domingo, 28 de junho de 2020

Da prancha sem heroísmo



A noite foi chuvosa e iluminada pela luz intensa dos raios assustadores que desenhavam linhas no céu escuro, como o destino que está traçado nas linhas das nossas mãos.
Pela manhã voltou o calor que sufoca a necessidade de respirar e só no arvoredo maciço, se busca o limpar do catarro maldito.
Caminhei tão rente ão lago, que os pés sentiam o húmido das folhas oferecendo-lhe a  suavidade do que busquei do nada.
A prancha dos mais afoitos em espaldar-se na água, estava convidamente adormecida. O ranger do seu balanço, era o silêncio da minha passagem.
Olhei-a por momentos e em segundos mergulhei num impulso!
Mergulhei no vazio do meu pensamento e o choque da água fria foi, o entupir o meu espírito.
Senti o meu regresso à tona sem sair do tronco redondo que servia de banco. Onde imaginava, todo este balanço.
Senti a pressão da água a reduzir a violação  da sua transparência e o lodo cobriu o meu inspirar, enquanto o meu mergulho se reduzia ao estático da gravidade.
Senti que quando mesmo jovem, os meus mergulhos eram rasos e curtos. Para rapidamente regressar à segurança do baixio dado que heróis, têm o mundo cravados em lápides húmidas de lágrimas escuras.
Dos trinta graus de ontem, aos de hoje. Só a frescura da água a cheirar ao húmido da terra, oferece a tranquilidade e a paz que mereço!
E continuo a gostar os dias para voltar à terra prometida!

sábado, 20 de junho de 2020

Cortei três fatias


A tarde está amena com toda a frescura para curar as mazelas da semana.
A varanda oferece-me o espaço para sorrir enquanto escrevo, porque nada devo.
Estou apaixonado pelo que me rodeia e pelo que penetrou no coração.
Espero ardentemente que as férias por fim cheguem, antes que se volte a fechar o país ao mundo. Para abraçar quem me acolheu nos seus braços, quando já nem descobria onde descansar o meu cansaço.
Cortei três fatias de pão broa e pinceleias com manteiga.
Tão fofinho, tão apetitoso que delícia!
Recuei muitos anos para voltar a sentir esse gostinho!
De pequenino era o que me valia. Agora oferece-me a primazia de recuar o tempo e sentir com o mesmo sorriso, a sensação de algo que recorda duas fases distintas da minha grata vida.
Pequenos pormenores, que me faíscam nas memórias.
O tempo arrefece e a frescura deixa de ser tônico.
Tempo de preparar o jantar e sentir que apesar de a vida serem dois dias, oferece sempre uma oportunidade para conseguirmos dar aos sonhos que partilhamos, a realeza que desejamos!


sábado, 13 de junho de 2020

Calor sem frescura


O calor abafava o pensamento e restringia a disposição para uma sesta já normal.
O almoço foi intenso e o vinho morno e doce acompanhou a intensidade da sofreguidão.
Nada melhor que caminhar ao longo das margens do lago para que a frescura aliviasse o calor interno.
Mas o calor abafava qualquer abertura sem, uma aragem para fazer correr a frescura.
Nisto encontrei um poiso onde podia sentir a humidade da erva das chuvas da véspera e o leve riscar na pele que elas me faziam.
Que sensação esticar o corpo naquele ninho verdejante mais se assemelhando, à toca do Aladino onde me ditava através do esfregar a lamparina. O meu destino.
Permaneci um bom bocado dos meus sonhos e dos ainda quentes momentos. Estirado naquele bunker verdejante.
Contei por minutos as folhas que faziam de teto a esta casa das bonecas, se fossem meninas que cá estivessem.
Contei por minutos os passos no trilho ao lado. Mas nesses minutos ninguém deu sinal de vida, nem as folhas caídas, sofreram qualquer peso no seu extenso manto caído.
Contei por minutos, o tempo que lá permanecia!
Cinco, dez. Mais de uma dúzia, talvez uma meia hora.
Regressei de encontro ao lago e no estrado em madeira, sentei-me enfiando os pés na borda da água até que os senti frios, o que me refrescou o espírito!





quinta-feira, 11 de junho de 2020

Tanta esperança


O belo do que fazemos é hoje o mais natural.
Por momentos vira rotina, numa roda viva a cheirar a verde. Mas com tanta esperança.
O extraordinário é como o conseguimos.
Que armas usamos?
O charme que nos saiu das entranhas que nasceu connosco.
O doce timbre da nossa expressiva beleza intelectual.
A franqueza que brota da nossa sinceridade.
E se é extraordinário, é muito íntimo e só nosso!
Afagando-nos de segurança, para que a saudade seja expelida e o mergulho nos esbordantes desejos. Seja a nossa piscina!!

sábado, 6 de junho de 2020

Sonhos ultrapassados



Sinto a imensidão do sossego.
Do levissímo correr da água do regato.
Do sussurro do vento no rosto, trazendo-me o aroma dos campos tão verdes, que mais apetece deitar neles e olhar o céu do limite do chão.
E a emoção do chilrrear minúsculo da passarada que se aventura a saltar dos ninhos. Faz-me ajoelhar para lhes oferecer o grito da esperança, que é o seu desafio para procurar o caminho para a sobrevivência.
Os minutos passam como dez passadas, pelos trilhos das montanhas. Densos, agora que o Verão se aproxima e os rebentos camuflaram as árvores inundando os passos de vegetação, que só os braços as afastam para ver fugasmente a galopada veloz, dos animais que nada desejam de nós!
As horas voaram com as centenas de passadas.
Num percurso suave que me trouxe de volta a casa.
Tenho o espírito purificado pela natureza ao pé da porta.
Tenho os sonhos ultrapassados dado que, os meus olhos vêem o que por vezes os sonhos não alcançam.