São
nove horas.
Não se
houve um ruído, tudo está calmo, tudo repousa num sono profundo devido à noite
de consoada levar-nos pela noite dentro, envolvidos na alegria natalícia de
mesa composta, mas sem exageros porque o momento assim o exige.
Esperar
pelas prendas, jogando dominó, numa luta a dois já que o pequenote se derrotou à partida, ainda verde para estas andanças, mas feliz: que carinha linda, que
puto espectacular, que miúdo encantador. Como a vida é bela quando criamos a
nossa descendência, numa magia pura e grandiosa.
São
estes momentos que faz o Natal encantador lançando pós mágicos sobre nós!
O mais
velho como não gosta de perder nem a feijões, estudava cada jogada por entre
duas goladas (estes jovens já de barba rija, armam-se fortes com a bebida) e
fechava todas as saídas. Para eu não poder vibrar com a decepção de mais um
fecho e a comemoração de ir à frente da classificação a três.
Rimo-nos,
festejamos, atiçamo-nos. Em encontrões carinhosos e por fim, venceu quem mais
fez por isso. Mas com a certeza de todos sairmos vencedores, bastando olhar
para as expressões de cada um.
Como o
Natal nos injecta essa magia e nos dias que o antecede já temos prendas para
oferecer (o Pai Natal desvaneceu-se com o crescimento dos garotos). O
pinheirinho fica atolado de embrulhos.
Embrulhos
miudinhos, muitos deles cheios de amor e carinho. Que valem mais que notas já
difíceis de ganhar. E é vê-los, sejam tenros na idade. Sejam, maduras para a
idade, eufóricos empilhando o chão de todas as cores, pelos embrulhos feitos em
tiras e as mãos pequenas para as prendas oferecidas.
Que
alegria observa-los a raspar as raspadinhas, numa oferenda original (a esposa
tem destas coisas), na procura dos euros tão apetecidos.
Dois
euros, grita o mais novo feliz por ser o primeiro contemplado. Junta as mãos
numa prece antes de raspar a seguinte.
Cinco
euros, dez euros! Saltam eufóricos os outros dois, pela sorte que os brindou.
E lá
se vai as horas e a madeira consumida bem pertinho dos joelhos, aquecendo o
espaço, que uma vez mais o Natal encheu de magia.
Outras
prendas se abrem, outras expressões de alegria transbordam e o Natal ainda
continua.
A
manhã já vai alta, ouvem-se algumas pessoas correndo para os contentores e o vidrão,
deixando antes que já não exista espaço, os despojos de tão magica noite.
Toca a
limpar as marcas deixadas pela mesa e pelo chão natalício. E dar continuidade
ao Natal.
Porque
Natal é hoje, amanhã e todos os dias. Basta nós querermos!
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