terça-feira, 31 de julho de 2012

Os Caminhos de Santiago tão Presentes


Dois anos se passaram, depois de as portas da Matriz se abrirem à frescura da manhã, para iniciarmos com a energia toda de quem nem sonha para onde vai, a caminhada rumo a S. Tiago de Compostela.
Os primeiros quilómetros foram galgados como quem vai para uma festança.
 Conversa daqui, piada dali, lá rumávamos por caminhos ainda a cheirar ao asfalto, já que ainda estávamos em zonas muito habitadas.
As horas avançavam e o cansaço galgava o meu corpo.
Encontrava-me todo dorido!
Pudera, caminhei horas e horas. Em muitas ocasiões marchei e outras mais, acredito que talvez voasse. Para fazer perto de quarenta quilómetros por etapa, nas seis que precisava para chegar ao local da coroação.
 O calor queimava os neurónios, mas estava feliz. Acreditem, estou a ser sincero: mesmo feliz!
Calcorreava caminhos abertos pelo meio da serra, onde em fila indiana nos desviávamos das naturais dificuldades do percurso, salpicado de socalcos bem desnivelados, obrigando-nos a caminhar em ziguezague e subíamos com prazer o dorso da serra que mais nos aproximava de peregrinos.
A Natureza impunha-se, com o verde como cenário de eleição e sem vestígios de contacto humano, a não ser o do grupo. Caminhávamos carregados de prazer em ali estarmos e sentindo todos nós, a adrenalina da fé que todos procuramos em reencontrar.
A missa aproxima-se, o momento é de respeito e de oração!
Um adro de uma capela, pequena para tanta gente que se arrasta para uma sombra, depois de horas caminhando sob o sol abrasador. Obriga a improvisar a Cerimónia ao ar livre e num altar que faria Cristo saudar a beleza simples daquele espaço. Deu-se, início à Eucaristia, que ficou nos corações de todos os que assistiram.
A fé! O encontro com nós mesmos! A procura de um sinal! São momentos que os Caminhos de Santiago nos proporcionam.
Mas parar era” morrer”, então descemos o monte, onde nem aí corria brisa. Senti que Deus nos estava a pôr à prova todas as nossas capacidades.
Enquanto descíamos deslumbrávamos a baía de Vigo, que nos acompanha na descida e contemplávamos toda aquela imensidão de água.
Imaginei-me a saltar por sob o mato e descendo, descendo, de braços bem abertos, para terminar num mergulho prolongado de encontro aquela frescura….
E descendo e descendo, para a realidade, firmo os pés numa força para não dar uma queda de encontro ao fim de mais uma com um sorriso que me embala, lembrando-me uma sua célebre frase: “ A vida é uma arte”.
Toca a dar à perna e entrando novamente pelos campos, onde o milho é rei e senhor do verde semeado pelo homem. Algo esperava por nós e num céu que se mostrava manchado de nuvens brancas e negras vindas do lado do mar, a chuva apareceu para nos acompanhar todo o dia.
Primeiro, uns pinguinhos a desenhar formas no caminho, que a nossa mente sempre virada para o chão, tentava dar um sentido.
Depois certinha e miudinha. Obrigando-nos a colocar os impermeáveis e lá caminhamos meio indiferentes a este contratempo. Até demos graças, a Santiago (lá está o Santo a entrar no peregrino), porque refrescou o tempo.
 Haja fé gritávamos nós e lá enfrentamos os caminhos com água, entrando pelos campos a dentro para a evitarmos.
Subíamos carreiros de cabras com redobrada vontade. Caminhávamos por baixo de ramadas com as uvas ainda verdes, esperando por mais um mês, para amadurecerem e servirem para espremer o néctar tão suave durante a refeição.
A chuva não deixava muita margem para conversas e toca a seguir os marcos que nos indicavam o caminho e também a partir de certa altura os quilómetros que faltavam para o grande dia.
