domingo, 10 de abril de 2011

As Cegonhas ainda não Voltaram.



Mas a imperial chaminé, onde as heras já a abraçam, num serpenteado, sem obstáculos de encontro ao cimo. Quando dias antes, o belo par de cegonhas num pouso requintado, vistoriavam as condições para lá construírem o ninho. Continua imponente esperando pacientemente, como até aqui, que as aves regressem e de uma vez por todas, se resolvam a lá deixar descendentes, para se tornar ainda mais majestosa.
Entretanto com a chegada da primavera e com este sol bem quente por sinal. O local que rodeia a velha fábrica transforma-se num verde magnífico.
Os campos em redor agora sem sombra do rasgar a terra com parelhas de bois e arados de pau. Tal o tempo que já lá vai e assim a terra liberta odores por à muito não respirar. Torna-se um canteiro de flores amarelas, que brotam como ervas daninhas por qualquer nesga que encontram.
Até as silvas que ocupam as paredes iniciais da velha estrutura, estão com um verde belo e as heras sobem pelas paredes, criando desenhos caricatos num sobe, sobe em ziguezague minúsculo, saídos da mão da mãe natureza.
No meio das árvores que crescem nas margens do ribeiro, vejo uma senhora que dá liberdade ao cachorro, para umas correrias desenfreadas, enquanto aproveita para espreitar para o que resta da velha fábrica, imaginando o que todos fazemos quando estamos bem perto, pertíssimo, o que seria a laboração desta fábrica, juntinha ao ribeiro, com uma ponte, que muitos anos antes tinha uma comporta onde armazenava a água, tão útil para fazer girar as roldanas da moagem.
Imagino aqueles Invernos intensos, com chuva a cair dias e dias, enchendo o ribeiro que galgava as margens e acredito, inundava tudo em redor escondendo os fundos da velha fabrica e cobrindo a ponte e os campos em redor.
A fábrica existe há mais de dois séculos e ninguém nas redondezas se lembra de ela laborar, portanto não há histórias para contar, o que adensa o mistério, enquanto se mantiver hirta e firme, num postal ilustrado para quem, passa bem ao lado.
O interior já ruiu com as rajadas do tempo. Mas o mesmo tempo, não é capaz de estilhaçar o que resta de um edifício, que guarda o suor de homens que viveram numa época já tão longínqua, que não deixaram descendentes perto do grande quadrado sem tecto (a velha fábrica), para contar as histórias e assim permanecem incrustadas para sempre nas frinchas já bem visíveis que dão abrigo às lagartixas, sempre prontas a saltar cá para fora, nuns banhos de sol que é a fonte da sua sobrevivência.

Sem comentários: