Mudam-se os hábitos enquanto o tempo caminha
para a penumbra do Inverno.
Levanto-me com a noite a enrolar-se ainda nas
mantas que aliviam o cansaço.
Percorro as estradas saturadas de automóveis que
como o meu, levam ao destino quem diariamente busca o sustento.
São oitenta quilómetros de luzes encarnadas
que se multiplicam em milhares tão juntas, que dá a ideia de um monumental
choque em cadeia.
Imenso tempo para chegar.
Imenso tempo para mergulhar em lembranças
recentes, que acolhem o nascer do dia e oferece-me o trabalho para realizar com
a merecida alegria!
A manhã corre ao sabor das marradas nos dedos
e no poderio do corpo.
A dor é breve e as nódoas só são perceptíveis no
banho, que relaxa o esforço. Mas a alegria no querer ultrapassa mesmo o dever.
A tarde avança a cada hora, diminuindo o
tempo que falta para voltar a casa numa encruzilhada de autoestradas, com mais
oitenta quilómetros de distância.
Falta só concretizar a obrigação de colocar nove
portas para que os investigadores se fechem em laboratórios e descubram a fórmula
certa para nos tornar mais imunes às bactérias do mundo.
Enquanto as coloco sem erros, imagino todo
aquele equipamento caríssimo que levará os jovens estudantes de medicina, a pôr
em prática o que levou anos a consolidar em agradável teoria.
Regresso por fim a casa, já a noite toma
conta de mim e devolve as luzes encarnadas que se multiplicam em milhares estampadas
em faróis de curioso designer. Mais nítidas a cada travagem em cima do automóvel
mais próximo, enfeitam o caminho de traços que a minha imaginação os liga em
linhas vastas para os proteger de qualquer desgraça.
Imenso tempo para chegar!
Imenso tempo que me deixo por minutos embalar
num sono profundo e rápido interrompido por um abanão felizmente sem traumas.
Imenso tempo para preparar o dia seguinte,
logo que se desliguem as luzes encarnadas e se acendam as que ainda atraem os insectos,
que vão resistindo ao anunciar do Inverno.
Sem comentários:
Enviar um comentário