Umas horas de sono, depois de um jantar de sonho (a fome era imensa, que qualquer jantar era de sonho), retemperou as forças e as mentes. E toca a partir, natureza a dentro com a noite ainda presente.
O silêncio imperava e a caminhada era regulada pelos bateres dos cajados que muitos de nós carregava.
As aves acordavam com a nossa chegada. Olhávamos a inclinação do terreno logo bem ao nosso lado seguindo o riacho que nos acompanhava durante alguns minutos.
Duas horas caminhamos ao som do matraquear dos cajados. Sem muitas conversas e inclinados para dentro do nosso, eu.
O caminho já percorrido mudou a nossa forma de ser. Agora éramos mais peregrinos e mergulhávamos por largos momentos na fé que muitos procuravam como o sinal esperado, desde que pusemos pés ao caminho.
Enquanto caminhava recordei esta mensagem: “Não passes pelo caminho, deixa antes que o caminho passe por ti…”
Esta frase que ocupa o início do livro que sempre me acompanhou é o prenúncio do que tentamos agarrar com esta caminhada. E a oração matinal do Peregrino de Santiago, era o acordar para a busca do que procurávamos.
A pressa em chegar suplantou a necessidade em parar para recuperar forças.
Caminhei praticamente em silêncio num encontro comigo próprio, fazendo um balanço destes dias e preparando-me para entrar na Catedral, numa de agrupar e ao mesmo tempo extravasar a emoção de tudo aquilo que senti.
E pronto! Chegou a hora para avançar e entrar na praça, seguindo pela última vez o nosso incansável líder.
Cantávamos sem cessar embalados pelo entusiasmo de todos.
Foi lindo, bem lindo. Esta nossa entrada!
As pessoas que já se encontravam na praça, abriam alas e muitas delas de câmara de filmar guardavam o testemunho à nossa passagem e oitenta almas cantando sem parar, davam a primeira alegria a uma praça que não parava de se encher.
Entramos na catedral a rebentar pelas costuras.
Eram peregrinos dos quatro cantos do mundo e ocupamos os lugares das pessoas que já se iam, esperando para assistir à grande Eucaristia, presidida pelo arcebispo de Sevilha.
Foi com grande emoção que assistimos a uma nossa colega, ter o privilégio de ir ler a primeira leitura em português no meio de uma multidão onde os serviços em espanhol, galego, italiano, inglês e latim. ... Ditavam leis.
O prior também assumiu um lugar no altar-mor, como merecimento por conduzir um grupo volumoso com palavras de abrir os corações e cajado para impor as condições. Grupo, esse, que iniciou esta cruzada respirando curiosidade e terminou-a emocionado com a grandiosidade da fé.
A Eucaristia caminhava para o seu final e mesmo o longo tempo que já tinha passado dentro desta inigualável Catedral, não trazia cansaço algum, pelo contrário, era um prazer partilhar estes belíssimos momentos.
O ponto alto, ou seja mais um, é quando o gigantesco defumador é aceso.
Um ritual que ombreia com a visita a Santiago e que deixa todos de olhos em bico.
São momentos fantásticos assistir ao vai e vem, numa pequena distância que vai aumentando enquanto vai; subindo, subindo e subindo. Alcançando quase as duas extremidades da Catedral, bem por cima das nossas cabeças. Controlado por vários homens que lhe dão o movimento preciso para que ele alcance o objectivo pretendido.
Por fim regressa ao ponto de partida reduzindo a velocidade, enquanto desce no mesmo vai e vem com que iniciou a subida.
É um regalo e centenas de máquinas registam o maravilhoso momento.
Saímos para a praça e abraçamo-nos afectuosamente por esta Caminhada ter um fim tão apoteótico, que justificou de longe todo o esforço por que passamos.
Do início em Barcelos bem dentro do coração da Matriz, até aqui em Compostela, tudo estava terminado desta experiência memorável,dando por concluído este:
“Caminhando a pé para encurtar a distância
Entre mim e….
O meu Eu….
O dos outros, o do outro….

