Voltou a neve, com a esperança de a guardar
no bornal levando-a para um regresso inesperado.
A rua cobriu-se de branco e os telhados
enfeitaram-se como a desejarem, a permanência da brancura que absolve o que se
passa por baixo dessas coberturas.
Caminhei para as compras de fim-de-semana com
todo o cuidado para não quebrar o esqueleto resguardado pelo casacão de Trás
dos Montes, que é a cobiça dos alemães divertidos.
Já me dão mil euros pelo capote. E só o vendo,
logo que deixe esta vida de imigrante entrincheirado numa cidade a arrotar
bafo de polacos, turcos, italianos, russos e os sem-abrigo.
Nas compras levaram-me pela certa!
Comprei seiscentas gramas de frango (GMO
FREIRE HAEHNCHE), indicando dois euros e noventa e nove. Com trinta por cento
de desconto, visto a data terminar amanhã. E em vez de me retirarem o desconto,
somaram-no e mais grave, até lhe aumentaram o preço. Com um total de cinco
euros e cinquenta.
Reclamei na meia dúzia de palavras em alemão
que aprendi enquanto lidava com colegas pintados com as nódoas da arte. Mas nada
adiantou!
A chefe
da caixa gorda como um bidão, mandou-me passear e ir aturar outra. Mesmo com o talão
na mão e tendo-lhe tirado da mão a calculadora que justificava o erro bem
evidente. Ela desancava-me abrindo os braços que se me agarrassem. Abafava-me!
Mais logo, quando chegar o tradutor
Ribatejano que me guia nestas andanças por terra da tia Merkel, vamos lá e bato
o pé à minha indignação.
Não é nada, mas o que me retiveram dá para
uma garrafa de Martini e misturando com cerveja, dá para uma noite de folia.
Como não posso mexer no frango para poder
reclamar e gozar com a gorda. Vou almoçar umas costeletas já temperadas, num
arroz com netos que por aqui custam os olhos da cara e saborear uma pinga
espanhola. Para festejar o regresso à terra prometida.
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