domingo, 27 de outubro de 2019

O Bilhete


Recebi um bilhete.
Escrito pela própria mão, de uma caneta que lembra a primária.
A letra era tão pura, como aprendida desde a primeira classe.
Como puro era o que lá estava escrito!
Li e reli, aquele punhado de palavras. Com reticências, para eu adivinhar o que poderia nascer de uma beleza de folha de papel.
Alguém me espera!
E eu tão longe!
Alguém quer completar o resto da sua vida, com o que resta da minha.
Alguém me oferece as suas quatro paredes, para me confortar nos poucos dias que passo no meu país!
Quem é esta mulher?
Raio quem é mesmo?
Quem é este anjo, que abre as asas para me receber.
Quem é esta sereia que me lança laivos de água salgada enquanto permaneço banhado no mar calmo, numa praia isolada.
E lá segui o bilhete.
Com unhas e dentes ferrados na crença da descoberta.
E numa noite. Teria que ser de noite, onde já todas as janelas estavam corridas da luminosidade do largo. Que me encontrei com a mulher do bilhete.
Do punhado de palavras que li num papel de caderno de argolas. Hoje já temos meio livro de história.
Em letras não escritas, mas desenhadas!
Nem Picasso, nem Dali.
Esboçavam quadros como a maravilha da nossa obra.
Nem Mozart ou Chopin. Timbravam sons, como os que os nossos corpos emanavam.
E ainda nem a meio vai a nossa história!

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