sábado, 10 de outubro de 2015

A noite acompanha-me na Ida e na Volta




Mudam-se os hábitos enquanto o tempo caminha para a penumbra do Inverno.
Levanto-me com a noite a enrolar-se ainda nas mantas que aliviam o cansaço.
Percorro as estradas saturadas de automóveis que como o meu, levam ao destino quem diariamente busca o sustento.
São oitenta quilómetros de luzes encarnadas que se multiplicam em milhares tão juntas, que dá a ideia de um monumental choque em cadeia.
Imenso tempo para chegar.
Imenso tempo para mergulhar em lembranças recentes, que acolhem o nascer do dia e oferece-me o trabalho para realizar com a merecida alegria!
A manhã corre ao sabor das marradas nos dedos e no poderio do corpo.
A dor é breve e as nódoas só são perceptíveis no banho, que relaxa o esforço. Mas a alegria no querer ultrapassa mesmo o dever.
A tarde avança a cada hora, diminuindo o tempo que falta para voltar a casa numa encruzilhada de autoestradas, com mais oitenta quilómetros de distância.
Falta só concretizar a obrigação de colocar nove portas para que os investigadores se fechem em laboratórios e descubram a fórmula certa para nos tornar mais imunes às bactérias do mundo.
Enquanto as coloco sem erros, imagino todo aquele equipamento caríssimo que levará os jovens estudantes de medicina, a pôr em prática o que levou anos a consolidar em agradável teoria.
Regresso por fim a casa, já a noite toma conta de mim e devolve as luzes encarnadas que se multiplicam em milhares estampadas em faróis de curioso designer. Mais nítidas a cada travagem em cima do automóvel mais próximo, enfeitam o caminho de traços que a minha imaginação os liga em linhas vastas para os proteger de qualquer desgraça.
Imenso tempo para chegar!
Imenso tempo que me deixo por minutos embalar num sono profundo e rápido interrompido por um abanão felizmente sem traumas.
Imenso tempo para preparar o dia seguinte, logo que se desliguem as luzes encarnadas e se acendam as que ainda atraem os insectos, que vão resistindo ao anunciar do Inverno.

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