Libertei-me de casa, farto de estar
resguardado em quatro paredes.
Apanhei o autocarro das onze e vinte e
quatro, levando-me à cidade.
Gastei uma pipa de massa, mas gozei com tanta
graça.
Almocei, no turco de barba pomposa. Amável
como sempre, esperando que eu desse ao dente.
Não consome álcool, mas vende para quem não passa
sem uma bejeca, no seu botequim, a cheirar a nós moscada.
Fiquei farto de tanta carne e cebola, com molhos
a babar-me os lábios.
Assisti à chegada dos ciclistas numa prova
que já é o ex-líbris da cidade.
Possuíam bicicletas, mais caras do que o
carocha que quero oferecer ao filho, para ganhar a vida pelas ruelas do
Distrito.
Metade das ruas do centro, estavam impedidas
ao trânsito por isso, passear e admirar este folclore de bicicletas a chegar
com palmas dos familiares, era a gritaria citadina, que me retinha.
Somos turistas ao domingo e durante a semana,
imigrantes amortalhados no trabalho.
Afoguei-me em despesas e por fim, jantei no
restaurante da praça principal do império da valsa.
Eramos três pífaros e libertamos tantas
gargalhadas que fizeram colocar no seu lugar, três garotos que não deixavam os
pais jantar à vontade.
A primeira garrafa de tinto austríaco, pouco
aqueceu a vontade de libertar o aperto que a ansiedade ameaça invernar.
Mas a segunda, de colheita de dois mil e dez,
aqueceu os corações e levou os euros, que restavam da semana destinada.
Mas não levou a alegria.
O restaurante encheu-se de cantoria
portuguesa, ouvindo-se tão perto os sorrisos dos presentes, que alguém ofereceu
uma garrafa igual e o folclore misturou-se com a valsa. E as gargalhadas entoaram
pelo espaço, com paredes de pedra maciça e o tecto talhado, com figuras míticas.
Mas a noite ainda era uma criança e numa
esplanada tão perto da enorme montanha, tomou-se o café e ouviu-se musica
latina.
Noite bem fresca e escura.
As montanhas
escondem a lua e os insectos que ainda resistem, fazem tudo para furar o calor
do nosso entusiasmo.
Mas a nós nada nos pára!
Cantamos, dançamos, bebemos e namoriscamos!
Não tirávamos os olhos de turcas e húngaras. Austríacas
e sérvias.
Loiras e morenas. Com véu, ou de tangas minúsculas.
Umas já de olhar conhecidos. Outras de
curiosidade apetecida.
E a noite, acabou já as doze badaladas se
extinguiam para lá das montanhas e só na minha caminha, ainda no meu cérebro reluzia:
“ ou ela, ou eu?
E foi no que deu!
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