domingo, 24 de março de 2019

Grito



A Primavera entrou de braços bem abertos e já fez nascer as primeiras flores. Que vão cobrir os caminhos,  subindo as enormes montanhas e oferecendo os maiores jardins que quase atingem o azul do céu.
Esse azul,  que desce para passar a mão no sopé desses monstros inacessíveis, oferecendo-lhe os mimos que os aliviam de algum dia, se abrirem em derrocadas terríveis.
O sol está por todo o lado e caminhar pela mata sentido o estalar dos pequeníssimos restos de madeira. Dá uma sensação de caminheiro!
Não faltam riachos quase a pique do degelo.
Uns bons cinquenta metros de água a correr montanha abaixo. Num burburinho que quebra o silêncio deste paraíso!
E vou caminhando, desviando os ramos dos caminhos amassados. Mais dos corsos, que dos humanos que por aqui preferem as ciclovias de perder de vista.
E como estou completamente entregue ao silêncio do espaço que me rodeia, grito!
Grito na mata, para espantar os maus espíritos.
Grito aos peixes.
Grito para quem passa na auto-estrada.
Grito para quem viaja no comboio.
Grito para os vigilantes da pequena barragem.
Grito para os poucos que se cruzam comigo.
Grito para os minúsculos aviões que avisto tão alto quase os perdendo de vista. Para me levarem de volta a casa. Nem que seja para fazer amor de rajada.
Termino de gritar para não assustar os vizinhos, já que estou com um pé na entrada da casa, que fica amparada pelas maravilhosas 
montanhas.

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