Caminhava,
com este sol ainda salpicado de calor de Verão, quando deparo com a berma da
estrada repleta de flores amarelas, que nascem aos molhos nos canteiros ainda
abandonados, para que logo, que termine esta grandiosa obra, nasça uns jardins
de encher o olho a quem lá vai para trabalhar. E mesmo em visitas guiadas para
ver in loco, como nascem estes carros, que daqui partem novecentos por dia e
logo que o complexo fique concluído, serão mil e cem que vão colorir de beleza
as imensas estradas deste mundo, cada vez mais próximo de todos.
Mas como
dizia, estas flores de um amarelo selvagem eram a contagem do malmequer bem-me-quer,
que tirava as teimas dos namoricos que garotos de tenra idade como eu, faziam
diante das meninas de meio palmo.
E então
cortávamos uma pétala e malmequer.
Outra,
seria o bem-me-quer e por aí diante, até chegar ao fim das pétalas que a flor
continha e bem-me-quer dava direito a um beijinho na face. Eramos miúdos e
beijar na boca nem pensar era pecado.
Se o
resultado fosse malmequer, pronto estava arrumado e não havia namoro para ninguém,
em miúdos de meia dúzia de anos.
Só que
nesse tempo caminhávamos pelos campos fora, numa idade da inocência, tão pura e tão bela, que nos fazia feliz só em dar dois saltos nesses campos que esperavam
pela altura de serem lavrados e levarem as nossas flores, do malmequer bem-me-quer.
Ainda hoje
estive a dar duas de treta com um miúdo de vinte e dois anos, contando-lhe os
meus tempos de infância, sem computadores e telemóveis.
Sem Meo
e Zone.
Sem
dinheiro para matar vícios.
Sem
festas e festivais de Verão. E discotecas ao virar da esquina.
Arreguilou
os olhos quando lhe disse, com a alegria de quem está a reviver momentos
marcantes. Que a nossa discoteca era a garagem do zé Pombas, numas músicas que
nesse preciso instante ouvíamos. Onde se proporcionavam os tais contactos e a paixão
vinha ao de cima.
E para
isso bastava umas colunas e um gravador para meter as cassetes. Sem Dj`s e
misturas de trazer por casa.
Sem cerveja
até cair para o lado. E sem consumo obrigatório, para pagar aos seguranças
O miúdo
ficou espantado e mais ficou quando lhe contei que fazíamos as passagens do ano
nos baixos do Lamela, casa ainda em construção e nem o frio fazia arrefecer o ânimo,
já que o que nos unia era amor puro e quando assim é: “é fogo que arde e não se
vê”!
Foram uns
minutos de recordações, onde se cruzaram duas gerações. Cada uma com as suas vicissitudes.
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