Zé Gama, cinco tostões de gente, pensava que
a vida dupla se eternizava.
Imigrante em Espanha, ramificou-se no país
basco, com uma mala de ferramenta imprescindível e uma companhia semanal para
lhe curar as mazelas da dureza diária.
Quinze dias depois voltava ao lar, para
abraçar a família e encher os sacos de comida caseira, apanhando o transporte,
numa viagem longa que lhe colocava no lugar as emoções amorosas, repartidas por
duas mulheres, que lhe preenchiam a vida.
No recanto da sua personalidade, micou a
mulher longe dos olhares mais que evidentes dos demais, naquele espaço
infestado de pensamentos tão evidentes e ofertas á mão de semear.
Era a loucura do sábado, onde a música enchia
o cérebro de desejos e a bebida incitava ao prazer que não tardava. Dando
espaço para que o Domingo fosse o dia de dois seres confessarem sentimentos que
o tempo se encarregava de perpetuar.
Foram longos meses neste vai e vem de repouso
carnal.
Por um lado loucura sem limites, de uma
mulher livre e apaixonada. Que só exigia a sua presença numas horas de uma
entrega febril que deixava lágrimas na partida.
Por outro a família, onde era o garante de
uma estabilidade sólida. Oferendo o futuro risonho aos filhos e abraçando a
esposa em promessas de amor infinito.
Vida dupla que suavizava os dias duros do
trabalho e ajudavam que o tempo voasse e o levasse para os braços das mulheres,
mediante o que o calendário estabelecia.
Como tudo nesta vida, nada dura!
As
desconfianças já tão claras como água, deram ligar á descoberta da mulher
legítima, refugiada na clausura da abnegação da união de uma família.
E o
ultimato de ou ela ou eu, foi o grito de desespero saído da boca de quem se
calou tempos infinitos.
Zé Gama viu-se em noites terríveis de
insónias.
Primeiro pediu para o mudarem de local de
trabalho. Fazendo disso a prova como tudo tinha terminado e a mulher de ocasião,
desaparecia como nuvens levadas pelo vento.
Mas na primeira ocasião, lá estava no leito
da dita cuja, para provar uma vez mais, as loucuras do desejo.
Foi o último passo onde Zé Gama desafiou o
destino!
Dias depois já a noite ia bem alta, fez as
malas num silêncio que os colegas nem conseguiram interromper o sono, levando
consigo os bens que enchiam as malas de tantos segredos.
E sem um último adeus a quem lhe fez
companhia em dias de desabafos e recolha de conselhos. Entrou no carro que
entretanto lhe chegou á porta com a família. Levando-o de volta a Portugal para
o lugar que o matrimónio lhe ajudou a juntar mulher e dois filhos.
Pela manhã Zé Gama, sempre um dos primeiros a
despertar com o seu ruido os mais enrolados nas mantas do aconchego, já não
existia. A cama estava vazia.
Só as
ferramentas espalhadas pelo betão ainda fresco do dia recente, assinalava a sua
presença.
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