segunda-feira, 30 de julho de 2012

De Medalhas nem Sombras

Os jogos ainda estão a dar os primeiros passos e nós portugueses, já estamos descrentes.
Duas mãos cheias de atletas já competiram e sem resultados à vista.
Alguns levavam grandes esperanças na bagagem, Telma Monteiro era o nome mais sonante. Mas logo aos primeiros retoques de bravura, notou-se que não chegava para destronar os adversários.
Não temos Cristianos Ronaldos, nem Mourinhos com grande poderio. Esses desde logo garantiam medalhas cá para este pequeno país a necessitar que falem de nós além fronteiras, para desanuviar as nuvens negras que acamparam nos nossos céus, não nos deixando por nada neste mundo.
Não temos políticos como Guterres padroeiro dos refugiados.
Nem Constâncio como vice do BCE, onde abunda os euros como se fosse petróleo nas Arábias.
Já não falando de Barroso, presidente da Europa, onde se deixa guiar a duas velocidades.
Vai de Mercedes quando acompanha a Merkl e seus amigos. Recusa os Fiat, quando países de mão estendida como nós. A  Grécia, a Irlanda e alguns que já marcam passo, o convidam para dar uma ajuda.
Com estes lá vinham medalhas de ouro, prata e bronze a cada prova que participassem.
Como não os temos, lá vamos assistindo aos recordes batidos pelos homens e mulheres das grandes potências, como se fossem gaipos de uvas a cair ao chão pela altura das vindimas.
Mas ontem, ia o Domingo ainda fresco, uma atleta Coreana, daquele país que tem metade da população a comer tudo o que encontra pelo chão (que desgraça). Entrou no tapete londrino, com o pavilhão a rebentar pelas costuras e primeiro foi a Francesa ao tapete quase num abrir e fechar de olhos.
Logo, logo, ainda não tinha recuperado as forças (para quê, elas brotavam como sementes em solo fértil), foi-se a campeã olímpica em titulo, num esgar de categoria, que deixou os entendidos no judo (só agora) a acreditar que esta moça poderia vencer (como pode ser possível, custava a acreditar), e arrebatar a medalha de ouro, só ao alcance dos predestinados.
E venceu!
Assisti ao seu combate e como apoio sempre os mais pequeninos (aqueles que fazem frente ás vedetas candidatas), deu-me um gozo a sua vitória.
Esta jovem vinda da Coreia, sem palmarés e sem holofotes da ribalta a abrilhantar a sua imagem. Bateu quem lhe surgiu pela frente. Uma, duas, três e pumba de medalha de ouro ao pescoço fez subir a tão infame bandeira (dum país que ameaça a segurança mundial) e obrigou a quem assistiu, ouvir o hino odiado. Imagino a festa lá para os lados da ditadura, um herói (heroína), já tem estátua na praça garantida.
Quanto a nós, ao que resta. Vamos esperar para ver e acredito que alguns dos nossos atletas se vão superiorizar a si mesmos e dar uma enorme alegria, aqui aos dez milhões e mais alguns de Portugueses, que esperam sempre por um Carlos Lopes, Rosa Mota e companhia.




quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Estação


A Estação é o ninho das memórias e o local das demoras.
Tantos anos de histórias que se cruzavam com a incerteza da partida e a certeza da chegada.
É a entrada de sonhos em relação ao futuro dos jovens esperançados em conquistar o patamar da realização.
É a entrada de quem normalmente vem a correr para apanhar o comboio, com destino ao seu trabalho, seja logo na primeira cidade em que pare. Seja no fim do seu percurso bem pertinho do coração do Porto.
É a entrada para quem vai vistoriar o seu corpo, normalmente no Porto, para fortificar a saúde, debelando males ruins, depois de anos de canseiras e asneiras.
É a entrada de possíveis encontros, que poderão dar juntar os trapinhos, ou no pior dos casos atraiçoar os lençóis, de um amor que pensavam ser para toda a vida.
É a entrada (agora reduzida), de soldados que iam dar tropa, quase todos contrariados, mas obrigados de farda horrível mascarados. A lutar por uma pátria, mas na prática, a servir uma cambada de oficiais. Que, como não sabiam fazer mais nada, enchiam os bolsos e a pança.
É a entrada de quem mora da outra banda, que a utilizam vezes sem conta, para mais rápido chegarem às suas casas.
 É a saída de quem terminou um longo percurso depois de anos a fio, a queimar as pestanas, aproveitando os comboios para por a matéria em dia.
É a saída depois de um longo dia de trabalho com a viagem em comboios, com cheirinho a estrume de vaca. Parando em todos os apeadeiros, para no dia seguinte voltar ao mesmo do costume.
É a saída daqueles que regressam do doutor, esperançados na cura, que sendo deveras especialistas, só se encontram na grande cidade.
É a saída de quem vem feliz, porque arranjou a companheira do futuro, para ser a mãe dos seus filhos. Ou com um sorriso maroto, depois da facadinha no matrimónio. Ou em desilusões, depois de tantas ilusões.
É a saída dos soldados agora mascarados de saudades. Correndo velozmente ao encontro das namoradas, depois de dias seguidos fechados em quarteis com sentinelas para bater a pala aos Coronéis.
É a entrada dos moradores, vindos da banda de lá, para a cidade visitar, em compras tão necessárias, ou em lazer banal numa cidade pequenina, que tem a sua Estação como um marco da sua história.

  


terça-feira, 24 de julho de 2012

O Sabor da Liberdade é Fabuloso.


Passei anos oferecendo todo o amor que brotava de mim, através do meu carinho, da minha sensibilidade. Procurando a paz e a tranquilidade.
Oferecia tudo, superava tudo. Por um minuto de amor, por um segundo de ternura, por uma hora de felicidade.
Imaginei que estas ofertas, embrulhadas num coração a fervilhar constantemente de amor, chegasse para enfrentar os monstros, que a sociedade alimenta.
 Enquanto acordo nestes dias rotineiros que me asfaltam na procura de ideias que o passado reprimiu, recordo a minha atenção sempre a ver onde precisavam de mim. E lá estava eu, a dar um colinho, um miminho, um beijinho.
Reencontrar-me é amarrar o meu EU!
Isso é fundamental para mim, recuperar essa individualidade, fortalecer a auto estima, e sentir a liberdade!
Esse percurso é um percurso lento e gradual, mas que a partir do momento em que o recupere não volta atrás, pois o sabor da liberdade é fabuloso.
Sei que, o preço da liberdade é duro, às vezes parece que não o vamos conseguir, obriga-nos a ser fortes, persistentes, e a não desistirmos.
 Mas se a nossa postura for uma constante, alcançamos a tão desejada liberdade. Sinal de corrermos há procura dos nossos objectivos. Concretizamos os nossos desejos. E sentimo-nos realizados.
Por vezes nesse percurso, parece que estamos sozinhos, que o mundo só nos
coloca obstáculos.
 E daquilo que já aprendi, a minha persistência, mesmo nos momentos mais difíceis, é que faz com que os sonhos se concretizem!
E abro o coração, para que eles se fortaleçam, na esperança de me dar a força de conseguir ser útil a mim mesmo, e degrau a degrau atingir o cume da realização. 
Demore o tempo que demorar é sinal de procura constante.






