quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Vinte e Sete




Comprei um bolo de chocolate como ele gosta.
Espetei-lhe duas velas e juntei os quatro colegas
Cantamos os parabéns com os olhos húmidos
Verti duas lágrimas que fulminaram as chamas

A primeira apagou a vela dois
Tinhas esses anos e já corrias e saltavas
Difícil era apanhar-te, só quando choravas
Aconchegava-te no colo e silenciavas o pranto

A segunda apagou a vela Sete
Entraste na escola e logo correste atrás da bola
Horas depois fui-te buscar ansioso.
E tu radiante, mostraste-me o teu nome no caderno de ouro

Como vês são vinte e Sete
Os anos que desabrochaste pela vida fora
Muitos pais sentem a dor dos filhos fora
Eu estou fora, mas a alegria é bem cá dentro

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Parabéns Filho




Escrever todos os anos sobre o aniversário de um filho, obriga a repetir-me em demasia sobre qualidades do mesmo, adquiridas sob a minha tutela.
Hoje está por sua conta, não longe de mim porque está sempre tão junto que lhe sinto a respiração como se ainda fosse um menino.
Agora homem feito e de linguagem precisa, sem grandes argumentos para eu contrariar as suas certezas. Vai conseguindo levar a água ao seu moinho.
Tenho um filho enorme!
Em altura e sabedoria e como tantos jovens, desperdiça a inteligência com que formou a sua aparência.
Educado, sem vícios. Orgulhoso e interventivo.
 Ainda não entendeu o dom que Deus lhe deu!
Foi o primeiro!
Transformou a minha vida num crescimento rapidíssimo, para fazer frente em tão curto espaço de tempo a Pai e Marido.
Esteve no bom e no mau. Mas a um filho tudo se oferece. E tudo merece!
Parabéns Diogo e sempre o soubeste: Sabes onde me encontrar e tudo farei para te alegrar.
Vai, diverte-te! Dança com quem conquistou o teu coração e perdoa quem te jogou para o pantanal.
Abraça a vida e colhe dela o melhor que ela te abençoa.  Sem pores em risco a tua ainda frágil personalidade.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O meu Anjo da Guarda




Sonhei que voltava a amar-te
Depois de me violentares o rosto
Ainda com as mazelas vincadas
Perdoei o meu próprio desgosto

Surgiste do escuro da noite
Armada com um punhal afiado
Trespassaste o meu peito com raiva
Desfaleci com essa imagem

Momentos depois ressuscitei
Lançando piropos a um anjo
Repreendeu-me das minhas blasfémias
Lembrando-me ser o meu anjo da guarda

Acordei banhado em suor
Corri a levantar o estore
Levei com o dia já alto no rosto
Convenci-me que não existia qualquer desgosto

domingo, 24 de janeiro de 2016

Serão três Meses





Volta inspiração que estás perdoada, depois de uns dias amargurada.
As palavras, não as levam o vento. Algumas, ficam bem cá dentro.
E ficando. Perduram para sempre, emergindo a qualquer momento.
São essas palavras que me identificam nas bóias da vida para não ir ao fundo, quando por vezes sou atingido por vagas agitadíssimas.
Por agora, degusto um bacalhau assado mergulhado em azeite da oliveira do pai cá do Paulo e já saboreei um porto vindo em garrafão de cinco litros, dum cantinho escondido para lá do Douro adormecido.
Um colega celebra o aniversário e como é apanágio dos portugueses, oferece comes e bebes, para dar pela noite dentro.
Outro, é lembrado por se ter ausentado à última da hora, numa viagem relâmpago de encontro ao pai, gravemente debilitado.
Foram-se quinze dias desde o regresso de Portugal e mesmo com frio de rachar o juízo, o tempo passa num caracol malandrão, escondido sob uma invernação.
São três meses cá na terra, onde o ouro nasce como o sol no nosso cantinho à beira mar.
Todos aterram por cá!
Agora são os refugiados a invadir todos os espaços.
Parecem formigas, correndo famintas atrás sabe-se lá do quê?
Uns já deixaram marcas da agressividade que carregam desde o berço.
Outros esticam as mãos, mas para pedirem a ajuda que lhes convém.
Outros coitados, percorrem as calçadas até aos abrigos que lhe foram destinadas.
Enquanto isto, a noite não muito fria observa uma mesa farta de aconchego para o corpo e abre a exteriorização a alguns de nós, em histórias que mesmo mil vezes contadas, ressalvam algum pormenor entretanto lembrado.