sábado, 1 de agosto de 2015

Rei morto, Rei posto




Mataram o rei leão Cecil!
Para desespero de quem já fazia do belo animal porta-estandarte, de capa de telemóvel.
Maldito americano, dentista de profissão. Que lhe raspas-te o escalpe, para o pendurar numa sala infestada de troféus de caça.
Que prazer vê-lo sofrer, numa agonia desesperante. Deambulando pela savana trespassado pela seta assassina, esperando a hora de lhe esfolar o couro. Sem antes, posar para a horrível fotografia.
Dias e dias se escreveu sobre o já familiarizado animal.
Era companheiro habitual dos safaris anuais pela savana. Onde de tão perto, pequenos e grandes (os mais endinheirados), tinham a felicidade de ver bem juntinho, um leão de juba farta e semblante amigável.
Deixava-se fotografar com aparência de gato domesticado. E foi assim que se deixou apanhar pelo dentista malvado.
Adoro leões e não me canso de os ver. Uma, duas. Milhentas vezes.
Era o animal que seria se a vida me atirasse para a outra selva. Numa troca de personagens.
Rei morto, rei posto!
Cá no Portugal dos pequeninos outro leão vai rugir.
Jorge Mendes, vai juntar os trapinhos com uma leoa, que faz inveja a milhões de matronas.
Para isso alugou os jardins de Serralves, para meio norte assistir ao desfile de centenas de leões e leoas, perfumadas de jóias e peles de adoráveis escalpes.
Este não se vai deixar fotografar.
Vai parar o trânsito, fechando uma avenida que abria alas para tantos destinos.
Com ele vão desfilar num altar improvisado a libertar aromas de todas as fragrâncias. Inúmeras figuras públicas, num reino de bola que envolve tantos milhões, fazendo inveja a tantos camelos, que se dizem serem possuídos pelos árabes do petróleo.
Soltou um montão de euros, para que em meia dúzia de horas fosse o rei e senhor de um momento que ficará registado nos jornais da bola.
E logo no dia seguinte as revistas top de todo o mundo se esquecerão do leão assassinado, para ilustrar a subida ao altar do novo rei leão condecorado. Com as beldades a serem focadas em escalpes dourados, numa competição ainda a época vai no adro.
Este momento juntará políticos e empresários. Artistas de música e artes plásticas.
Presidentes de tantos clubes e até ministros com ou sem pasta.
E o povinho agarrado às grades, que separam para bem longe a multidão da boda. Gritando freneticamente pelos nomes dos craques, mascarados com as tatuagens da moda. Esperando pelo desfile das bombas dentro e fora do habitáculo.
É disto que o meu povo gosta.
Espectáculo!
Há sempre um leão a tomar o lugar do morto, nesta sociedade a soltar carne putrefacta.

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