domingo, 22 de julho de 2012

Barcelos Fervilha


Barcelos fervilha de uma ponta a outra!
Tornou-se chão que dá uvas, neste Verão cheio de sol e noites quentes.
Barcelos é o expoente da adrenalina, tantos anos arredada desta cidade pequena. E por ser pequena, está a abarrotar de jovens e diversão, por todos os cantos.
Os “Milhões de Festa”, atrai gente do país inteiro, mais os estrangeiros já batidos nesta festa, oferecendo um movimento à cidade nunca antes visto.
Concentram-se no Parque para dormir umas horas, em tendas artesanais, lembrando acampamentos de escuteiros, misturados com o arvoredo. Lá descansam algum tempo, depois dos saltos e berros ao som das bandas, que abanam os palcos, refrescados pela brisa do rio e mascarados de manchas escuras devido ao pó que se cola ao suor, dando-lhes um ar de militares em semana de campo.
Mas Barcelos é muito mais que o Milhões, embora este evento seja o cartaz, que leva Barcelos para fora das muralhas dos Duques de Bragança.
É o lançamento do livro do Zé, com os seus convidados, que deram um colorido fantástico ao Circulo Católico, onde eu e ele assistíamos a filmes nesta sala de cinema que marcou uma época, cá na cidade, numa altura que só vivia do rio para acotovelar e dar alegrias aos Barcelenses.
Vi o Zé, onde gosta realmente de estar!
Junto dos seus miúdos, mais a sua querida amiga Cristiana (que dupla, no recital dos poemas de sua autoria).
 Da sua família que o acompanha por todo o lado, menos nos bares, onde o Zé arranca a inspiração (muita dela) que enche os livros de histórias, que o próprio filho lê para nós.
 Pelos amigos, poucos, mas do peito. Abraçando causas nobres e indispensáveis, contribuindo para o engrandecimento da APACI, liderada por uma mulher, que emocionada, lhe pediu o rosto (sem barba, assim parece um menino). Para a grande campanha de angariação de fundos, desta instituição que ampara jovens, que sem ela não tinham esperança.
Que pena não lhe oferecer uma cervejita bem fresquinha, que os seus olhos bem pediam, mas a ocasião era para a água e mais água.
Ainda a noite era uma criança, deixei o Zé envolvido na distribuição de frases simpáticas, levadas com os livros. E embrenhei-me na cidade a fervilhar de animação.
Não me lembro de percorrer Barcelos, com tanta alegria reflectida nos rostos de quem caminhava.
 De quem assistia à Banda Plástica.
 De quem se deliciava com uma bebida fresca, ao som do Jorge Lomba.
De quem pura e simplesmente percorria toda a cidade e encontrava ritmo alegre para refrescar o calor que o adiantar das horas, teimava não desanuviar.
Barcelos finalmente está virada para quem realmente faz algo por ela.
O seu povo bem merece e nestes momentos, esquece-se um pouco as amarguras da vida, deixando vir ao de cima toda a alegria.
Parabéns aos promotores e força Barcelenses, gozem o que vos oferecem, porque o tempo continua a ser de vacas bem magras.
   




   

