarro 628 com destino ao centro da cidade.







domingo, 23 de agosto de 2015

Deixem-se de Merdas





Deixem-se de merdas e vamos ao que interessa.
A política, nada nos diz já que é tudo farinha do mesmo saco. Guiando-se pelas directrizes de Bruxelas, que retêm os cordelinhos, coordenando os passos a seguir, mesmo com eleições há vista.
Portanto não adianta martirizar-nos, em quem vamos votar porque tudo está sob o controle de quem rege os nossos destinos.
Por isso os nossos políticos satisfazem os seus caprichos pessoais, aproveitando-se da política para elevar a sua qualidade de vida. Sua e dos seus acólitos sempre submissos às migalhas que sobejam.
Como não podemos nos livrar dos políticos ignoremo-los, só assim podemos viver com mais tranquilidade.
Viremo-nos para o futebol!
Do mal ao menos. É sempre um meio de descarregar o stress e ao apoiar o clube do nosso coração, aliviamos a pressão momentânea do dia-a-dia e com as vitórias, esquecemos um pouco as derrotas que nos assolam os bolsos.
Quem não gosta de futebol, tem sempre algo para desanuviar frustrações, ou então aliviar tensões.
Estamos ainda a gozar as férias merecidas. E pelo que constato, todos deram um salto lá fora mesmo cá dentro. Recuperando as energias para um ano que se antevê depois das eleições, farto em aumento do custo de vida.
Para os que vivem com as dores de uma vida nada fácil, desemprego. Filhos formados e sem emprego. Famílias destruídas pelo flagelo da crise que se diz mundial: É viver cada dia, na esperança de que o próximo, seja mais risonho. Mesmo para quem já não tem dentes para esconder o desmaiado sorriso.
Não nos podemos esquecer para quem ainda tem coração para sofrer, dos que morrem em pleno oceano fugindo às guerras que os senhores jogam como se tratasse de Yoga.
Dos que elevam a adrenalina e morrem. Seja na estrada, ou no avião que devia ter asas para pousar.
Dos que infelizmente escolhem a hora errada e o local inadequado. Caindo sob as armas dos que dizem lutar contra os poderosos e vingam-se nos desamparados.
Nós os que sobramos no cantinho onde Deus pousou a mão. Devemos dar graças para que ele não mude o abrigo e nos deixe desamparados perante o destino. Já que Deus não pode estar em todo o lado.

sábado, 22 de agosto de 2015

O Povo acredita no Amor




As canções enchem-se de palavras de amor!
Fartam-se de acordes amorosos e cada refrão repete vezes sem conta a palavra. E o amor paira nos palcos levitando no coro imenso de plateias em delírio.
Os poetas falam de amor!
Enchem livros de amor. Desenham em folhas brancas o amor em milhentas feições, rimando sob diversas formas, para no final resumiram numa só palavra a maravilha, amor.
O povo acredita no amor!
Vai na sua procura em cavalgadas infinitas, tentando recolher uma migalha da sua enorme grandeza.
Uma vida inteira buscando o amor. Desde o colo materno que o povo mama a essência do amor, para mais tarde oferecer o colo ao amor da sua vida.
E o mundo maldito, confunde o amor!
O mundo em que vivemos, tanto o apregoa como logo o confunde com oportunismo evidente.
Com insensibilidade premente, escondendo a mão ao infeliz que tanto o procurou e por fim se prostra nas calçadas sem mais forças para viver.
Com violência gratuita, tirando a vida a milhões que passam a sua existência, na sua busca para serem felizes ao menos uma vez na vida.
Com arrogância prepotente, dos cada vez mais ricos pensando serem os donos e senhores do amor.
Essa arrogância vincada nos cada vez mais pobres, muitos deles apesar de despidos de beleza, encontram nas quatro paredes que os acolhem, o amor que não tem preço.