sexta-feira, 22 de julho de 2011

É Este o Dia-a-Dia


Vivemos num colete-de-forças, que nos sufoca a cada dia que passa.
E como somos dez milhões onde mais de metade conta os tostões, para sobreviver às constantes oscilações, que nos obriga a apertar o cinto, necessitando de fazer mais um furo para segurar as calças evitando cair pelo rabo abaixo, o que é moda para a juventude, mas incomodativo para quem já emagreceu devido à penúria de uma crise que já infesta a Sociedade Europeia.
Roubamos por um lado, onde exista sinais de algo colher.
E o entrar numa ourivesaria, de caçadeira apontada, com gestos ameaçadores que de um momento para o outro viram cacetadas violentas para amedrontar quem lá se encontra e poucos minutos depois, abandonam o local com sacos cheios de jóias e ouro tão apetecido, que logo encontra receptadores, prontos a derreterem as obras-primas para não deixarem rastos de pistas acusadoras.
E o abordar na rua com o pretexto de um cigarrito ou uma informação, só para se chegar bem perto e lá vai o jovem, ou a idosa, de rastos pela rua fora, num esticão violento que leva a sacola antes ao peito. Ou o dinheirito e tudo o que os bolsos amparam para as mãos dos ladrões que sabem, resguardados por uma justiça que protege o delinquente malvado e deixa ao abandono a vitima com marcas profundas de momentos terríveis.
E mais grave: chegando aos limites de tirar vidas por dá cá aquela palha, como quem diz, devido a reacções intempestivas, onde as pessoas tentam defender o que tanto lhes custou a ganhar.
Ou então, estando na hora errada e no local onde não deviam e são os alvos de uma frieza malvada, que na hora da condenação, já que o mal é que quem vai! Surgem os arrependimentos de na altura estarem embriagados, ou sob o efeito de drogas, ou mesmo psicologicamente fragilizados. E num atenuar da pena, onde os recursos são armas prontas a usar. Passados meia dúzia de anos, cá estarão no meio dos vivos gozando a vida, depois de a tirar a quem infelizmente não pode sequer fugir.
Deixamos de viver para sobreviver! Depois de nos tirarem o trabalho de tantos anos a descontar para acabar os dias de uma velhice que dá mostras de falência ainda com idade de novo para a reforma e velho para a retoma.
Deixamos de viver para sobreviver! Depois das anunciadas medidas escondidas na altura das eleições, onde nos levam o subsídio, para amortizar a divida que meia dúzia sonegadamente arrecadou e desbaratou, nas empresas estatais e privadas, lideradas pelos amigos e geridas pelos amigos dos amigos.
Mas há mais!
Aumentam os combustíveis, de uma hora para a outra logo que as doze badaladas soam.
Sobem o IVA como quem sobe o fecho da braguilha. Aumentando os bens muitos deles essenciais, levando o povo a correr em busca da quantidade para encher a barriga dos esfomeados. Em vez da qualidade para evitar a obesidade e a morte prematura nas doenças diagnosticadas sem cura de tão avançadas.
E assim lá vamos vivendo, um dia de cada vez. Muitos resignados e envelhecendo prematuramente.
Outros resistentes, lutando contra as adversidades. Esperando que a situação mude (vai durar mais do que aquilo que os mais optimistas sugerem), acreditando no dia de amanhã, como o sinal da reviravolta tão desejada.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Apeadeiro das Frases Pitorescas


