sexta-feira, 24 de julho de 2015

As pétalas em papel Vegetal


Já lá vão muitas luas, encontrei uma flor tão linda como o sol.
Aquele sol, que rasga as nuvens negras teimosas em fazer prevalecer a sua vontade, trazendo a Primavera tão aguardada, depois de um interminável Inverno.
Contei-lhe as pétalas, dez como os dedos das mãos.
Arranquei logo a primeira para a colar aos lábios.
Era o aroma de um sorriso tão natural que abriu de par em par, as minhas entranhas encerradas dias a fio, já não acreditando em saborear maravilhoso sorriso.
De seguida saquei a segunda, um olhar meiguinho como se tratasse de um bebé tão querido.
Assim permaneci, embebido nesse encantador aroma libertado pelas primeiras pétalas de uma flor que encantou o meu pobre jardim.
Dias depois libertei a terceira!
Descobri a ansiedade em oferecer amor. Que beleza de toque. Que doçura em partilhar as emoções. Que entrega em repartir o prazer, por vezes infinito.
O tempo passou e nós embrulhados na terceira, que se colou aos nossos corpos, deixávamos correr os dias como se nada mais tivesse valor
A quarta, soltou-se com as vicissitudes da vida.
Partilhamos as ansiedades, as preocupações e os projectos de um futuro que era tão só, logo ao raiar da alvorada.
A quinta. Foi a dolorosa. Continuou-nos a afastar, um cá dentro, outro bem fora. E a viver intensamente cada regresso tão ansiado.
A sexta trouxe as suspeitas que dia-a-dia aumentava na mente de quem esperava, por ter as certezas bem certas, não se importando em cometer piáculo, para aliviar a vingança.
Mas a terceira permanecia no trono onde habita o coração e daí soltava-se uma imensidão de paixão.
A sétima. Quebrou-se com o tempo e ao encurtarmos o tempo de afastamento, aliviamos as malditas interrogações em permanecermos tão juntos como a casa e o botão.
Os longos meses bem unidos trouxeram a oitava que se soltou como uma lança, enfiando-se bem no fundo da alma.
Estávamos tão unidos em corpo que eles se encarregavam de falar por nós e guiar-nos nas catacumbas da intensidade do nosso amor.
A nona. Veio salpicada de nódoas negras.
Eram fantasmas ao virar da esquina. Eram pinóquias de nariz tão comprido que invadiam a mente já insegura para fazer jus, ao que essa mesma mente produzia.
A décima ainda tilinta no assombro do que era uma flor tão bela como o sol.
Ainda guardo cada pétala em papel vegetal para perdurar no tempo, como um sinal de maravilhosos momentos.

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