quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Apeadeiro das Frases Pitorescas


Só tem uma linha esta estação!
Não tem bilheteira por isso é um apeadeiro.
Sentei-me aqui fazendo hora, porque neste dia o que não me falta é tempo para que as horas passem.
Estou só, com o som dos carros passando nas costas do apeadeiro e olho à minha volta e deparo que estou mesmo só!
São dez bancos de granito, já manchados pelo uso. Cinco de cada lado, com a linha no meio. Esperando que o comboio passe, mas não sei quando o fará.
As paredes onde me encosto como costas dos bancos, estão decoradas de frases pitorescas., bem visíveis mesmo a longa distancia.
E o “ Amu-te Janete”, está mesmo por cima do meu ombro direito.
O ó foi trocado pelo u e pelo nome, Janete deve ser um avec.
O erro: eles vão para lá sem saber ler nem escrever. Por isso quando voltam nas férias, falam francês para convencer e quando regressam um mês depois, continuam no mesmo; sem saber ler e escrever.
Gostei da do”Gang dos Calções”, bem visível a vermelho e outra mais à frente sublinhada a verde.
Assim sei que, jovens juntos de calções é pôr-me a milhas logo que a minha vista os alcance.
Outra é mais romântica: “Amo-te Maria” finaliza com um coração desenhado, típico de quem ama alguém e adora embelezar paredes onde se concentram demasiadas pessoas. Espero que a paixão se mantenha por muito tempo.
Chegou agora um casal, que espera apanhar o comboio. Mas não sabe se já partiu, ou se ainda vai chegar.
Pergunta-me se ele já chegou e eu digo-lhe que nos dez minutos que cá estou, a linha continua sem comboio que chegue ou que parta.
Nisto o som do altifalante, anuncia a chegada do comboio, vindo do Porto com destino a Guimarães. E o casal solta um alívio e prepara-se para o embarque.
Mais uma frase original, daquelas que nos põem a ler e a reler, enquanto permanecemos nesse local.
“Melhor Amiga” “Porque és a totó de todos os santos dias”, belo! Grande dedicação, ser amiga de quem descarrega as frustrações.
O comboio chegou! Quatro pessoas saíram. Duas de um lado e outras tantas do outro. E lá se foi sem levar o casal, que entretanto descobriu que não era este, o comboio onde precisavam de viajar.
E por aqui não me fico, dado que agora surge uma mulher de meio corpo, com a mão no bolso, onde o símbolo do euro forra esse mesmo bolso.
Por baixo diz: “A Capital é Nossa”. Não imagino a que se refere. Se a Lisboa, se a alguma discoteca que conheço com este nome.
É desenho de maquete, talvez ande a colorir outras paredes das redondezas.
O tempo está fresco, o sol já se foi e ainda a tarde vai a meio.
Como me sentei aqui para passar um pouco do meu tempo, vou por fim para o meu destino, olhando pela última vez, para as frases de letras garrafais que enchem as paredes deste apeadeiro, já com um banco repleto de mulheres de meia-idade.
Uma, com um cão pela trela, curiosas por verem alguém solitário de caneta na mão escrevendo numas folhas. O que sinto nos seus olhos vontade de saber.
E o último banco do lado em que me encontro enche-se de cinco jovens na idade da afirmação.
Um já partiu a garrafa de sumo que trazia de encontro ao banco que fica em frente ao seu. E os restantes não param de atazanar o cachorro, que a qualquer gesto deles, ladra incessantemente.
Como já me estão a incomodar, vou-me embora deste apeadeiro que fica bem longe de onde vivo e não tenciono em cá voltar.

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