sábado, 19 de julho de 2014

Zé Gama o homem de vida dupla




Zé Gama, cinco tostões de gente, pensava que a vida dupla se eternizava.
Imigrante em Espanha, ramificou-se no país basco, com uma mala de ferramenta imprescindível e uma companhia semanal para lhe curar as mazelas da dureza diária.
Quinze dias depois voltava ao lar, para abraçar a família e encher os sacos de comida caseira, apanhando o transporte, numa viagem longa que lhe colocava no lugar as emoções amorosas, repartidas por duas mulheres, que lhe preenchiam a vida.
No recanto da sua personalidade, micou a mulher longe dos olhares mais que evidentes dos demais, naquele espaço infestado de pensamentos tão evidentes e ofertas á mão de semear.
Era a loucura do sábado, onde a música enchia o cérebro de desejos e a bebida incitava ao prazer que não tardava. Dando espaço para que o Domingo fosse o dia de dois seres confessarem sentimentos que o tempo se encarregava de perpetuar.
Foram longos meses neste vai e vem de repouso carnal.
Por um lado loucura sem limites, de uma mulher livre e apaixonada. Que só exigia a sua presença numas horas de uma entrega febril que deixava lágrimas na partida.
Por outro a família, onde era o garante de uma estabilidade sólida. Oferendo o futuro risonho aos filhos e abraçando a esposa em promessas de amor infinito.
Vida dupla que suavizava os dias duros do trabalho e ajudavam que o tempo voasse e o levasse para os braços das mulheres, mediante o que o calendário estabelecia.
Como tudo nesta vida, nada dura!
 As desconfianças já tão claras como água, deram ligar á descoberta da mulher legítima, refugiada na clausura da abnegação da união de uma família.
 E o ultimato de ou ela ou eu, foi o grito de desespero saído da boca de quem se calou tempos infinitos.
Zé Gama viu-se em noites terríveis de insónias.
Primeiro pediu para o mudarem de local de trabalho. Fazendo disso a prova como tudo tinha terminado e a mulher de ocasião, desaparecia como nuvens levadas pelo vento.
Mas na primeira ocasião, lá estava no leito da dita cuja, para provar uma vez mais, as loucuras do desejo.
Foi o último passo onde Zé Gama desafiou o destino!
Dias depois já a noite ia bem alta, fez as malas num silêncio que os colegas nem conseguiram interromper o sono, levando consigo os bens que enchiam as malas de tantos segredos.
E sem um último adeus a quem lhe fez companhia em dias de desabafos e recolha de conselhos. Entrou no carro que entretanto lhe chegou á porta com a família. Levando-o de volta a Portugal para o lugar que o matrimónio lhe ajudou a juntar mulher e dois filhos.
Pela manhã Zé Gama, sempre um dos primeiros a despertar com o seu ruido os mais enrolados nas mantas do aconchego, já não existia. A cama estava vazia.
 Só as ferramentas espalhadas pelo betão ainda fresco do dia recente, assinalava a sua presença.




Sem comentários: