A vida passa como um lampejo arquejante sobre
o meu pensamento, não é para menos, hoje 27 Janeiro. O meu filho o primeiro,
faz vinte e quatro anos.
Vinte e quatro anos! Tenho um filho com esta
idade, parece impossível, apesar de já se vislumbrar umas brancas marotas que
tento enviar a cada gesto para trás das orelhas.
São muitos anos e lembro-me como se fosse
hoje!
Era o primeiro. E como tal era o fechar da
redoma por nós construída num namoro intenso, que só podia redondar num
nascimento.
Mal viu a luz do dia, logo o afastamos das
ameaças diárias e resguardamo-lo numa alcofa blindada e só nós o poderíamos ver.
E o raça do rapaz, esperto demais para a
tenra idade aproveitou-se da nossa fragilidade e inexperiência. E toca a fazer
o que lhe apetecia.
E hoje faz vinte e quatro anos!
Gostou do adocicar das gotas que lhe colocávamos
na boca e toca, logo que o sabor se desgastasse, a berrar como um cabrito,
pedindo mais e mais. E os pobres desgraçados corriam apressados para acalmar o
manhoso petiz.
Adorou o abanar da alcofa e exigiu que o embalássemos
a toda a hora. E os pobres pais, não querendo ver a realidade; que dois” tones”,
passavam a noite em vigília constante, quase caindo desfalecidos, com a alcofa
nos joelhos abanando-o seguidamente, senão o maroto cabritinho berrava até por
os vizinhos de pé.
Dormia na caminha bem ao nosso lado, mas
exigia dormir de mão dada. Que ternura, mas o puto tardava em adormecer e o meu
braço, não se podia mexer, senão era berreiro já conhecido. E ficava com o
braço tão dorido que demorava minutos a senti-lo.
Que doloroso era cuidar deste filho e quanto
mais crescia, mais nos ia sentindo o pulso.
Emagrecemos. Carregávamos olheiras de noites
mal dormidas e o puto tardava em nos dar sossego.
E hoje faz vinte e quatro anos!
Mamava como um desalmado, não deixando que eu
partilhasse o que era meu por direito.
E na fase das papas e sopinha bem ralada, não
se fazia rogado e de duas em duas horas, lá estava o berreiro a alertar para
acalmar o ratinho da barriguinha.
Se o ligasse à corrente dava energia para
toda a casa já que não parava sossegado. Tinha uma vontade incrível de estar em
constante movimento. Fosse a fazer, o que lhe viesse á mente.
E hoje
faz vinte e quatro anos!
Fez o Básico com uma perna às costas. O
melhor entre os melhores
E o Secundário,
como quem não quer a coisa. Tratava por tu todos os testes.
O Superior, pouco custou. É malandro-te, para
ser mais que Doutor.
E hoje faz vinte e quatro anos, senhor do seu
nariz. Também é só isso que possui.
E língua afiada, mas que não o está a levar a
lado nenhum. Porque tretas e mais tretas está o mundo cheio.
Não tem onde cair morto, mas tem sempre um
lugar guardado neste coração bondoso.
Parabéns Diogo!
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