domingo, 31 de agosto de 2014

Noite que poderia ser Negra




A noite foi agitada num final de mês que sempre deixa marcas a cada ano que passa.
Ela chega, ou não?
Ela fica ou se vai?
Ela entrega-se, ou resguarda-se na escuridão da brisa vinda do mar ali tão perto, já a sentir os banhistas a dar-lhe o espaço que sempre procura, para se enrolar na areia e enterrar os segredos.
Ela chegou e logo desejou pôr-se ao fresco.
A vontade de me enrolar na esplanada foi curta demais para aquecer a bebida amarelada.
Levantaste-te noite malandra, para regressares de onde vieste e eu deixei-me levar no teu andar irritante, fechada num olhar sério.
Deixei-me cair sem reação, quando já deixei de distinguir a tua sombra.
Eu já nem sei do que gostas, noite branca, que foi como fiquei, quando dei por mim no passeio perto do jardim.
Só sei que tenho que gritar com todas as forças que ainda me envolvem dos pés à cabeça, para te fazer voltar.
 E gritei!
 Uns gritos abafados mais para dentro de mim, do que propriamente para chegar até ti.
Mas tu sombra de dores e amores voltaste!
Gritei, agora sim. Para ti.
 Bem perto do teu rosto, autentica lanterna que guia os meus desejos incontroláveis.
Mas tu sombra, que tanto te acanhas numa bola negra e silenciosa, para saltares de posição em posição. Como te elevas pelo infinito e me amordaças os sufocados desejos.
Por fim, noite bendita. Deixaste-te cair nos meus braços que ficaram negros e invisíveis.
Só as veias salientes de uma força ardente, salientava-se na escuridão de quatro paredes salpicadas de conversas incoerentes.

sábado, 30 de agosto de 2014

Uma tábua dois paus e quatro Rolamentos





Eles subiam o monte de quilómetro e meio nos atrelados, para se lançarem estrada a baixo em velocidade louca até à meta. Onde o computador controlava a velocidade e definia o vencedor.
Eu subia a rua com o carrinho de rolamentos debaixo do braço. Para descer o passeio em velocidade louca, que só terminava na meta depois do Kekas.
Eles equipados com toda a segurança. Fatos especiais que os amparavam nas quedas sempre possíveis nestas corridas desenfreadas.
Eu de calções e chinelos de dedo. Não olhava ao medo e cheio de arranhões, não impedia a alegria de descer (hoje) a avenida.
Eles de luvas especiais, capacetes antichoque. Davam show para a multidão que os aplaudiam a cada final de corrida.
Eu cabelos ao vento. Agarrando tenazmente a corda, para que o carro não saltasse do passeio. Ouvindo os gritos dos vizinhos que me ameaçavam de dar cabo do passeio das suas entradas.
Eles com carros adaptados, revestidos com toda a segurança.
Publicidade bem visível e bancos acolchoados.
Eu uma tábua e dois paus. Quatro rolamentos queimados.
 Voava cem metros até ao fim da rua onde o passeio terminava.
Eles com as namoradas nervosas, roendo as unhas ansiosas. Que os vitoriavam num beijo apaixonado.
Eu com a mãe á porta. De mão estendida a ver se os joelhos sagravam, para os curar com uns bofetões.
Eles desciam em três mangas. Terminando nuns piões, deixando a estrada desenhada com a borracha das rodas em círculos bem visíveis.
Eu descia até faltarem-me as forças. Ou até um rolamento desaparecer pelo bairro a baixo, por entre risadas manhosas dos que com raiva nem tinham habilidade para juntar dois paus e uma tábua.
Eles terminavam nervosos. Á procura do melhor lugar no pódio. e recolhiam eufóricos (alguns) os carros nos reboques que os levavam a casa depois da multidão se retirar satisfeita com o espetáculo.
Eu subia o passeio quase sempre com o carro estilhaçado. Mas feliz da vida com umas horas bem passadas.
Eles e eu, de olhos vibrantes fazendo da velocidade a adrenalina fantástica. Lembrando (as saudades) para mim. E um até à próxima para eles.

domingo, 17 de agosto de 2014

Eles são tantos os Abraços



Ainda tenho imensos abraços para te oferecer, depois dos inúmeros, trocados até ao entardecer.
Já caminham com o ar que respiro. Dado que desde menino abria os braços pronto para alguém receber.
Eram a busca da ternura. Do carinho que me andava arredado. Do amor que me alimentava o romantismo.
Podem ser fortes devido às saudades.
Podem ser suaves porque não cansam.
Os abraços não fartam porque transbordam mensagens.
Simples e puras, amáveis e cheias de ternura.
Não fazem perguntas, não requerem respostas.
Simplesmente transmitem amor com abundância.
E elas são tantas, que suportam a distância!


sábado, 16 de agosto de 2014

Eles enchem as Esplanadas




As ruas atulham-se de vozes estranhas.
 Altivam-se em francês, inglês, alemão e sabe-se lá o quê!
Todos descrevem as peripécias bem longe da Pátria. Numa correria constante logo que o dia nasce. E quando regressam, depois de longas horas de labuta constante, por entre estradas repletas de trânsito (aumentando ainda mais o stress), deixam-se cair no leito que serve de amparo para recuperar energias. Esperando ansiosamente que os dias passem, até que se vai mais um ano e lhes traga a alegria de voltar a Portugal, para num mês de férias, matar as saudades e reviver velhas amizades.
 Não se calam um minuto enquanto se encostam nas esplanadas dos cafés habituais, gabando-se vaidosamente como fugiram às nossas desgraças neste Portugal que não vê a luz ao fundo do túnel.
Fazem questão de estacionar as bombas bem perto dos olhares dos amigos e residentes habituais. Esquecendo-se que trancam os carros de chinelos adquiridos nos chineses e tanguinhas que só tapam as barrigas volumosas a preço de feira e já manchadas com o suor que os sovacos expelem copiosamente.
Deixam correr as horas por entre fumaradas de tabaco americano e bebidas afrodisíacas, mostrando uma qualidade de vida que termina logo que o regresso lhes chame, para voltarem a calcorrear as ruas da imigração.
Buscam o prazer dos churrascos e piqueniques nos montes que anunciam as romarias típicas no mês de Agosto.
Dançam e divertem-se com as bandas pimba que submergem como toupeiras, sabendo que os imigrantes adoram terminar as noites em refrões que falam das saudades e fazem abraçar os desejos em letras repetidamente e exaustivamente falando de amor.
Recorrem á praia para penetrar o bronze nos corpos massacrados pela dureza da vida, fazendo questão de soletrar a língua de acolhimento em detrimento da língua de nascimento. Só enquanto a pequenada e não só, obrigue a que a tranquilidade assuma momentos de fúria. E lá soltam palavrões bem audíveis na língua de Camões, estalando o verniz, quando antes eram só iás, voilás, vale, merci, e tank you. Por entre frases mais ou menos decoradas.
Infelizmente hoje são tantos escorraçados por um governo que tenta não fazer da imigração (embora pensando que não o percebemos),o esforço da diminuição do desemprego.
Os recentes saltam de país para país, já que não assentam o futuro no primeiro que lhes dá guarida.
A verdade é só uma!
 Mesmo imigrante, é tao difícil suportar a vida bem longe de quem se devia estar próximo, que tudo que façam enquanto permanecem uns dias por cá. É justificado na imensa alegria em estar bem próximos de quem lhes faz feliz.
Voltem para o ano, porque quem cá fica a amargar as medidas indignas de quem nos governa, compreende bem o que todos vós, buscam em terras longínquas. Para ter mais do que uma bucha para alimentar os filhos.