domingo, 14 de dezembro de 2008

O Pinheiro de Natal da Mata





ZÉ mosca preparava o seu Natal com todos os cuidados e vivia-o intensamente, procurando seguir as tradições que trazia da infância. Por isso era um regalo ver o cuidado, o carinho com que construía o presépio.
Quinze dias antes lá estava ele de machadinha na mão, à procura do pinheiro mais vistoso na mata do costume e do musgo com que o seu presépio ganhava aquela imagem real, que o enchia de orgulho e alegria.
O dia estava bastante frio e cinzento, apesar de a tarde ainda mal ter começado. Mas ele lá se embrenhou pela mata dentro na procura do pinheiro que lhe enchesse as medidas.
Conseguido o pinheiro bem vistoso por sinal, toca a prende-lo no suporte da bicicleta e arrancar com o saco de linhagem na procura do musgo bem húmido, indispensável , para colocar as ovelhitas, os pastores, os reis magos e toda a bonecada que ornamentavam um presépio que só Zé mosca era capaz de arquitectar.
Tudo pronto, lá montou na bicicleta satisfeito, dando as primeiras pedaladas. Com o pinheiro atravessado no suporte e o saco cheio de musgo entre os braços, a caminho de casa que ficava uns minutos bem distante e onde os catraios o esperavam impacientes.
O dono da mata Justino Tinoco, já há uns dias que andava de olho nos ladrões de pinheiros. E mesmo a chegar para mais um vigília na cata dos malfeitores, dá de caras com Zé mosca pronto para abalar dali com o pecúlio necessário para o seu presépio.
Enche-se de raiva, mas contem-se para não fazer o mínimo de ruído! Corre no seu alcance afastado uns bons metros, pela parte de cima do monte, mas lado a lado com Zé mosca, que ignorando o perigo de levar uma saraivadas lá ia assobiando pelo caminho apertado e cheio de pedras que ligava a bouça à estrada de caminho a casa.
Nisto! O Zé apercebe-se do Justino! Meu Deus estou tramado pensa ele! Começa a tremer como varas verdes e pedalar com mais força.
O Justino aos berros uns metros acima da cabeça de Zé mosca, ameaça-o.
-Meu gatuno duma figa, a roubar pinheiros! Meu safado, se te apanho desfaço-te aos bocadinhos, vais sentir o peso do pinheiro que roubastes.
O Zé totalmente em pânico, pedala com toda a força que tem naquelas pernas.
A bicicleta roda em ziguezagues para fugir às pedras. O Tinoco a correr atrás dele cortando caminho para o apanhar mais à frente no final do caminho pedregoso, antes de ele chegar à estrada.
O mosca transpira por todos os lados, mas não desiste e lá segura como pode a bicicleta. Nesta altura Zé mosca não andava, Zé mosca voava!
Nisto…. Pum, catrapum! O mosca dá um salto e tomba da bicicleta! Como a velocidade devido ao medo era muita na descida do caminho estreito. Fez com que o pinheiro, como ia atravessado, tocasse nos galhos de outros pinheiros e a bicicleta dá duas voltas atirando o Zé ao chão, levando com a bicicleta em cima e espalhando o musgo pela mata fora, que tanto arranhão lhe tinha custado nos dedos cheios de frieiras.
Mas a hora era de fuga ao animal Tinoco e não havia tempo para lamentações do perdido.
Montado novamente na bicicleta, já com a roda feita num oito. Com arranhões por todo o corpo, as calças rasgadas mostrando as ceroulas de perna comprida. Fugiu por ali fora sem pinheiro nem musgo de encontro à estrada, onde podia despistar o malfadado Tinoco.
O Justino Tinoco apercebe-se do acontecido em cima do morro que ladeia o caminho. Pára abruptamente e fica uns segundos pasmado a ver o estado em que ficou o mosca (e foram esses segundos que o salvaram, de levar uma saraivadas). Mas mau como as cobras, não desiste continuando a perseguir e a gritar:
-Bem feito seu perna de boi! Vais para casa bem quente e se me apareces mais aqui, nem as ceroulas levas metidas nesse cu dentro. Desistindo de o apanhar, porque este entretanto entrava na estrada e seguia velozmente a caminho de casa.
Zé mosca parou cabisbaixo e deprimido à entrada do portão da sua casa. Pensava no que lhe tinha acontecido. Tanta gente vai apanhar pinheiros e logo havia de ser eu apanhado por aquele gorila do Tinoco berrou ele já resignado.
Cheio de vergonha e dorido em todo do corpo jurou! Pinheiros da bouça nunca mais. A mulher que fosse comprar os artificiais lá na loja do tio Esteves, que já vinham com luzinhas e piscas. Assim com chocolates pendurados nos ramos, os catraios acabavam por esquecer o musgo e rezavam para que o Natal chegasse para devorarem os chocolates. Mas enquanto o Natal não chegasse, contentavam-se a olhar para os chocolates, comendo-os com os olhos.

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