domingo, 30 de junho de 2013

Cada dia é um Passo



Foram-se os santos. Desvaneceu-se a folia.
Arrumaram-se os arcos e encostaram-se os manjericos.
Rodamos a cabeça para a realidade da vida. Que não dá mostras, de nos oferecer um simples sorriso!
Até quando viveremos deste modo! Perdendo um pouco do que ardorosamente conquistamos.
Perdemos direitos.
Perdemos o emprego.
Perdemos o encanto
Perdemos a liberdade!
Resta-nos a fuga, para encurtar as distâncias e assim conseguirmos oferecer um pouco da qualidade de vida, a quem nos encanta.
Estamos longe, mas tão perto de todos!
É na distância que se encolhe o caminho, para abraçar com mais ardor os rostos que nos acompanham a cada minuto. A cada hora. A cada dia, neste frenesim contínuo.
Queremos a praia para curar as mazelas de dias e dias ajoelhados, ou em bicos de pés. Para alcançar a satisfação de quem nos guia.
Queremos o rio (aí que saudades ai ai), para reencontrar as promessas e conquistar as certezas.
Queremos a Natureza para encontramos as raízes que nos guiam.
Queremos as férias para estendermos as mãos aos cumprimentos dos amigos. Dos vizinhos. Dos meramente conhecidos.
Queremos o mundo!
Porque ele nos pertence.
Porque já tem um pouco de nós.
Já lá deixamos o sangue que brota do corpo, a cada embate nos umbrais da construção diária.
Já lá deixamos o suor, infinitamente colado a nós em jornadas canículas de horas infinitas.
Já lá deixamos pingos de lágrimas, secas logo que brotam pelo calor primaveril. Ou rapidamente congeladas pelo Inverno sem fim.
Cada dia é um passo!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Arrisquei Espreitar



Arrisquei espreitar o poço, onde emergia uma carinhosa frescura.
O entusiasmo era enorme e numa carambola, mergulhei na solidão moribunda!
Não tinha escada, nem uma simples corda que me desse a luz do dia.
Cravei as unhas nas pedras incrustadas de musgo e retalhei o corpo a cada segundo!
Demorei uma eternidade a ver os raios solares a indicarem-me a saída.
A dor violava a minha alma!
E dou com a alegria de sentir o vento a elevar-me o cabelo.
Sol de pouca dura!
 Uma sombra abafou a entrada e uma bota enorme, enfia-me de novo na solidão moribunda.
Não desisto e esgravato ainda mais o corpo já retalhado, como Cristo, a caminho da cruz.
O tempo alonga-se como a desilusão de amar. E como já tenho o caminho traçado, pela queda das unhas cravejadas nas pedras escorregadias.
Sigo esse trilho, com o coração servindo de almofada para confortar a alma já depenada.
Por fim chego ao cimo. Sem antes acautelar o fatalismo.
Irei continuar a espreitar a frescura, para sentir de novo o entusiasmo dos carinhos, sem necessitar de mergulhar na solidão moribunda.
    




segunda-feira, 24 de junho de 2013

Eras a menina Prometida



Nascias bem gorduchinha, dum corpo que me transcendia.
Com uma cabeleira de espantar, onde o negro trazia a noite tantas vezes, cenário do amor agarrar.
Logo que te segurei, como quem abraça um anjo. Senti a fantástica sensação de ser novamente pai!
Eras a menina prometida, num jardim ainda com canteiros para florir.
Choravas, porque querias gatinhar, já com ganas de a rua alcançares.
Choravas, porque querias andar e enervavas-te ao caíres, depois de dois queridos passitos.
Choravas nas correrias, para apanhares os desafios que a infância te oferecia.
Eras feliz, ao enfrentares a escola!
A tua sagacidade desafiava os conhecimentos de quem te ensinava.
Eras feliz, ao estares tão perto de nós!
 Sentias-te tão protegida, que brincavas com as partidas que o destino muitas das vezes nos brinda.
E crescias como a beleza da Natureza.
Ainda andavas na idade da chupeta e já não necessitavas dos bicos de pés, para me puxares repetidas vezes as orelhas.
Sorrias das minhas piadas sobre os namoricos. Mas encostavas-te ao meu ombro, para a boleia com destino ao prometido.
E num abrir e fechar de olhos fizeste-te mulher!
Mulher que reivindica o seu espaço, numa sociedade a desafiar os mais capazes, a agarrar as escassas oportunidades.
Mulher que quer ser feliz, com o homem que lhe diz: o amor é para toda a vida! Ciente que o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira.
Mulher que protege os amigos e não perde de vista os irmãos, cada um com o seu quê de feitio.
Mulher que és minha filha, bem longe da tua presença, mas tão perto da tua beleza.
Parabéns filhota!
Dezoito anos é a emancipação de verdade!
 Mas continuas obrigada a seres a Ana Barbara, como durante estes anos que envaideceste quem contigo partilhou, orgulhosamente todos os momentos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A dor de quem não Aguentou e de Quem Ficou



A dor da morte é terrível!
É a escuridão a aproximar-se, para nos cobrir no último suspiro e enviar-nos a alma, para o vazio.
Uma dor longa, demolidora. Desbaratando o organismo e flagelando o nosso aspecto.
Há dor maldita!
 Que te alimentas dos pobres desgraçados. Sem unhas para cravar nos troncos salvadores, para não caírem nas tuas garras, já em posição de trespassar o corpo mortalhado.
Porque existes ó dor?
Para que viestes enfeitar este mundo?
Porque te transformas numa morte dolorosa?
Tens um prazer diabólico em levares completamente desfigurado, a beleza ainda recente: De mulheres apaixonadas. De filhos felizes sentindo-se amparados. E de familiares com prazer em ter a tua visita ao pé da porta.
A dor por vezes é madrasta demais. Confere-nos um cenário macabro de fragilidade intensa.
Lutamos para que ela deixe de nos atormentar e vá procurar descarregar a sua raiva noutro lugar, bem longe. Mas mesmo bem longe da nossa vista. E nunca mais nos corroía a paciência.
É fugir de nos encontrarmos no meio da sua fúria. Não à milagreiro que nos salve de um desaparecimento prematuro.
  



domingo, 16 de junho de 2013

Não é necessário um Milagre só uma Forcinha



Linda noite, que se fez dia!
 Que espanto de liberdade.
Que emancipação de adrenalina.
Que relaxe, agora que o sol toma conta do dia!
Horas seguidas, guiado pelas ondas da música, numa levitação espontânea, olhando para dentro de mim próprio e soltando rostos aí armazenados.
Acompanho alguém que passa um momento nada fácil.
O importante é unir-nos e proporcionar uns amarrotados ensejos, para libertar as apreensões que esta vida impinge.
E nada melhor que uns lampejos de boa disposição, que obriga a parar de assistir a lamentações e levar a mente acreditar. Que tudo irá passar e logo estará juntinho a nós, para dançar a alegria que a caracteriza.
Bebe-se pouco, já não temos idade para mudarmos de personalidade e, dançamos muito.
Pelos altos e baixos de uma pista, onde sou convidado a encostar-me a uma tipa que segundos depois, encosta o namorado (ou o sustento), às cordas obrigando-o a desatinar e sair porta fora.
Não necessito de nada.
Não preciso de bailados a dois.
A idade da afirmação, já está nos ombros dos meus descendentes.
Quero o meu espaço e a gratificação do amigo estar a divertir-se sem esfregar o chão.
Agora o sol toma conta do dia!
Vou abrir os braços e saudar a frescura do início da tarde.