Só tem uma linha esta estação!
Não tem bilheteira por isso é um apeadeiro.
Sentei-me aqui fazendo hora, porque neste dia o que não me falta é tempo para que as horas passem.
Estou só, com o som dos carros passando nas costas do apeadeiro e olho à minha volta e deparo que estou mesmo só!
São dez bancos de granito, já manchados pelo uso. Cinco de cada lado, com a linha no meio. Esperando que o comboio passe, mas não sei quando o fará.
As paredes onde me encosto como costas dos bancos, estão decoradas de frases pitorescas., bem visíveis mesmo a longa distancia.
E o “ Amu-te Janete”, está mesmo por cima do meu ombro direito.
O ó foi trocado pelo u e pelo nome, Janete deve ser um avec.
O erro: eles vão para lá sem saber ler nem escrever. Por isso quando voltam nas férias, falam francês para convencer e quando regressam um mês depois, continuam no mesmo; sem saber ler e escrever.
Gostei da do”Gang dos Calções”, bem visível a vermelho e outra mais à frente sublinhada a verde.
Assim sei que, jovens juntos de calções é pôr-me a milhas logo que a minha vista os alcance.
Outra é mais romântica: “Amo-te Maria” finaliza com um coração desenhado, típico de quem ama alguém e adora embelezar paredes onde se concentram demasiadas pessoas. Espero que a paixão se mantenha por muito tempo.
Chegou agora um casal, que espera apanhar o comboio. Mas não sabe se já partiu, ou se ainda vai chegar.
Pergunta-me se ele já chegou e eu digo-lhe que nos dez minutos que cá estou, a linha continua sem comboio que chegue ou que parta.
Nisto o som do altifalante, anuncia a chegada do comboio, vindo do Porto com destino a Guimarães. E o casal solta um alívio e prepara-se para o embarque.
Mais uma frase original, daquelas que nos põem a ler e a reler, enquanto permanecemos nesse local.
“Melhor Amiga” “Porque és a totó de todos os santos dias”, belo! Grande dedicação, ser amiga de quem descarrega as frustrações.
O comboio chegou! Quatro pessoas saíram. Duas de um lado e outras tantas do outro. E lá se foi sem levar o casal, que entretanto descobriu que não era este, o comboio onde precisavam de viajar.
E por aqui não me fico, dado que agora surge uma mulher de meio corpo, com a mão no bolso, onde o símbolo do euro forra esse mesmo bolso.
Por baixo diz: “A Capital é Nossa”. Não imagino a que se refere. Se a Lisboa, se a alguma discoteca que conheço com este nome.
É desenho de maquete, talvez ande a colorir outras paredes das redondezas.
O tempo está fresco, o sol já se foi e ainda a tarde vai a meio.
Como me sentei aqui para passar um pouco do meu tempo, vou por fim para o meu destino, olhando pela última vez, para as frases de letras garrafais que enchem as paredes deste apeadeiro, já com um banco repleto de mulheres de meia-idade.
Uma, com um cão pela trela, curiosas por verem alguém solitário de caneta na mão escrevendo numas folhas. O que sinto nos seus olhos vontade de saber.
E o último banco do lado em que me encontro enche-se de cinco jovens na idade da afirmação.
Um já partiu a garrafa de sumo que trazia de encontro ao banco que fica em frente ao seu. E os restantes não param de atazanar o cachorro, que a qualquer gesto deles, ladra incessantemente.
Como já me estão a incomodar, vou-me embora deste apeadeiro que fica bem longe de onde vivo e não tenciono em cá voltar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Vento que Varre as Praias


O vento forte levanta a areia e afasta qualquer tentativa de gozarmos a praia neste Verão que nos brindou com um mês de Julho, péssimo para banhos de sol e amaldiçoado por quem goza as suas férias nas praias nortenhas.
Atira com as pessoas para os Shoppings e desespera quem espera o Domingo para inspirar o ar do mar e deixar que os miúdos desprendam as energias nas constantes correrias por entre a areia perto da barraca e o fim do percurso da onda que molha os pés e o rabito, quando se sentam esperando a onda já sem força, que desfalece naquelas pernitas tão tenras, proporcionando gritos de alegria em rostos tão belos das criancinhas.
Já que não se suporta o vento, que levanta a areia, goza-se a vista e a comida no restaurante virado para o mar onde se elogia os mais afoitos que mesmo com aquele levantar de areia. Armam os, tapa vento e lá se estendem ao comprido, para receberem o sol e justificarem por algumas horas os quilómetros percorridos.
As poucas barracas que resistem ao vento, sofrem grandes danos e constantemente o pano encarnado da parte de baixo levanta com o símbolo da OLÁ, em forma de coração bem reluzente. Deixando à mostra os quatro paus com que se fazem uma barraca de praia.
A primeira a contar do mar num sector de dez. Está, pasme-se, ocupada por um casal de turistas, com três pequenotes tão loirinhos que logo chamam a atenção.
São nórdicos tenho a certeza!
E com o progenitor atento, lá andam os três. Com a mais velha a rondar os seis anos e o mais novo na casa dos três, em correrias constantes por entre gritos divertidos, tentando parar o vento de braços totalmente abertos bem vincados naquelas pernitas tão tenras, que dão suporte aos corpitos onde os maravilhosos cabelos loirinhos realçam tamanha beleza.
E lá vão eles numa correria desenfreada de encontro ao mar, onde nem o vento, nem a areia que ele transporta, os impede de entrar mar dentro como quem diz, água até aos calçõezitos.
Saltam a cada onda que chega. E com isso são abençoados com salpicos de água salgada pela cabeça abaixo, o que origina gritinhos estridentes, com o mais pequenote a fugir de encontro ao pai que atento vigia a inquietude dos filhotes.
É uma beleza assistir a este cenário de três garotos loirinhos que não param.
Observo fixamente a felicidade estampada naqueles rostos, esperando as ondas chegarem até si e pulando constantemente.
Ora dando uns passos atrás, quando a onda assusta pelo seu tamanho, mas rapidamente uns passos em frente, logo que a onda já cabisbaixa regressa ao mar onde se formou. Até que o frio os vence e saindo da água já trémulos, finalmente vencidos pelo cansaço, correm em direcção à mãe, que os espera de toalha bem aberta para os enrolar e os aconchegar.
Primeiro o mais pequeno, tão pequenote que saudades. Que vontade de me levantar e pegar-lhe ao colo.
Depois a menina, cabelos compridos tão belos, que estendo a mão esticando-a trinta metros, sentindo aquele cabelo molhado tão loirinho, que desperto da sensação e observo a mãe dar asas à minha imaginação.
Por fim o aproximar do último herói. Que enfrentando o vento, a areia no ar e a água gelada que lhe cobre o corpo de tremeliques incessantes. Engatinha-se nos braços da mãe, para se aquecer e descansar de tantos saltos e correrias.
A mamã sentada no meio protegida pela barraca, carrega os três mosqueteiros colados a ela. Dois braços aconchegam os mais velhos e o pequenote escondido no regaço, formam uma bola de toalhas às cores com três cabeças loirinhas, num cenário do país das maravilhas.
Saborear uma espetada de gambas e um robalo grelhado, com feijão verde e meia dúzia de batatas cozidas no ponto de deixar água na boca partilhado a dois. Com a janela protegendo do vento incessante, perante uma visão destas. Por momentos recuei no tempo e recordei o Nuno também loirinho, com o irmão e a irmã que não eram loirinhos, nas mesmas brincadeiras e diabruras dos pequenotes bem acomodados ao corpo da mãe. Foi o expoente máximo de um Domingo mágico, mesmo com vento e sem mar para ao menos molhar os pés e caminhar, que tanto adoro.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Fugir à Rotina


