segunda-feira, 16 de março de 2009

O Domingo da Ressaca do Sono



O Domingo entrou-me pela janela dentro como uma estrela incandescente, iluminando o quarto de uma ponta a outra, obrigando-me a levantar às sete horas para cumprir um compromisso que juntou o útil (profissional) ao agradável (lazer).
Foi custoso sair da cama tão cedo!
Adoro, ao Domingo refastelar-me na cama larga, roçando suavemente os dedos dos pés nos da minha jovem que bem juntinho ao fim da cama dorme como um anjo. E uns leves toques como forma de sinal para ela despertar e se abrir ao amor que sempre sem cessar jorra dos meus poros e é preciso sossegar para que o Domingo se transforme num hino de paixão e de boa disposição.
Família preparada. Automóvel rolando o asfalto, lá cheguei juntamente com um casal amigo ao meu compromisso que me “obrigou” a perder o gozo de dormitar mais umas horitas que ultrapassam a barreira do horário diário que sou obrigado a cumprir e que o raio do despertador assola os meus ouvidos.
De facto, fui assistir aos campeonatos nacionais de ginástica, na vertente de show e precisão. Um desporto que não faz parte dos meus hábitos e como tal, foi mais uma ocasião para sorver todo aquele ambiente de cor e alegria.
De cores resplandecentes! O vivo dos tons, onde predomina, o azul bebe salpicado de lantejoulas prateadas.
O amarelo cor do sol, num dia cheio dele.
O rosa celeste também salpicado de lantejoulas.
E o branco, o branco da paz, que tanta falta faz numa grande parte do mundo. Realçavam aqueles corpos na maioria ainda juvenis cheios de formosura e encanto.
As pinturas nos rostos!
Ora de Zorro a lenda viva.
Ora de índia, dos contos infantis.
Ora de mini mascaras simbolizando um Carnaval que já se foi .
Retratando o tema que cada grupo iria apresentar, originava semblantes disseminados, mas com o decorrer da apresentação se abriam em sorrisos de orelha a orelha, na esperança de um show positivo e no cair no goto do júri.
Claro que nem todos eram contemplados com boas performances dadas pelo júri e as poucas palmas atribuídas no final de cada votação, criavam um vazio triste nas jovens que rapidamente abandonavam a pista sem agradecer o pouco que tinham para o fazer, já que a actuação foi banal e como tal a nota era o clímax dessa banalidade.
Eram as pinturas nos rostos das jovens que levaram as (nossas) mulheres lá.
É o seu ramo profissional, tendo o convite partido da principal responsável dessa área e com elas atentas aos últimos retoques, nas por fim, restantes miúdas impacientes que desesperavam a maquilhadora, já que não conseguiam se manter quietas, estavam em pulgas com tanta ansiedade da sua vez estar cada vez mais perto de encher aquela pista.
Mulheres escondidas nos balneários das ginastas, atentas a cada salpico de pintura que desenhava um traço de luz e cor naqueles rostos. Homens livres para porem a vista a pastar naquele lamaçal de cor e beleza.
A cada entrada de um grupo de ginastas em pista, era um alastrar de gritinhos histéricos de uma plateia a abarrotar de miúdas, em elevadíssimo número, (os rapazes contavam- se pelos dedos), acomodados em sítios estratégicos pertencentes às claques ruidosas e irrequietas.
Com o calor a ser inconveniente e com as horas a acumularem-se. O corpo começa a ficar pastoso e a transpiração vai secando na roupa, criando um desconforto já de desertar para outras margens.
Chega por fim a entrega dos prémios, que premeia os mais capazes, pertencentes a escolas já com currículo na especialidade, dando-me a entender que ganham sempre os mesmos, não havia rivais à altura, o que de certa forma tira um pouco de brilhantismo à modalidade (80% das escolas eram do Porto). E denota nos jovens uma ligeira resignação no sabor da vitória, já que ela surge constantemente, porque os adversários, são frágeis e os únicos que dão luta são os da própria equipa.
Bela propaganda da modalidade que foi uma surpresa para mim já que pouco ligo a este desporto. Fundamentalmente porque na zona onde vivo não existe sombra sequer desta modalidade, que diga-se de passagem encheu de beleza e luz, aquele pavilhão bem composto de um público maioritariamente ligado às atletas. Que aplaudiram, gritaram, os nomes dos clubes e até das próprias atletas, até à exaustão, onde só a água aliviava as gargantas sequiosas e já gastas, de dois dias de Campeonato Nacional.
Para terminar um dia cansativo mas positivo. Nada mais que uma jantarada (ou melhor uma cabritada), vindo dos pastos agrestes das encostas do interior norte, em fogão a lenha que elevou uma minha disposição já de si sempre bem presente onde quer que esteja, até cantei, ou fiz que cantei. O vinho subia os degraus do cérebro num corrupio constante elevando a temperatura do corpo e do juízo. Num ambiente familiar de pessoas simples, verdadeiras e puras, onde a amizade é mesmo amizade, que já ganhou raízes neste punhado de anos onde nos encontramos sistematicamente.
Claro que me tornei a deitar tarde e desta vez o despertador via rádio acordou-me à mesma hora do começo da semana, onde a segunda-feira transporta as marcas do fim-de-semana de exageros, que dão lugar à ressaca mais de sono, que outra coisa. Que me levitam para uma atmosfera de cabeça pesada.

1 comentário:

OnlyMe disse...

Fizeste-me recordar os saraus de ginástica da minha filha, quando era pequena. Era um orgulho vê-la a realizar os seus exercícios para os quais tanto tinha treinado. São momentos inesquecíveis que ficam sempre na memória e no coração.

Jinhos :)