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Sérgio é Assim


Conheci o Sérgio!
É um rapaz inteligente, que conquista quem vai ter com ele.
E hoje foi mais um dia!
Ao chegar ao balcão da Casa da Juventude, dirigi-me às meninas e perante o olhar delas, vi-me na obrigação de dizer ao que vinha.
- Venho, para a consulta do Sérgio! 
-Ou melhor, venho para conversar com o Sérgio, tratamo-nos por tu e vamos falar de gajas!
Assim sem mais nem menos, foi-me saindo perante o olhar das meninas, que se desfizeram a rir (até eu), num momento, mesmo divertido.
Ainda bem que nos fez rir, estávamos mesmo a precisar de um momento como este. Disseram as duas quase em simultâneo, já eu me dirigia para as escadas que me levaram ao terceiro andar, onde o Sérgio já me esperava.
Afinal quem é o Sérgio?
O Sérgio é um puto à minha beira.
Um puto bem crescido de ideias e maduro em conselhos.
Ouve-me neste cruzar de anos já maduros que eu levo e dá-me espaço para esvaziar as entranhas, onde alguns dissabores, se acomodaram.
Houve-me a recordar de olhos felizes, momentos marcantes e como quem não quer a coisa, leva-me a confessar angústias recentes, para me conhecer bem por dentro.
O Sérgio é um triunfador, sem meta à vista.
E, se hoje a meta é no fim de dez corridas com que acaba o dia. Amanha será mais uma, ou duas e sem passar o testemunho.
Porque o testemunho é o seu ser, que nos seus altos e baixos, acaba por obedecer ao seu querer. Um querer motivador que o leva a ser um triunfador.
O Sérgio faz o que adora!
Pois faz!
Por onde andou, nos caminhos da sua vida. Alcançou a maturidade de sentir prazer e a cada dia ao levantar, sinta não a obrigação, mas o gozo de caminhar em direcção ao seu lugar. E vê-se no seu olhar o gosto pelo que faz.
 E fá-lo com o semblante alegre, sempre fixo ao que nos leva lá. E com um sorriso a acompanhar a alegria, com que relatamos os momentos de adrenalina.
O Sérgio é um profissional cativante!
É sincero na avaliação.
Sem rodeios a indicar-nos as fraquezas e com soluções a aconselhar-nos o melhor caminho.
O Sérgio também partilha!
Partilha os seus momentos, sempre de acordo, com o que houve.
E que momentos, fartos de adrenalina, servindo até como vector de inspiração. A quem vai à procura, de caminhos com direcções apontando soluções.
O Sérgio é assim, vão ter com ele e depois falaremos.

Ó Relvas, ó Relvas

Ó Relvas, ó Relvas.
Tens um canudo à vista,
oferecido pelos reitores,
em troca de favores benditos.

Ó Relvas, ó Relvas.
És um músico de ouvido.
Nem pusestes os pés numa aula,
Mas fostes, agraciado com palmas.

Ó Relvas, ó Relvas.
Atingistes os créditos quase na totalidade,
devido ao teu currículo imaculado.
Numa espécie de Novas Oportunidades.

Ó Relvas ó Relvas.
Tu sabes, que nós sabemos.
Que em Portugal é fácil ser-se Doutor.
Basta para tal, aprender a dançar o vira!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Zé está na Feira do Livro




Ali estava o Zé!
Em frente ao stand "Ler é Saber", esperando pelos conhecidos, pelos amigos, pelos curiosos da leitura que pudessem comprar o seu livro, ou trocar umas palavras. Fosse desta vida um pouco madrasta para a maioria, fosse de si e do seu livro, que no fundo era o que o retinha ali, num final de tarde de Domingo.
Está volumoso o Zé!
Barba a dar nas vistas, já salpicada de brancas, são as marcas da vida e dos anos na casa dos quarenta.
É a barriga saliente, de muito acomodada na cadeira da escrita e se não fosse os putos a obrigarem-no a algumas correrias, tínhamos o ZÉ, mais quadradinho do que é.
Bom bronze, não sei se é das idas à praia, se do sol que apanha lá na sua casa, rodeada de pinhal e com terraço, virado para o sol. Que lhe faculta a luz natural, para lhe iluminar as ideias, em poemas, que se transformam na sua vida rotineira.
Vestido de negro, a fase que atravessa assim o exige. Mas não só , faz parte dele as cores mais escuras, vincando a sua personalidade.
Foi assim que encontrei o Zé!
Trocamos algumas palavras banais.
O conteúdo do livro, debruçado em alguns factos reais e um pouco da sua vida actual, junto dos putos que treina e dos putos que enfrenta no ensino.
A dado momento aparece o seu filho e meio escondido no corpo do pai (o que não é difícil), houve por momentos as balelas que trocamos.
Passo-lhe a mão pela cabeça e ele num sorriso, meio escondido, espera que lhe diga o que quer ouvir: - vai lá buscar uma caneta para o teu pai escrever algo no livro, que vou comprar para o meu filho.
Comprei o livro com muito gosto.
Dum filho de Barcelos, não muito amado pelas gentes da cultura, que pouco valorizam, quem é da terra. Senti a dado momento numa espécie de desabafo pelo Zé, sem baixar os braços.
Não sei o que se passou, porque quem anda à chuva molha-se, mas o que temos cá de bom é sempre louvável apoiar.
E logo alguém como o Zé, sempre pronto a sentar-se no meio das crianças, falando-lhe do que escreve nos seus livros e contando-lhes histórias, quando ele era da idade deles (e tantas que tem para contar). Deixando nas cabecinhas dos putos, ideias a ganhar forma para n'um, quando for grande, quero escrever histórias de encantar, para embalar os meninos sem lar.