A adrenalina falta-me já que a rotina é desesperante
Dou várias voltas na cama, quando sinto o bater do portão da garagem, anunciando os primeiros vizinhos que se apressam para o trabalho, ainda meio mundo aproveita para mais uns minutos de caminha, até que a sua hora bem vincada no relógio digital o obriga de um salto a correr para as obrigações diárias.
O café da manhã abre os olhos presos num refúgio de moleza repetitiva e afugenta as correntes que prendem as ideias ainda embaladas no aconchego das mantas, que mantêm a cama por algum tempo na harmonia do abraço.
Quero este dia diferente!
Com novidades. Com adrenalina. Com excitação!
Os miúdos estão de férias, num clima de relaxe. Fugindo aos horários escolares e como tal, deixando-se arrastar pela noite dentro, envolvidos na troca de mensagens no facebook e nos jogos de vencedor antecipado.
Outros nas series televisivas, que se prolongam já com os pais recolhidos num sono necessário para recuperar energias.
Por isso para eles a manhã não tem hora de acordar. Porque férias são férias e há que facilitar depois de um ano em que o aproveitamento merece honras de elogios.
O tempo está abafado e vai passando sem novidades. Logicamente a adrenalina recolhe-se numa neblina.
Tento que algo mude, mas é escusado. A vida corre rotineiramente onde espero que algo surja mas nada muda.
E assim a manhã se vai num ambiente rodeado de ruas coloridas pelos prédios, ora verdes onde se vislumbra o pinhal não muito longe. Ora castanhos claro, como o sol que se mantém alto, mas de quando em vez tapado pelas nuvens que mancham o azul do céu, num branco cinza bem acentuado.
O almoço termina e é hora de irmos à nossa vida.
Os filhos ficam absorvidos pela moleza do conforto e os pais pela correria das obrigações.
Obrigações para um. Que se esfalfa para manter o que levou a custo conseguir. E para outro a mudança tão necessária, mas que ainda tem um longo caminho pela frente.
Esse caminho não pode ser a rotina, porque levará à ruína.
Terá que ser serpenteado pela adrenalina, já que só assim será conquistado com dinamismo.
Terá que ser excitante, para erguer o futuro sólido, nestes próximos anos. Onde os desafios assumidos pela vida já passada, terão que ser uma realidade para a felicidade de quem tanto labutou por ela e precisa dela.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Não Somos Lixo, Somos Conquistadores


