Levanto-me ainda o dia é tão longínquo e só
tenho poucos minutos para beber um café e duas torradas.
Preparo o lanche do meio-dia como quando era
menino e lá vou descendo quatro andares, fazendo o silêncio da noite, já que os
vizinhos ainda dormem o sono profundo.
A noite está terrivelmente fria e neva desde o nascer do dia anterior.
Andamos numa calma nervosa já que a estrada
está num estado de rezar aos Deuses.
O vidro da frente recebe a neve que bate numa
fúria inquietante, mas as escovas afastam-nas do atrevimento e só deixam por
vezes um embaciamento que aproveito para desenhar os meus sentimentos.
Uma hora e quinze de viagem espera-me e por
entradas na autoestrada, vejo-me entupido num trânsito intenso.
E a neve não cessa, que loucura! Todos rolam
como se nada se passasse e cada um segue o seu destino.
Vinte minutos depois, onde uns continuam a
dormitar como se não saíssem da cama. A neve dá lugar à chuva e a via rápida está
limpa de qualquer vestígio de neve.
Vai-se a neve, vem a chuva e toca a rolar que
se faz tarde!
Vou silencioso, falando comigo próprio e
recordando momentos ainda tão vivos de umas férias que pensei serem um paraíso.
Quero esquecer mas não consigo, alguém que
partilhou comigo horas que viraram dias. E dias que terminaram impossíveis na
hora da partida.
Meia hora depois a chuva desaparece e a
estrada torna-se bem seca que liberta um suspiro de satisfação.
A natureza é fértil nestes momentos! Neve,
chuva e depois uma acalmia que me acompanha até ao local da jornada.
Visto-me com a farda de longas horas e no
quentinho (não é para todos, onde longe mas neste momento satisfeito), dou o máximo
para exercer o meu trabalho.
As longas janelas de vidro duplo dão-me a luz
bem necessária. É o dia a nascer, ainda esfrego um olho para o abrir a valer e não
tarda, chega por fim o terminar e regressar é a satisfação de tudo correr pelo
melhor.
Mais uma hora e quinze por entre chuva e neve
ao chegar. Aterro numa mesa a abarrotar de marmelada caseira e pão alemão sem
centeio.
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