domingo, 16 de novembro de 2014

O quentinho da Sala




O sol tanto se esforça para me fazer sorrir.
 Mas o vento maldito, dita leis neste condomínio plantado no coração da montanha.
Sair é correr o risco de uma gripe. E logo depois de um banho, para fazer desaparecer as marcas visíveis no rosto, de uma noite repleta de voltas na cama.
As belas músicas acalmam a minha impaciência.
Numa seleção cuidada, fazem-me recordar tempos que me acompanham sistematicamente. E algumas recentes, libertam imagens constantes de um sorriso magnífico e um olhar divino. Divago pelos pensadores com prestígio.
 As frases cunhadas com sentido, despertam a minha consciência.
Com elas oriento o sentido da vida e resguardo-me dos pobres de espírito.
 Entretanto o vento amainou, mas a alegria de caminhar pelos trilhos da Natureza foi fugaz, porque a chuva não se fez esperar.

Do sol não resta vestígios. É o inverno a chamar a si a tristeza do dia.
Resta o quentinho da sala e esperar por nova semana.
Sem dar por isso, desbasto a cesta das nozes. Com um maduro a acompanhar e como não à futebol. Todos se recolhem para a soneca habitual.
 Ainda bem!

sábado, 15 de novembro de 2014

O vento Terminou com a Romaria





Estou fechado em quatro paredes, porque sair nem pensar.
 O vento é de tal ordem que me obriga a andar uns metros sem sentir o chão que devo pisar. Ainda tentei caminhar.
 Equipado com a roupa mais quente que a mala pôde transportar. Só consegui chegar ao café, depois de ser bombardeado com folhas, pequenos ramos e sei lá mais o quê!
 Para voltar escolhi o abrigo dos prédios. Qual animal protegendo-se da força da Natureza.
 Pela manhã ainda consegui juntar-me aos inúmeros curiosos, que como eu, viam bem de perto a romaria de São Martinho.
Dezenas de bancas, davam belo colorido pelas principais ruas da vila. Artesanato local, doçaria regional e enchidos de porta a porta. Eram um regalo para os olhos e estômago, mas elevados para carteiras a necessitar do vencimento.
 Os melhores exemplares de pastagem que povoam as ingremes encostas da montanha, que se perde de vista. Esperavam pacientes que o júri votasse no melhor queijo que o seu leite produzia.
 Cabras, ovelhas, vacas e até um javali. Já fartos dos putos lhes acariciarem os cornos, não viam a hora de regressarem à erva fresca ali tão perto.
Brinquedos  para os miúdos.
Bolsas, carteiras, óculos de marcas suspeitas. Enchiam os passeios.
 Gorros, botas, luvas e mais adereços. Feitas à mão pelos descendentes dos Incas, faziam parar o povo para agasalho do inverno que já se alojou.
 Bela romaria que pouco durou!
O vento ameaçou e não tardou a levar tudo pelos ares e acompanhado da chuva. Obrigou a uma correria desenfreada.
 Em pouco tempo a vila, voltou, à pacatez que a caracteriza.
 Por isso foi-se a romaria e estou aqui fechado, ouvindo a fúria do vento. E a noite não tarda.
E que noite!

domingo, 9 de novembro de 2014

O Verão de são Martinho





Ainda estico o corpo quando ouço o relógio de parede, badalar nove vezes.
A chuva bate na janela, já gasta pelos longos anos sem lhe dar uns mimos de brilho.
Por isso o frio que já se sente, não tem resguardo para que não se infiltra pelo quarto acanhado.
Sabe tão bem, sentir a chuva enrolado na roupa que recorda a infância.
Uma hora depois estou na rua necessitando de um café e alegre porque o sol não tarda a surgir.
Ele ai está!
Mas é sol de pouca dura. Um verão de são martinho. Com castanhas e vinho ainda a fervilhar de novo, baloiçando com os intestinos.
As nuvens bem se esforçam para lhe tapar o trilho.
Não adianta porque o sol ainda tem força para derrubar quem se cruza no seu caminho.
Fecho os olhos e inspiro o seu calor.
Que delicia. Que fofo.
O dia vai a meio. O sol sabe que só lhe resta umas horitas para deitar os cornitos de fora.
E eu aproveito num recanto onde ele alimenta as minhas emoções e emproa as plantas dos vasos que decoram as vinte escadas. Cada uma delas com o seu mistério
Um pouco mais tarde ele (o sol), que tantas saudades vai deixar, neste Inverno. Ameaçando chuva, vento e humidade até estalar os ossos. Desaparece numa imensidão de nuvens negras, que segundo a meteorologia não tardam a descarregar água, inundando as ruas e soltando as amarguras de um povo amarrado às tristezas da vida.

sábado, 8 de novembro de 2014

O meu Jardim





No horto onde colho o teu corpo.
O meu jardim dos pés à cabeça.
Onde solto pétalas para te oferecer um adorno enorme, trepando em ziguezague nesse corpo curvilíneo, qual Cleópatra. Agradando ao Faraó dono e senhor dos jardins do olimpo.
São rosas, tulipas, antúrios, papoilas e belas flores silvestres.
Soltando um aroma de desejos irresistíveis que me levam a desflorar as entranhas da desbravada semente humana.
Lá, encaminho-me para a estufa rolante.
No canto mais abrigado procedo aos enxertos que libertam a semente, por ti amorosamente acolhida.
Imensas flores que povoam o meu jardim.
Transportam candeeiros florescentes. Iluminando as nossas silhuetas, meias despidas devido ao enlevo despendido.   
Seja ainda com o dia a pairar a altas horas. Seja com a noite a chegar com o encolher do dia no inverno.
No horto onde colho o teu corpo!

domingo, 2 de novembro de 2014

A semana do Antes e Depois




Uma semana antes, regressava da montanha em direção à praia.
Envolvia-me a pureza do ar que os montes agregam, limpando-me das impurezas quotidianas.
 Ainda era bem cedo e um maravilhoso dia acolhia-me depois de uma noite idílica com a grata recompensa de uma hora valer duas!
Sentindo-me a abarrotar da ressaca dessa noite, escrevi a mais bela história de amor!
O livro era o leito branco imaculado. Onde as ondas vincadas das nossas posições, cruzando frases que a história não apaga. Resumiam o fervilhar dos corações, num enlace de enormes emoções.
 Horas depois o regresso à montanha, sem antes percorrer centenas de quilômetros de asfalto. Num silêncio profundo que as emoções do dia, proporcionavam fabulosa alegria.
 A procura do beijo de um bom dia, logo que a pestana libertou o olhar, sem nunca o pregar. Foi o momento mágico do meu corpo ainda te sentir, junto a mim, naquela noite que nos aceitou numa felicidade sem fim.
Neste instante uma semana passada, ainda te sinto mergulhada nas minhas entranhas.