- Não desapareças, por vezes sou má, sarcástica,
ingrata!
Respondeu-me num sussurro noturno.
- Nunca!
Se desapareço, nunca mais te encontrarei.
Falava tão verdade, que o final da frase, saiu-me
quase sem ouvido.
Só o mar, era a testemunha da nossa loucura e a duna,
a almofada dos nossos ruídos.
- Mas não consigo saber o que fazer contigo!
Sinto, sem nada poder fazer, que estás a perder um
punhado de felicidade. E eu, correndo atrás do nada.
Tens medo de ti própria!
- Tento não viver de
recordações.
Trabalho muito e dói. Mas proporciona-me a
certeza de viver como desejo, ou como posso!
Ninguém interfere. Mas, quero continuar, tua amiga especial.
- Nós não somos amigos, se o
fossemos não fugias de estar com um
amigo!
- Sim, amigos que não.... Tu sabes!
Mas tens razão, tenho que assentar e deixar- me levar
de uma vez por todas.
De uma vez!
E obrigada por não teres
desistido de mim, enquanto estiveste aqui.
Paramos por momentos de
falar e contemplamos a noite. Onde o mar tão calmo, era iluminado em pontos
distantes, pelos pequenos barcos de pesca dos homens do mar, que viviam mais
acima do nosso canto.
- Porra, conquista-me?
Se assim o quiseres!
Libertou ela daquela boca,
com sede dos meus beijos, que por momentos me obrigou a deixá-la ali estendida
no areal.
- Conquistar-te? Não sei mais o que fazer!
O tempo que possuo perto de
ti, é tão mínimo. Que nem consigo conquistar a tua companhia.
- Ok Somos dois!
Voltou ela a utilizar o
sarcasmo já habitual. Numa tentativa de pensamentos coincidentes!
- Apenas acho do fundo do
coração, que tem que existir algo em nós, para estarmos aqui nesta conversa.
Apenas não acreditamos!
Se te disse-se tudo o que
vai na minha cabeça. O escudo caia!
- Eu vou perscrutar as
montanhas enormes para descobrir respostas e certezas.
Acabei por acompanhar o seu
raciocino, já mastigando em seco com o brilho intenso nos seus olhos.
- Deixa as montanhas e
conquista-me sem contagens!
Baseava-se ela, nos nossos
encontros, que se podiam contar pelos dedos.
Nisto, aproximou o rosto bem
perto do meu, sentia-lhe a respiração ofegante e disparou:
- Embebeda- me! Salvo seja é claro.
Quantas vezes dissemos um ao
outro algo de bom???
Nada! Só contagens.
Neste momento acho, que são
as contagens que nos salvam!
Não às contagens. Não a atritos verbais.
E sim!
Acho que vou sentir a tua
falta e não digas agora merdas. Ouviste!!!
-Estarei sempre por cá!
Ainda tens em mim, um coeficiente
de carinho.
Já confessava emocionado!
- E eu aqui!
No fundo sabes disso.
És muito especial. E não digas merdas.
Aproveita que não estou em
mim. E que tenho uma lágrima no canto do
olho.
E cala-te!
És um bom confidente. Deixa o tempo correr!
Afinal é o tempo que diz
tudo!
É o que tenho aprendido.
Quero, desejo, que sejas
feliz!
Isso é bom não?
Nesta catrozada de emoções,
ainda consegui lançar mais achas para a fogueira!
- A felicidade não se
deseja, conquista-se!
- Também, tens toda a razão.
- E se a felicidade também é
uma luta? Por vezes sou feliz, já que lutei o bastante, para a merecer por
alguns momentos.
Nesta altura, já nos víamos
envolvidos, pela areia até aos olhos.
- Eu, perco uma parte dela!
E cala-te. Não digas merdas.
Merdas”, era o sinal para eu, não a culpar, do
porquê de em tanto tempo, em que nos conhecemos. Pouco o tempo, que
partilhamos!
-Tenho medo que alguém entre
no meu mundo.
Não sei como o partilhar.
Não quero passar pelo que
passei.
- Só tu podes encontrar
respostas para isso.
- Eu sei!
Às vezes, por momentos,
gostava que me abraçasses!
Por momentos raros.
Mas faltou aquele abraço.
E tu sabes disso!
E não digas asneiras! Soltou
uma risada bem sonora.
-Faltou o abraço, porque
ambos sentimos, que momentos como este, podem não ser repetidos!
Falta-nos conviver mais
intimamente, para repartirmos o que sentimos.
E tornar o desejo em paixão.
Tornar o desejo de estarmos
juntos, como fazendo parte da nossa vida.
Por esta altura,
enlaçávamo-nos com intensa ternura.
Possivelmente, a tentar
recuperar os abraços perdidos. Mais parecendo
adolescentes, abraçados como
promessa, ao nosso destino.
- O que sou para ti???
- Neste momento, pouco ou
nada!
Porque quem foge de mim,
quando a procuro…..
- Então porque falamos Nuno?
Não respondi de imediato.
Então, respondeu por mim!
- Falamos, porque me
procuras e agradeço-te por isso, quando estás por aqui.
E penso, porque ainda
sentimos existir, a esperança, de sermos iguais
a tantos outros!
Resolvemos abandonar o nosso
canto.
Com o luar a iluminar a
noite, fazendo sobressair a bela sensação de estarmos por fim, depois de muitas
luas, juntos!
Mas a incerteza de sabermos,
quando nos encontrar novamente. Criava uma atmosfera insólita e um silêncio
incómodo.
- Afinal o que sou para ti?
E não venhas com a
inteligência, ou com o humor sarcástico.
Fugir à pergunta!
Perante o meu silêncio, a
viver a ansiedade, de partir no dia seguinte. Voltou a tocar no assunto!
- Bem, vai pensando na minha
pergunta e vai respondendo, se assim o desejares.
- Tenho até ao Natal?
Balbuciei por fim!
- Eheh. Para saber a resposta, tenho que me vestir
de duende.
Tive e tenho alguns
prendados.
Mas não vejo nada neles!
Não sei o que vi em ti, para
me expor.
E não sei o que viste em mim!
Bem é o fado.
Vai lá!
Já estava encostado ao portão de casa e
quando me preparava para sair, puxou-me pela camisola ensopada em areia, cheirando
às algas marinhas.
- Então? ?
Nada dormi nessa noite!
O voltar a partir, deixou-me
tristemente só. E com a certeza de mais uma vez, deixar de partilhar abraços,
que já me aqueciam a frieza da distância.
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