Da porta envidraçada da minha cozinha, vejo a
montanha coberta pelo sol e as árvores irradiando a sua cor. Numa linha
serpenteada, até que a estrada deixe de a namorar, pela última curava,
perdendo-a de vista.
As do sopé, verdes da cor da relva que se
estende até ao início da estrada. Onde se concentra os poucos vizinhos com as máquinas
agrícolas estacionadas e as vacarias até de noite iluminadas. Mais parecendo
discotecas coloridas, para que o gado se alimente de noite e de dia. Crescendo
num fechar de olhos e não tarda prontos. Para serem carne para os canhões, do
nosso estômago.
Uns vinte metros mais acima, o verde fica
desmaiado, sofrendo do clima agreste, onde a neve e o vento iniciam, a sua
brusca rebeldia.
Outros bons metros mais acima, num acicate acentuado.
Já não existe verde, nem vestígios dele.
As poucas árvores que lutam contra a dureza
da Natureza são acastanhadas. Perdendo grande parte da beleza das suas manas,
que vivem a roçar as suas raízes, mais abaixo.
Ainda mais acima, onde só é possível olhar de
cabeça bem erguida. É só rocha embutida!
Longe a longe, observa-se umas árvores tenazmente
fazendo pela vida, num cenário rochoso e tenebroso. Nem verdes, nem castanhas.
Escuras como o carvão, dado que durante grande parte do ano, são cobertas pela
neve e a humidade constante.
No cimo, onde nenhum ser humano ousa pousar
os pés para virarem heróis por momentos. Só se vislumbra os picos aguçados da
montanha, autênticos projéteis virados para o céu.
E por breves instantes, imagino-me a escalar
esta majestosa montanha, pelos minúsculos caminhos, que o degelo ao longo de
milhares de anos abriu em direção à base onde milhares de pessoas assomem a
imprescindível rotina diária.
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