Cheguei à praia ainda todos dormitavam e
sentei-me numa cadeira de encosto enterrada na areia, enrolado na toalha porque
o frio obrigava ao agasalho.
As gaivotas quebravam o silêncio numa
barulheira frenética em volta do saco com restos do lanche do dia anterior. E como
não o podiam levar para o resguardo das rochas bem perto, retalhavam-no em bocados
com os bicos, autênticas tenazes.
Era um frenesim sem regras!
A família paga a barraca. A área é
concessionada e a limpeza tardava.
Enquanto isso, as gaivotas espalhavam comida
e restos do plástico pela areia molhada, pela noite chuvosa acompanhada pela
trovoada.
Os nadadores salvadores acabados de chegar
com as bóias e as pranchas de salvação. Logo acorreram a limpar o local, equipados
de luvas brancas afugentando as famintas e barulhentas aves.
No mar
ouvia-se o roncar dos motores anunciando a chegada dos barcos no fim da faina
e, a manhã decorreu desagradável e fria, para o meu primeiro dia de praia.
Estava branco como a neve, pintado no corpo
que já não fazia praia desde o tempo em que abandonei estas paragens.
Por isso pensei que sem sol e com uma aragem
de me esconder dentro dos quatro paus, não iria apanhar qualquer escaldão.
A tarde aqueceu a esperança de um mergulho e numa
caminhada para que o tempo passasse, entrei de mansinho com gritos abafados
pela água gelada. Mergulhei de encontro à onda que me fendeu o couro cabeludo e
deixou-me uns segundos com a sensação de que o ar me escapava.
Voltei aos quatro paus, já com o sector a abarrotar
de veraneantes a pedir licença a uma perna para arrastar a outra.
E no meio de histórias tão velhas como o
sargaço, que vai e vem, consoante a maré. Caiu a tarde e regressei vermelho
como um tomate.
Com o mal feito, untei-me de creme para
aliviar o desconforto e passei uma noite a rogar pragas, porque me deixei levar
pelo tempo frio e sombrio da praia.