Foram-se
as festas e com elas os poucos folguedos de um tempo de vacas magras que
engrossam os nossos pastos e voltamos à romaria quotidiana, correndo em busca
do nada, sobrando só as migalhas que ainda se amontoam nas prateleiras.
Janeiro
vai na segunda semana, com frio e pouco sol e novidades nada.
Alto lá,
novidades só negativas, com os aumentos previstos e o abanar das nossas cabeças
como resignação e o tem que ser é mais forte, que a nossa chama em vencer.
O nosso
Presidente veio, num discurso a soar a: que ainda tenho uma palavra a dizer. Abanar
um pouco o buraco onde invernava e num assombro de vitalidade lá se pós em bicos
de pés para que todos os portugueses o vissem bem, estivessem onde as rabanadas
e os mexidos, ainda fartassem a mesa da consoada.
Estamos
gratos presidente, por estar um pouco do nosso lado. Mas sabemos que é deitar
terra nos nossos olhos e logo, logo regressará para a invernação, porque não tem
físico para aguentar os lobbys, por si criados, num tempo de vacas gordas. Onde
só mamaram os seus discípulos e hoje estão tão fartos do leite, que fugiram
para terras de sol e mar, arrotando como camelos pelos buracos que Deus lhes
deu.
Sem
presidente. Sem governantes. Só podemos contar, contar com quem!
Se isto
é um deserto de ideias. Um deserto de oportunidades. Um deserto repleto de
areia, que assola os cérebros, de quem nos podia deitar a mão.
Mão!
E se estendêssemos
as mãos!
Não para pedir algo, mas para amarrar a que
está mais próxima. E de mão
em mão, juntávamos uma enormíssima massa
humana a abarrotar de estudantes sedentos de ajudas, que logo ao primeiro que a
estendeu. Logo, dezenas deles estavam ligados como elos de correntes inquebráveis,
unindo as mãos dos professores descontentes pelos cortes inerentes e
funcionários impacientes pelos contratos a prazo ainda pendentes.
Mas a
corrente ambicionava mais, muito mais!
Galgou Concelhos apinhados de desempregados
desesperados por trabalho que não existe, são milhares e milhares que deram uma
amplitude tal, que se formou um anel do tamanho deste país.
Anel que
prendeu como se fossem dedos, todos os idosos. De todos os pontos, mesmo
naqueles onde só vivem meia dúzia e levantou os enfermos, fazendo sorrir os sem-abrigo.
Por fim,
depois de dar a volta a um país entrelaçado num estender a mão sem fim, cercou
os gabinetes e o palácio do presidente.
Exigiu o fim
da austeridade e o renunciar do cargo dos que, incompetentes nos asfixiam
diariamente.
Ufa, estou
a sonhar!
É já segunda-feira.
Olho para as minhas mãos e não encontro outras para me ligar.
Sonhar é
belo, pode ser que o sonho se torne realidade.
Basta nós
querermos, é só darmos as mãos!
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