Isto está muito difícil e todos dizem que vamos para
um inferno!
Quando era pequenino, a minha mãe dizia que se me
portasse mal ia para o inferno e não sabia onde ficava.
E a cada dia que passava, por entre joelhos raspados
pelas pedras soltas do caminho, onde jogava o prazer que uma bola me dava.
Tentava chegar a casa sem dor nem palavra, para a mãe não me apontar o dedo e
dizer: “Portas-te mal e vais para o inferno”!
Jogava à malha, ao pião. Para ganhar uns fios de cobre,
ou meia dúzia de cromos. Enchendo ainda mais a caderneta, com todas as vedetas
do futebol da época.
Queria ganhar com o meu valor, mas não queria perder
com a batotice dos outros. Por isso, algumas vezes a malhada acabava mal e uns
murritos de criança eram trocados nos rostos de quem perdia a liderança.
Tentava chegar a casa triunfante mas escondendo as pisaduras da vitória, para a mãe não me apontar o dedo e dizer: “Portas-te mal e vais para o inferno”!
Tentava chegar a casa triunfante mas escondendo as pisaduras da vitória, para a mãe não me apontar o dedo e dizer: “Portas-te mal e vais para o inferno”!
Ia à catequese dada pelas freiras velhas e secas. E à
missa ouvir o padre que apanhando-me bem perto, apertava-me mais do que estava
habituado.
Que esforço a que era obrigado. E já não chegava a mãe
a matraquear a minha pequenina cabeça, ainda tão sensível, a apontar o dedo e
dizer: “ Se não fores vais para o inferno”. Também levava com a freira e o
padre, repetidamente: “Portas-te mal e vais para o inferno”!
Comecei a brincar às casinhas e aos médicos e
enfermeiras, para descobrir a beleza das garotinhas. Claro que elas queriam
conhecer o meu corpinho que crescia.
Estava tão contente, tão contente de ver um corpinho
tão pertinho, até ao momento, que a garotinha acabou com o brincar às casinhas,
porque a mãe além de umas dolorosas palmadas, lhe apontou o dedo e disse:
“Portas-te mais mal e vais para o inferno”!
O inferno sempre o inferno!
Passamos a
infância a ouvir essa monstruosa palavra!
Levei anos a livrar-me de ir para lá.
Eles passaram, com o inferno bem ao lado, do outro
lado do meu pensamento, tamanho o desprezo que lhe deitei.
Não sei porquê. Não o conhecia!
Até que os joelhos raspados e pedras soltas pelo
caminho, surgem no meu dia-a-dia. E tenho o meu país a dizer: deixa-te estar
aí, mesmo longe de quem mais adoras, porque isto aqui está um inferno!
O mesmo país que lança as malhadas em forma de
cortes sociais e o arremessar do pião dos impostos que sufocam sempre os
mesmos. E lá está repetidamente o povo a dizer: porquê que se tornou a nossa
vida um inferno!
Os governantes liderados por um lunático desprezível,
acompanhado pelos acólitos com comadres à mistura. Lideram os nossos destinos
como se vivêssemos no tempo da outra senhora. E volto a relembrar, o inferno em
que muitos foram enviados sem retorno.
O país está um inferno, é o que todos apregoam.
E o inferno queima as esperanças de voltar a servir o
meu país, enquanto for gerido pelos demónios aristocratas.
E tenho a mãe a
dizer: “ foge do inferno meu filho. Tu que nunca te portas mal”!
Agora começo a perceber onde ele fica e sei quem o
criou!
Sem comentários:
Enviar um comentário