Domingo pela manhã, ainda se sentia vestígios
de uma noite banhada em recordações de trabalho pela Europa fora e de copos já com
crosta por cima da mesa de licor barato, que fazem alegrar a maioria. E no meio
de tantos portugueses cerrados pelas rugas de uma vida dura. Um, queixava-se de
um pé inchado, como algumas barrigas expostas pela sala desarrumada.
O homem era duro de roer, mas a dor no pé era
mais forte do que o sorriso já amarelo pelo rosto mesclado de anos a amargar o
betão envolvido em ferro. E não restou alternativa do que ir ao hospital,
resolvendo de uma vez, com a injecção do costume, uma dor maluca.
No início eram sorrisos e graçolas de circunstância.
Mas logo
depois, o semblante torna-se carregado e as lágrimas assolam a rostos
transfigurados!
O colega volta da urgência em cadeira de
rodas e sobre a perna direita, um risco bem nítido do pé ao cimo da coxa. Marcava
o corte que seria feito antes que (mais uns dias) e, lá se ia a perna devido à artéria principal estar perigosamente entupida.
O colega não consegue aguentar as lágrimas.
E
assistir num homem duro, onde anos de cortes profundos e quedas sem poiso,
nunca fizeram libertar lágrima que fosse!
A decisão urgente de substituir a artéria
principal, antes que a amputação fosse o único caminho para a solução?
Não se
aguentou a angústia de ver um colega que horas antes entrou no hospital, no meio
de graçolas habituais. E vê-lo subir ao terceiro andar, para uma cirurgia de quatro
horas infinitas. É uma dor que nos mostra o quanto somos indefesos, nesta vida
que por vezes a desleixamos, ingenuamente imprudentes.
Hoje feriado, fomos visitar o Azevedo!
Tristes e prontos a dar a moral mais elevada possível,
a um colega que desde que cá chegou, não tem tido a sorte que lhe é merecida.
Lá o
encontramos, com as marcas bem visíveis de uma cirurgia que por pouco não lhe
roubava a ainda elevada alegria, em continuar a viver esta vida.
Foram momentos apertados, para lhe dizer algo
que fosse.
Mas momentos depois a alegria voltou e no
meio de piadas já banais. Sentimos que o Azevedo estava feliz por nos ver e
sentir como nos apercebemos, que cá estamos, para tudo o que necessitar e
regressamos com a certeza que o colega rapidamente recuperará.
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