Ontem o
céu cobriu-se de aves, que partiam em direcção a climas mais quentes, deixando
um rasto de sons, que me obrigavam a olhar ainda mais acima de onde estava e
apreciar longos bandos de gansos, de patos bravos, rumo ao destino por eles
escolhido.
Voavam em vê, como a dizer: deseja-me boa
viagem. Mas aqueles sons que em uníssono lançavam, afinal eram um aviso que eu
só no dia seguinte, bem pela manhã entendi.
E
ainda a noite agasalhava a maioria dos habitantes cá do burgo, já eu rumava na direcção
que me trouxe cá.
Quilómetros
rolados e a noite toma um colorido que me faz despertar de um salto.
Ela ali
estava!
Branca, branquinha. Enfeitando o arvoredo e dando um pouco de luz à noite, ainda
dorminhoca.
Caía certinha,
desenhando formas que cada um de nós lhe dava a imagem pretendida enquanto a
escova malvada mas necessária, a varria carrinha fora.
Finalmente
chegados e com o dia a nascer, é que presenciamos verdadeiramente o manto
branco, que a noite tratou silenciosamente de estender.
Neste momento
é que compreendi a mensagem das aves que na véspera voavam sobre mim. Mas já não
fui muito a tempo de me agasalhar convenientemente para enfrentar algumas horas
de árdua tarefa, que diariamente agarro com as duas mãos e varias partes do
corpo.
Um grau
negativo, era o indicativo para ter a certeza que a neve iria-me acompanhar, até
que o responsável máximo nos mandasse de volta a casa, para o quentinho do
apartamento, onde me encontro, como se estivesse numa esplanada.
Uma hora
passou e ela caía pelos ombros abaixo, depois de esbarrar no capacete e
deslizar, por onde entendesse, sem eu ligar grande importância.
Duas
horas, já deixavam marcas e o frio era rei e senhor, deste corpo sem grandes
defesas, depois de uma semana bem durinha.
Um café
quentinho, numa pausa saborosa deu outro animo para recomeçar o que já estava a
dar pouco gozo e como sem trabalho não à pão, toca a dar ao pé e levar com a
neve onde ela entendesse que devia entrar.
Quatro
horas bastaram para que todos entendessem que era hora de regressar para o
quentinho.
Os pés
estavam frios e se não fosse o constante movimento que exercia sobre eles para não
encostar os dedos uns aos outros e parecerem umas patas, já que as botas
estavam húmidas demais para os agasalhar.
As mãos
coitadas, com as luvas húmidas, mais valiam estar a céu aberto e assim foi uma
boa parte destas horas, que me incharam os dedos e nem consegui tirar o
dinheiro para pagar o kebab, que ao sábado já faz parte da ementa.
Que estranha experiência!
Só conhecia
a neve de prazer. Onde as brincadeiras com os putos eram a alegria de umas
horas alegremente passadas.
Agora,
nevar e trabalhar no duro, é o começo do que me espera.
E como
já contam os mais velhos, hoje fartaram-se de contar histórias. Quando chegarem
os cinco, seis, dez, doze…. graus negativos. Lá se vão os dedos tão preciosos,
do que me dá força para trabalhar e para caminhar atrás deste objectivo.
A neve
que cubra o meu caminho de um branco imaculado. Que eu prometo que a salpico
com as marcas dos meus passos, rumo ao calor de muitos abraços, que já esteve
muito mais longe.
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