sábado, 26 de março de 2011
As Cegonhas Será que se Decidiram
Era uma fábrica de moagem, onde ninguém na freguesia consegue descrever como laborava, já que os anos são tantos que davam para encher o pequeno caudal do rio, que funcionava como o motor para a farinha chegar às freguesias vizinhas e não só.
Hoje é o cartão-de-visita para quem entra e sai de Arcozelo!
Era eu pequenote e o aspecto dela é o mesmo de hoje, quando eu para lá ia brincar e tomar banho, numa infância pura e fantástica.
Ao lado existiu em tempos, um campo de futebol que alimentou a sede de bola e vitórias nos encontros vivamente disputados em derbies entre freguesias vizinhas. Que juntava curiosos numa de só passar o tempo.
Agitadores só com o propósito de acicatar os jogadores.
E outros já bem bebidos, gritando impropérios enquanto o jogo durava o que originava risota geral, nas muitas pessoas que rodeavam o recinto e faziam placagem aos jogadores mais destemidos na disputa da bola, que eram projectados para lá da linha branca de cal.
Bem ao lado existe a alta chaminé que se aguenta firme apesar do tempo que não dá tréguas.
Basta cruzar a ponte que liga Arcozelo a São Veríssimo, para num ligeiro olhar deparar com a fábrica de três andares com enormes janelas e de paredes tão resistentes que o tempo não é capaz de as desabar.
Mas algo se modificou e pregou o olhar abismado de quem presenciou tal momento.
Eu e mais três, ou quatro, vimos com estes olhitos bem no sopé da chaminé duas belas e grandes cegonhas! Sim cegonhas, que vistoriando o cume onde se encontravam, vindas lá sabe-se de onde, permaneceram aí largos minutos já a manhã ia alta e o sol radiava como a primavera se anunciava.
Cegonhas por estas bandas nunca tinha visto nem ouvido falar. E admirados lá apontávamos para aquelas aves brancas e salpicadas de preto bem no cimo do canudo. Talvez quem sabe, perscrutando um local para iniciar o ninho que a ser realidade seria a maravilha naquele edifício.
Tiramos fotos de telemóvel, mas a distância não deixava provar este casal de cegonhas bem perto, mas olhando bem lá estão elas. Tão longe ainda de se fixar, onde agora todos desejamos.
Alguém corre e vai buscar uns binóculos. Maquina de filmar não havia por perto. Mas nisto num salto elegante, lá partiram num voo planado, lado a lado como dois amantes rumo ao sítio de onde vieram, até que a vista deixou de as alcançar.
Já imagino o sopé da chaminé com o pára-raios a servir de apoio ao ninho, pousado bem no seu cimo, dando beleza àquela paisagem de uma vista esplendorosa e mostrando como a natureza é generosa. Oferecendo-nos a bela imagem de um casal de cegonhas, bem pertinho de um rio felizmente livre de poluição e tão chegadinho ao consolo dos nossos olhos. Que a ser realidade será uma romaria sistemática nos primeiros dias.
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