terça-feira, 3 de julho de 2012

Barcelos no Meio onde não está a Virtude



A minha cidade pequena, pequenina. Que cabe numa mão de Deus, deixando a outra para apontar os dedos aos pecadores e eles são tantos, que se transformam num oceano sem fim à vista.
É um círculo de meia dúzia de monumentos com história.
De uma mão cheia de edifícios que valerá a pena visitar. E de um saco de linho cheio de pessoas com integridade para focar.
Vangloria-se de ser a cidade a receber a primeira romaria do ano, as Festas das Cruzes.
Semanalmente realiza-se nesta concha citadina a maior feira do País, que ocupa meia cidade e deixa a outra meia, a rebentar pelas costuras em matéria de trânsito.
É o concelho maior do País no que diz respeito ao número de freguesias (oitenta e nove), algumas delas nunca lá parei, apesar de viver não muito longe e passar bem perto das suas entranhas.
Capital do hóquei em patins, durante uma década e só deixou de o ser, devido ao não saber perder. Quando as vitórias eram a chama do prazer em vencer.
Tem o galo como símbolo máximo, de uma cidade que se coroou como a rainha do artesanato.
Onde o barro, com as peças que de lá nasciam pelas mãos das artesãs, correram mundo e idolatraram essas mulheres vindas do meio da lama barrenta e hoje são o expoente histórico, que enriquece esta cidade, abafada no meio do que afasta o povo, deixando-a deserta de vida e de movimento.
O abafo é intransponível e leva as pessoas a fugirem para as praias em quinze minutos apenas, refrescando-se no Verão. E buscando o sol e a brisa do mar, nos dias que não dá para andar de corpo ao léu.
Noutra direcção, a capital do distrito, Braga.
Em quinze minutos apenas, leva os jovens de encontro às noites de música e dança. Com calor humano á mistura e muita estupidez junta, deixando a minha cidade despojada de alegria e vida.
Tem o Sameiro e o Bom Jesus para levar os devotos fervorosos em peregrinações constantes de apego à fé e logo nestas horas de vida difícil e de vícios sem cura para muitos miúdos.
Um pouco para sul temos a cidade onde Portugal nasceu, Guimarães.
 Repleta de shoppings a cheirar a novo e abundância em pôr a vista a pastar, por entre lojas e lojas, que levam a perder a cabeça, a quem ainda tem um pé de meia, amealhado em tempos não muito distantes.
Mais distante mas nada que esfrie o entusiasmo, surge outra capital, Viana.
Entrada para o alto Minho, caminho aberto para paisagens e comes e bebes de encher os olhos e estômagos. A frescura no Verão, por entre o verde deslumbrante e caça abundante.
Diz o povo que no meio está a virtude!
 Mas nós nesta pequena cidade, que abraça o Cávado a quinze minutos da foz, acho que o único bem histórico que nos calhou em sorte. Estamos atados de pés e mãos e não nos despregamos das amarras que nos encolhem neste marasmo citadino.
Queremos dar um passo do tamanho da lua para fazer crescer a cidade dentro da própria cidade.
Construir-lhe janelas para entrar o céu azul que alegre quem cá vive e quem nos visita. Para irem e voltarem com o mesmo entusiasmo com que a deixaram.