Há dois anos conheci alguém que escrevia
muito bem!
Frases com sentido, pontuação adequada, letra
grande quando necessário.
Corrigia-me a toda a hora, já que a emoção de
expressar os meus desejos, baloiçava com a minha escrita de almofada.
Não mencionava um piropo. Não escorregava num
simples arroto. Era pura e simplesmente escrita, num excelente português.
Acentos na direcção certa. Os tiles, tão
suaves como a brisa de verão. E o H, sempre que a oportunidade o pusesse à
prova.
As vírgulas faziam parar a minha emoção
(parecia propositado), de continuar ansiosamente a procurar o fim da frase.
E os pontos? Obrigavam-me a travagens
bruscas, para não misturar a alegria em me conhecer, com os meus desejos mesmo
ao entardecer.
Expressava uma educação, já em desuso nos
manuais escolares.
Começou com o você tradicional e depois de eu
tanto insistir, passou a tratar-me por tu.
Quando eu mais atrevidote, tentando sair fora
da linha de escrita, evitando perguntar. Ela chamava-me à razão com um simples ?
ou !.
Por largos momentos pensei estar perante uma
pessoa que leccionava Português.
Mais tarde já a nossa intimidade deixava
escapar virgulas, pontos e iiis. Confessou-me que sabia falar e escrever três línguas!
Perante isto só me restava dar a mão à
palmatoria e encutinhar-me perante alguém que quando era feliz comigo, escrevia
num excelente português!
Quando se chateava a valer, era impropérios em
inglês.
Quando lhe rogava para me perdoar algo que
inocentemente causava, era num alemão de fazer inveja, aos que cá
permanentemente praguejam.
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