O Natal
era a alegria imensa do meu tempo de criança.
Esperava
por ele o ano inteiro. Já que me realizava e enchia-me de alegria, que se ia
diluindo a cada dia e só acabava no Natal, que chegava.
Lembro-me
de ir consoar à minha avó. E numa casa pequena juntava-se: os filhos, as noras
e os netos. Quanto mais pequena, mais juntos estávamos e mais alegria passávamos
uns para os outros.
A minha
avó não saia do fogão!
Preocupava-se
simplesmente de lhe meter lenha para aquecer a cozinha e manter a cafeteira do
café sempre quente, para distribuir pela gente.
Aos netos
distribuía os pinhões que ela com aqueles dedos tão calejados, os tirava de
dentro das pinhas acabadas de assar e nós sentados à sua volta de mão estendida,
esperávamos pela vez de, de uma só vez engolirmos os que caiam na nossa mão.
Os tios
jogavam às cartas. As tias conversavam de coisas sem interesse, já que nenhum
de nós ia para o pé delas. E nós só queríamos pinhões e chocolates, que não eram
muitos.
O mais
custoso era o regressar. Pela madrugada tínhamos que vir para casa, já que a da
avó era pequena para lá dormir. E sair do quentinho do fogão sempre a pedir
lenha para nos aquecer e, enfrentar o frio era o tormento que o Natal,
oferecia.
Normalmente
só pela manhã é que abria-mos as prendas, porque o Natal era no dia seguinte e
logo que o dia despontava, era a correria para a árvore natalícia e desembrulhar
os presentes (não eram muitos, os tempos eram difíceis), era o clímax ardente.
Lembro-me
de um Natal que me marcou de forma brutal!
Logo pela
manhã, saltei da cama e corri para o pinheirinho à procura da minha prenda.
Claro,
logo a encontrei. Grande, a encher os meus braços ainda pequenote e de uma
golpada rasguei a papelada e dei de caras com o que mais queria. Uma bola de
futebol!
Naquele
tempo eram de plástico forte e bem redondinha, era essa bola que eu queria!
Então como
ainda era muito cedo para vir cá para fora jogar e mostrar aos meus amigos a
minha prenda tão ansiada. Pus-me a dar uns chutos no corredor da minha casa.
De um
lado tinha os quartos. Do outro, a sala e a cozinha, divididos por um corredor,
desde a porta da rua, até ao fundo onde se situava a casa de banho.
Grandes
chutos estava eu a dar tão feliz, vendo a bola a ir e a vir, encontrando o meu
pé pronto a mandá-la ir, num vai e vem constante.
Só que…
desfaleci de tanta angústia. A minha bola tinha-se furado num abrir e fechar de
olhos, que me deixou aterrado e chorei amargurado.
A minha
bola tinha-se furado no prego que segurava a cortina que resguardava a casa de
banho.
Então num
dos meus chutos, a bola foi parar precisamente ao prego e tal a violência do
remate, que entrou mesmo pela cabeça do prego e lá ficou muchinha, depois do
estrondo, como um balão quando rebenta.
Chorei
largos minutos e nem o consolo do meu pai dizendo que me oferecia outra,
aliviou a minha tristeza.
Como mais
tarde vim para a rua e juntei-me aos amigos do bairro que alguns deles também tiveram
uma bola de prenda. Deu para uma jogatana de bola nova e para desanuviar a
tristeza de ter ficado sem a minha.
Nunca
mais me esquece da visão da bola tão pedida e tão sonhada, naqueles dias que
antecederam o Natal de à muitos anos. Amarrada ao prego, tão muchinha depois de
a ter na mão rechonchuda e maravilhosa.
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