domingo, 8 de dezembro de 2013

Inferno, onde fica e quem o Criou



Isto está muito difícil e todos dizem que vamos para um inferno!
Quando era pequenino, a minha mãe dizia que se me portasse mal ia para o inferno e não sabia onde ficava.
E a cada dia que passava, por entre joelhos raspados pelas pedras soltas do caminho, onde jogava o prazer que uma bola me dava. Tentava chegar a casa sem dor nem palavra, para a mãe não me apontar o dedo e dizer: “Portas-te mal e vais para o inferno”!
Jogava à malha, ao pião. Para ganhar uns fios de cobre, ou meia dúzia de cromos. Enchendo ainda mais a caderneta, com todas as vedetas do futebol da época.
Queria ganhar com o meu valor, mas não queria perder com a batotice dos outros. Por isso, algumas vezes a malhada acabava mal e uns murritos de criança eram trocados nos rostos de quem perdia a liderança.
Tentava chegar a casa triunfante mas escondendo as pisaduras da vitória, para a mãe não me apontar o dedo e dizer: “Portas-te mal e vais para o inferno”!
Ia à catequese dada pelas freiras velhas e secas. E à missa ouvir o padre que apanhando-me bem perto, apertava-me mais do que estava habituado.
Que esforço a que era obrigado. E já não chegava a mãe a matraquear a minha pequenina cabeça, ainda tão sensível, a apontar o dedo e dizer: “ Se não fores vais para o inferno”. Também levava com a freira e o padre, repetidamente: “Portas-te mal e vais para o inferno”!
Comecei a brincar às casinhas e aos médicos e enfermeiras, para descobrir a beleza das garotinhas. Claro que elas queriam conhecer o meu corpinho que crescia.
Estava tão contente, tão contente de ver um corpinho tão pertinho, até ao momento, que a garotinha acabou com o brincar às casinhas, porque a mãe além de umas dolorosas palmadas, lhe apontou o dedo e disse: “Portas-te mais mal e vais para o inferno”!
O inferno sempre o inferno!
 Passamos a infância a ouvir essa monstruosa palavra!
Levei anos a livrar-me de ir para lá.
Eles passaram, com o inferno bem ao lado, do outro lado do meu pensamento, tamanho o desprezo que lhe deitei.
Não sei porquê. Não o conhecia!
Até que os joelhos raspados e pedras soltas pelo caminho, surgem no meu dia-a-dia. E tenho o meu país a dizer: deixa-te estar aí, mesmo longe de quem mais adoras, porque isto aqui está um inferno!
 O mesmo país que lança as malhadas em forma de cortes sociais e o arremessar do pião dos impostos que sufocam sempre os mesmos. E lá está repetidamente o povo a dizer: porquê que se tornou a nossa vida um inferno!
Os governantes liderados por um lunático desprezível, acompanhado pelos acólitos com comadres à mistura. Lideram os nossos destinos como se vivêssemos no tempo da outra senhora. E volto a relembrar, o inferno em que muitos foram enviados sem retorno.
O país está um inferno, é o que todos apregoam.
E o inferno queima as esperanças de voltar a servir o meu país, enquanto for gerido pelos demónios aristocratas.
 E tenho a mãe a dizer: “ foge do inferno meu filho. Tu que nunca te portas mal”!
Agora começo a perceber onde ele fica e sei quem o criou!

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