domingo, 30 de setembro de 2012

A Flor do Mal e do Bem



Caminhava, com este sol ainda salpicado de calor de Verão, quando deparo com a berma da estrada repleta de flores amarelas, que nascem aos molhos nos canteiros ainda abandonados, para que logo, que termine esta grandiosa obra, nasça uns jardins de encher o olho a quem lá vai para trabalhar. E mesmo em visitas guiadas para ver in loco, como nascem estes carros, que daqui partem novecentos por dia e logo que o complexo fique concluído, serão mil e cem que vão colorir de beleza as imensas estradas deste mundo, cada vez mais próximo de todos.
Mas como dizia, estas flores de um amarelo selvagem eram a contagem do malmequer bem-me-quer, que tirava as teimas dos namoricos que garotos de tenra idade como eu, faziam diante das meninas de meio palmo.
E então cortávamos uma pétala e malmequer.
Outra, seria o bem-me-quer e por aí diante, até chegar ao fim das pétalas que a flor continha e bem-me-quer dava direito a um beijinho na face. Eramos miúdos e beijar na boca nem pensar era pecado.
Se o resultado fosse malmequer, pronto estava arrumado e não havia namoro para ninguém, em miúdos de meia dúzia de anos.
Só que nesse tempo caminhávamos pelos campos fora, numa idade da inocência, tão pura e tão bela, que nos fazia feliz só em dar dois saltos nesses campos que esperavam pela altura de serem lavrados e levarem as nossas flores, do malmequer bem-me-quer.
Ainda hoje estive a dar duas de treta com um miúdo de vinte e dois anos, contando-lhe os meus tempos de infância, sem computadores e telemóveis.
Sem Meo e Zone.
Sem dinheiro para matar vícios.
Sem festas e festivais de Verão. E discotecas ao virar da esquina.
Arreguilou os olhos quando lhe disse, com a alegria de quem está a reviver momentos marcantes. Que a nossa discoteca era a garagem do zé Pombas, numas músicas que nesse preciso instante ouvíamos. Onde se proporcionavam os tais contactos e a paixão vinha ao de cima.
E para isso bastava umas colunas e um gravador para meter as cassetes. Sem Dj`s e misturas de trazer por casa.
Sem cerveja até cair para o lado. E sem consumo obrigatório, para pagar aos seguranças
O miúdo ficou espantado e mais ficou quando lhe contei que fazíamos as passagens do ano nos baixos do Lamela, casa ainda em construção e nem o frio fazia arrefecer o ânimo, já que o que nos unia era amor puro e quando assim é: “é fogo que arde e não se vê”!
Foram uns minutos de recordações, onde se cruzaram duas gerações. Cada uma com as suas vicissitudes.


   



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