domingo, 9 de novembro de 2014

O Verão de são Martinho





Ainda estico o corpo quando ouço o relógio de parede, badalar nove vezes.
A chuva bate na janela, já gasta pelos longos anos sem lhe dar uns mimos de brilho.
Por isso o frio que já se sente, não tem resguardo para que não se infiltra pelo quarto acanhado.
Sabe tão bem, sentir a chuva enrolado na roupa que recorda a infância.
Uma hora depois estou na rua necessitando de um café e alegre porque o sol não tarda a surgir.
Ele ai está!
Mas é sol de pouca dura. Um verão de são martinho. Com castanhas e vinho ainda a fervilhar de novo, baloiçando com os intestinos.
As nuvens bem se esforçam para lhe tapar o trilho.
Não adianta porque o sol ainda tem força para derrubar quem se cruza no seu caminho.
Fecho os olhos e inspiro o seu calor.
Que delicia. Que fofo.
O dia vai a meio. O sol sabe que só lhe resta umas horitas para deitar os cornitos de fora.
E eu aproveito num recanto onde ele alimenta as minhas emoções e emproa as plantas dos vasos que decoram as vinte escadas. Cada uma delas com o seu mistério
Um pouco mais tarde ele (o sol), que tantas saudades vai deixar, neste Inverno. Ameaçando chuva, vento e humidade até estalar os ossos. Desaparece numa imensidão de nuvens negras, que segundo a meteorologia não tardam a descarregar água, inundando as ruas e soltando as amarguras de um povo amarrado às tristezas da vida.

Sem comentários: