Era uma fábrica de moagem, onde ninguém na freguesia consegue descrever como laborava, já que os anos são tantos que davam para encher o pequeno caudal do rio, que funcionava como o motor para a farinha chegar às freguesias vizinhas e não só.
Hoje é o cartão-de-visita para quem entra e sai de Arcozelo!
Era eu pequenote e o aspecto dela é o mesmo de hoje, quando eu para lá ia brincar e tomar banho, numa infância pura e fantástica.
Ao lado existiu em tempos, um campo de futebol que alimentou a sede de bola e vitórias nos encontros vivamente disputados em derbies entre freguesias vizinhas. Que juntava curiosos numa de só passar o tempo.
Agitadores só com o propósito de acicatar os jogadores.
E outros já bem bebidos, gritando impropérios enquanto o jogo durava o que originava risota geral, nas muitas pessoas que rodeavam o recinto e faziam placagem aos jogadores mais destemidos na disputa da bola, que eram projectados para lá da linha branca de cal.
Bem ao lado existe a alta chaminé que se aguenta firme apesar do tempo que não dá tréguas.
Basta cruzar a ponte que liga Arcozelo a São Veríssimo, para num ligeiro olhar deparar com a fábrica de três andares com enormes janelas e de paredes tão resistentes que o tempo não é capaz de as desabar.
Mas algo se modificou e pregou o olhar abismado de quem presenciou tal momento.
Eu e mais três, ou quatro, vimos com estes olhitos bem no sopé da chaminé duas belas e grandes cegonhas! Sim cegonhas, que vistoriando o cume onde se encontravam, vindas lá sabe-se de onde, permaneceram aí largos minutos já a manhã ia alta e o sol radiava como a primavera se anunciava.
Cegonhas por estas bandas nunca tinha visto nem ouvido falar. E admirados lá apontávamos para aquelas aves brancas e salpicadas de preto bem no cimo do canudo. Talvez quem sabe, perscrutando um local para iniciar o ninho que a ser realidade seria a maravilha naquele edifício.
Tiramos fotos de telemóvel, mas a distância não deixava provar este casal de cegonhas bem perto, mas olhando bem lá estão elas. Tão longe ainda de se fixar, onde agora todos desejamos.
Alguém corre e vai buscar uns binóculos. Maquina de filmar não havia por perto. Mas nisto num salto elegante, lá partiram num voo planado, lado a lado como dois amantes rumo ao sítio de onde vieram, até que a vista deixou de as alcançar.
Já imagino o sopé da chaminé com o pára-raios a servir de apoio ao ninho, pousado bem no seu cimo, dando beleza àquela paisagem de uma vista esplendorosa e mostrando como a natureza é generosa. Oferecendo-nos a bela imagem de um casal de cegonhas, bem pertinho de um rio felizmente livre de poluição e tão chegadinho ao consolo dos nossos olhos. Que a ser realidade será uma romaria sistemática nos primeiros dias.