sábado, 27 de outubro de 2012

O Céu soltou o lençol Branco



Ontem o céu cobriu-se de aves, que partiam em direcção a climas mais quentes, deixando um rasto de sons, que me obrigavam a olhar ainda mais acima de onde estava e apreciar longos bandos de gansos, de patos bravos, rumo ao destino por eles escolhido.
 Voavam em vê, como a dizer: deseja-me boa viagem. Mas aqueles sons que em uníssono lançavam, afinal eram um aviso que eu só no dia seguinte, bem pela manhã entendi.
E ainda a noite agasalhava a maioria dos habitantes cá do burgo, já eu rumava na direcção que me trouxe cá.
Quilómetros rolados e a noite toma um colorido que me faz despertar de um salto.
Ela ali estava!
Branca, branquinha. Enfeitando o arvoredo e dando um pouco de luz à noite, ainda dorminhoca.
Caía certinha, desenhando formas que cada um de nós lhe dava a imagem pretendida enquanto a escova malvada mas necessária, a varria carrinha fora.
Finalmente chegados e com o dia a nascer, é que presenciamos verdadeiramente o manto branco, que a noite tratou silenciosamente de estender.
Neste momento é que compreendi a mensagem das aves que na véspera voavam sobre mim. Mas já não fui muito a tempo de me agasalhar convenientemente para enfrentar algumas horas de árdua tarefa, que diariamente agarro com as duas mãos e varias partes do corpo.
Um grau negativo, era o indicativo para ter a certeza que a neve iria-me acompanhar, até que o responsável máximo nos mandasse de volta a casa, para o quentinho do apartamento, onde me encontro, como se estivesse numa esplanada.
Uma hora passou e ela caía pelos ombros abaixo, depois de esbarrar no capacete e deslizar, por onde entendesse, sem eu ligar grande importância.
Duas horas, já deixavam marcas e o frio era rei e senhor, deste corpo sem grandes defesas, depois de uma semana bem durinha.
Um café quentinho, numa pausa saborosa deu outro animo para recomeçar o que já estava a dar pouco gozo e como sem trabalho não à pão, toca a dar ao pé e levar com a neve onde ela entendesse que devia entrar.
Quatro horas bastaram para que todos entendessem que era hora de regressar para o quentinho.
Os pés estavam frios e se não fosse o constante movimento que exercia sobre eles para não encostar os dedos uns aos outros e parecerem umas patas, já que as botas estavam húmidas demais para os agasalhar.
As mãos coitadas, com as luvas húmidas, mais valiam estar a céu aberto e assim foi uma boa parte destas horas, que me incharam os dedos e nem consegui tirar o dinheiro para pagar o kebab, que ao sábado já faz parte da ementa.
Que estranha experiência!
Só conhecia a neve de prazer. Onde as brincadeiras com os putos eram a alegria de umas horas alegremente passadas.
Agora, nevar e trabalhar no duro, é o começo do que me espera.
E como já contam os mais velhos, hoje fartaram-se de contar histórias. Quando chegarem os cinco, seis, dez, doze…. graus negativos. Lá se vão os dedos tão preciosos, do que me dá força para trabalhar e para caminhar atrás deste objectivo.
A neve que cubra o meu caminho de um branco imaculado. Que eu prometo que a salpico com as marcas dos meus passos, rumo ao calor de muitos abraços, que já esteve muito mais longe.    

  

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