Fazer anos é fácil, já que eles correm ao
sabor do tempo.
Desde miúdos que tentamos apressar o tempo
para sermos gente, o mais rápido possível.
De miúdos passamos a graúdos e esperamos que
o tempo nos eleve na idade e nos faça ser homens.
Deixamos crescer a barba e realçamos os peitorais
como homens que já somos, com o tempo a encarregar-se de nos fazer dois tostões
de gente.
Somos queridos de imensa gente.
Os anos fazem-nos conhecer essa gente. E até
temos o privilegio de seleccionar as companhias e ser íntimos muito para além da
amizade.
Depois os anos passam. Mas os amigos conservam-se
e a gente sempre aparece, quanto mais não seja no dia de mais um aniversário.
É lindo quando se lembram. Uns porque já são parte
da família construída com o andar do tempo.
Outros, que se cruzam com o decorrer do
tempo, em qualquer esquina. Ou no bar do Faria.
E poucos, que se mantêm no cantinho das
lembranças, porque fazem parte desse tempo, que paulatinamente caminha e
engrossa já os anos de uma vida bonita.
Cinquenta anos feitos há dois dias.
Meu Deus parece que ainda nasci no outro dia.
Nesse dia onde ainda se falava em surdina e
brincava com carrinhos de puxar à corda, carregados de terra que não deixava
brotar erva.
Agora longe, mas bem perto desse tempo. Ficam
as lembranças desse mar de gente!