terça-feira, 1 de novembro de 2016

Ele continuará a viver com Alegria





Domingo pela manhã, ainda se sentia vestígios de uma noite banhada em recordações de trabalho pela Europa fora e de copos já com crosta por cima da mesa de licor barato, que fazem alegrar a maioria. E no meio de tantos portugueses cerrados pelas rugas de uma vida dura. Um, queixava-se de um pé inchado, como algumas barrigas expostas pela sala desarrumada.
O homem era duro de roer, mas a dor no pé era mais forte do que o sorriso já amarelo pelo rosto mesclado de anos a amargar o betão envolvido em ferro. E não restou alternativa do que ir ao hospital, resolvendo de uma vez, com a injecção do costume, uma dor maluca.
No início eram sorrisos e graçolas de circunstância.
 Mas logo depois, o semblante torna-se carregado e as lágrimas assolam a rostos transfigurados!
O colega volta da urgência em cadeira de rodas e sobre a perna direita, um risco bem nítido do pé ao cimo da coxa. Marcava o corte que seria feito antes que (mais uns dias) e, lá se ia a perna devido à artéria principal estar perigosamente entupida.
O colega não consegue aguentar as lágrimas.
 E assistir num homem duro, onde anos de cortes profundos e quedas sem poiso, nunca fizeram libertar lágrima que fosse!
A decisão urgente de substituir a artéria principal, antes que a amputação fosse o único caminho para a solução?
 Não se aguentou a angústia de ver um colega que horas antes entrou no hospital, no meio de graçolas habituais. E vê-lo subir ao terceiro andar, para uma cirurgia de quatro horas infinitas. É uma dor que nos mostra o quanto somos indefesos, nesta vida que por vezes a desleixamos, ingenuamente imprudentes.
Hoje feriado, fomos visitar o Azevedo!
Tristes e prontos a dar a moral mais elevada possível, a um colega que desde que cá chegou, não tem tido a sorte que lhe é merecida.
 Lá o encontramos, com as marcas bem visíveis de uma cirurgia que por pouco não lhe roubava a ainda elevada alegria, em continuar a viver esta vida.
Foram momentos apertados, para lhe dizer algo que fosse.
Mas momentos depois a alegria voltou e no meio de piadas já banais. Sentimos que o Azevedo estava feliz por nos ver e sentir como nos apercebemos, que cá estamos, para tudo o que necessitar e regressamos com a certeza que o colega rapidamente recuperará.

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