Reparei
durante um tempo que certo amigo deixara de me contactar.
Os dias
passavam, a chuva consolidava-se, agitava neuroses, criava ambientes soturnos.
Estranhei....
Sabia que não estava a passar por momentos bons. Problemas financeiros, familiares.
Sabia que a sua alma procurava um abrigo, que a sua tristeza se impunha no dia-a-dia.
Mas também sabia, que disfarçava bem, que os outros com quem lidava quase não
davam por isso, ou se davam, não lhe atribuíam a dimensão que eu intuitivamente
descortinava.
Estranhei a
ausência, até porque até certo momento, ele desabafava comigo, permitia-me, entrelinhas,
descobrir sua mágoa. E insisti. Deixou de atender meus telefonemas, deixou de
responder aos meus emails.
Primeiro
fiquei literalmente zangada. Como se o seu silêncio, fosse ofensa imerecida,
desconexa, feita de uma agressão gritada sem voz.
Depois, no
meu cantinho de pensar, tentei descortinar se teria eu errado em algum momento,
se tinha praticado algum acto, mesmo por omissão, que o levasse a ter aquela
atitude.
Num gesto de
mimo (sei que me doía aquela ausência que me parecia uma bofetada no meu
orgulho, escarpas na minha praia), enviei-lhe uma mensagem solicitando uma
explicação.
E ela
veio...simples. Pedia para eu entender o seu silêncio e a sua ausência, porque
estava tudo mal na sua vida e precisava de tempo para si.
Aceito.
Não
entendo... Minha noção de amizade queda-se repentinamente envolvida numa
neblina. Estarei errada, quando parto do pressuposto de que é nesta altura que
o encosto é mais necessário?
Porque se
afasta um amigo quando estamos mais em baixo?
Compreendo
que nem sempre temos vontade de estar com os outros. Acontece-me. Nem sempre
consigo partilhar, nem sempre consigo dizer o que sinto. Mas não dispenso os
amigos, os mais próximos, aqueles que me cativam o coração, acariciam meu
estar. Saber que estão ali, mesmo resguardando o meu silêncio. Não é preciso
afastar-me. Nessas alturas, nem sequer o afastamento é colocado.
Não quero
afastar-me. Mesmo no isolamento indispensável para nos recuperarmos, eu sei que
eles estão ali. Que ouvem meu canto de ruptura, meu canto de mágoa.
Não entendo.
Aceito, porque respeito quem assume que está melhor longe de mim. Como amiga
dói.
Estou errada?
Ou relativamente a emoções, não há erro, nem juízo, simples sentir? Ou nem
sequer há amizade quando meu coração não pede presença?
1 comentário:
Mala......
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