As medidas para salvar o país de cair num fosso sem fundo, sucedem-se quase umas atrás das outras logo que os resultados das eleições foram confirmados.
São a implementação das medidas da TROICA e, como senão bastasse, o governo tenta antecipá-las. Com os portugueses resignados, numa de encolher os ombros repetidamente, como querendo dizer: que não à nada a fazer.
Aperta-se o cinto num estômago habituado a mesa farta. E corta-se no orçamento já reduzido, aos bens supérfluos que cresciam água na boca.
E como se não chegasse para infernizar a desgraça, alguém desabafa que levamos mais um murro no estômago e da Europa que já nos elevou a grandes conquistadores. Surgem medidas que nos convertem em lixo sem recolha, que se vai amontoar nos caminhos que tentamos ultrapassar.
Lixo! Somos lixo!
O dinheiro vai ficar mais caro, originando a que o ganha-pão, se torne em ganha bucha.
Os bancos onde temos as míseras economias para assegurar os empréstimos de habitação. Passaram a ser lixo!
Empresas que nos transportam para os grandes centros, já nada valem, tornaram-se lixo para os endinheirados das agências que nos avaliam.
E nós pobres portugueses, mais de dez milhões. Cheios de história e de conquistas antes inimagináveis. Somos também lixo!
Remetem-nos para as sarjetas da imundície, num acumular de visíveis montes de desperdício, sem hipótese de reciclagem.
Só nos resta mostrar a essas agências, autenticas funerárias, que embora pobres, estamos vivos e somos dignos. Assim sendo, lutar para que nestes próximos tempos, possamos recolher todo o lixo que nos depositaram às portas das fronteiras. E num vai e vem em direcção aos aterros financeiros, descarreguemos essa matéria mal cheirosa e possamos respirar a confiança na nossa capacidade.

domingo, 3 de julho de 2011

Barcelos E a Moda


A Moda Barcelos leva à prática o que de melhor os designers e os lojistas, cá da nossa terra criam dentro dos gabinetes, para serem a montra das suas colecções. E durante dois dias o hall de entrada do edifício camarário foi o centro de toda a adrenalina que a moda Barcelos transpira todos os anos por esta altura.
Não faltaram as figuras públicas cá da terrinha num espaço gigante em forma de U, que acomodados nos seus devidos lugares, eram os cicerones principais.
Mas a passarele, pertencia aos modelos e eram eles que transportando as colecções naqueles vistosos corpos frágeis demais, devido ainda à pouca idade, sugavam os milhares de olhares de uma plateia que encheu todos os lugares, mas onde se podia introduzir mais um corpo.
Uma delas distinguia-se de todas as outras!
Alta como o céu como convêm a uma modelo.
Elegante como uma estrela numa noite fresca que ficará na sua memória.
Linda como a mãe, que juntas, arrebatam corações. Uns já experientes pela vida, outros na flor de uma nova geração.
No começo um sorriso tímido, mas com o decorrer do fantástico desfile, aberto. Realçando pureza estonteante e leve como todo o seu corpo, que sensibilizou quem não tirava os olhos desta beleza.
Éramos poucos juntos!
Mas muitos mais, pelas bancadas fora. Aguardando ansiosamente que pela porta dos Paços do Conselho, surgisse aquela garota ainda na idade do chupa-chupa. A desfilar os vestidos, os casacos, as saias, os biquínis. Eu sei lá tanta roupa, que já nem sei recordar as cores. E não nos contínhamos, logo surgindo uns gritos histéricos lançados como uma força incontida, para dar mais energia à miúda que enchia a passarele em forma de cruz inclinada, num passo ritmado, onde os flashes e os holofotes tomavam lugar como guias num percurso que a elevavam ao cimo das estrelas.
O momento alto ainda era aguardado e nem a brisa fresca era motivo para resguardar as emoções. Quando a colecção do convidado especial Pedro Pedro, salta para a passarele num vai e vem de jovens que deixavam os outros jovens nas bancadas de olhos em bico. E outra vez a minha querida não uma, mas duas, é admirada num passo admirável, pela passadeira da fama local, numa emoção sem par.
Herdou o nome da mãe e a altura que Deus lhe quer dar.
A beleza de uma mistura de dois seres e a inteligência da harmonia do dia-a-dia.
Ainda não está com os pés na terra. Mas sabe que tudo é efémero.
Para o ano lá estará, mais forte e mais convencida de que vai fazer o que realmente gosta. Pelo meio terá mais oportunidades e quem sabe se não teremos uma modelo por agora como hobby, esperando que alguém entendido na matéria a descubra e de um diamante puro, a transforme numa menina de valiosos quilates.